ORIGINALIDADE É ISSO AÍ - PARTE 2
Na semana passada J. Ramos Tinhorão comentou comigo sobre a extrema dificuldade que os estadunidenses (viu como é fácil?) têm de reconhecer sua própria música ao ser interpretada por outros. Realmente, lá é o melhor lugar para se vender geladeira a esquimós - basta lembrar os Rolling Stones revendendo (nem sempre com os devidos créditos) canções de blues, gospel e outros gêneros ianques nativos para o mais jovem público do lugar (é claro que Mick Jagger ser jovem, branco e charmoso também ajudava). Nesta conversa com Tinhorão lembrei-me de um excelente livro sobre o rock inglês, The British Invasion de Nicholas Schaffer; um dos raros erros do livro é Schaffer não ter reconhecido canções folclóricas de seu próprio país, os EUA. Ao produzir o primeiro LP dos Kinks, Shel Talmy não tive dúvida em pinçar duas canções folk gravadas pela cantora Odetta e impingi-las ao grupo (bem como a outros artistas cujos discos produziu, como o Who e os Sneakers), inclusive assinando-as como composições próprias - às quais Schaffer se referiu em seu livro como "inanidades compostas por Talmy"! Pois bem, aqui está uma delas, "Bald Headed Woman", com Odetta.
Odetta - Bald Headed Woman
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Para muita gente vai ser uma experiência nova ouvir a gravação original de "Negue", o samba-canção de Adelino Moreira em parceria com o radialista Enzo de Almeida Passos, após o grande sucesso da regravação de Maria Bethânia e, especialmente, após a desconstrução do Camisa de Vênus. Aqui está a gravação, com o cantor Roberto Vidal.
Roberto Vidal - Negue
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Um caso oposto, de regravação que ficou mais bonitinha, é o da canção "Vida De Operário", regravada pela Patife Band e pelo Pato Fu. Comparem com o registro original, da banda punk Excomungados.
Excomungados - Vida De Operário
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ROCK E OS CASOS PERNAMBUCANOS
A partir de 10 de julho poderei cantar com propriedade o lado-B original de "Viola Enluarada" de Marcos Valle. É esse mesmo, "Pelas Ruas Do Recife". Sim, estarei lá participando de uma exposição do Arquivo do Rock Brasileiro, do qual sou honrosamente o curador. O evento vai do próprio dia 10 a 16 e acontecerá no L4 do Plaza Shopping. (Sim, cabe também uma parodiazinha, algo como "acordei e vi que estava em Pernambuco/fiquei mais maluco quando o rock passou".)
É claro que aproveitarei para pesquisar "in loco" sobre o rock pernambucano, que merece ser tão lembrado quanto o rock baiano, o gaúcho, o mineiro, o brasiliense etc., a exemplo do que fazem os bons estadunidenses. (Isso mesmo, repita comigo: estadunidenses. Umas cinco repetições e fica mais fácil que dizer "americanos", é como aprender a tocar guitarra direito, basta exercitar.) O que eles fazem é respeitar as características de cada região (o rock de Seattle é mais pesado, o de Chicago é mais r&b, o do Sul é mais caipira, no Oeste é mais surf etc.) porém sabendo se preservar como um país com unidade.
O rock pernambucano merece ser lembrado não só por suas origens, até os anos 1970 (Lula Côrtes, Reginaldo Rossi, os Gentlemens - assim mesmo, dariam para encarar um grupo de que ouvi falar nos anos 1970 na revista Rock, A História E A Glória, Ingeção na Veia, com "g" - , Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Robertinho de Recife, Lailson, Ave Sangria, Marconi etc.), mas também por artistas mais novos, tanto os manguebeatinos dos anos 1990 (Nação Zumbi, Mundo Livre S/A quanto a novíssima geração, que inclui vários de meus vizinhos num tributo aos Beatles ora em preparo (aguardem detalhes em breve!), como Parafusa, Nuda e Novanguarda. Temos aqui também mais uma demonstração de minha "teoria do pingue-pongue": o baião influenciou sobremaneira o rock (especialmente graças ao impulso de outro grande pernambucano, Luiz Gonzaga) e por sua vez teve dele grande influência. Brevemente masi novidades sobre o assunto aqui e em www.arquivodorock.com.br