AUTO-REFERÊNCIA AQUI EU POSSO: RETROSPECTIVA PESSOAL DE 2015
2015 foi para mim um baita ano –
pura e simplesmente, um dos melhores e mais produtivos até agora, um dos anos
em que mais iniciei novos e bons projetos e conheci (e reencontrei) mais gente
boa. “Conta tuas muitas bênçãos!”, diz o hino, e é o que venho fazer aqui todos
os anos – sim, “contar” em ambos os sentidos, narrar e enumerar, numa tarefa
agradavelmente árdua de resumir tanto em espaço permitido pela auto-referência
justificada.
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
Aprendi na vida a não usar com intenção ofensiva ou
pejorativa palavras como “velho”, “caipira” “cachorro”, “porco” e “palhaço”.
Afinal, já tenho uma certa idade e pretendo ter mais, escrevo também sobre
animais de estimação, fui criado no “interiorrr” paulista e já estou entrando
no quarto ano de minha carreira de circense – não como palhaço (como talvez
seria de se esperar), mas músico de charanga.
Em 2009 o Centro de Memória do Circo, entidade paulistana
mantida pela Prefeitura e dedicada a pesquisa, preservação divulgação da
história e saberes circenses (primeira instituição do gênero no Brasil), me
encomendou uma pesquisa sobre música e circo. Quando percebi, eu havia feito a
primeira grande pesquisa sobre o assunto até mesmo em nível mundial, com
gravações do fim do século 19 ao início do 21 e dos mais variados gêneros e
países, e me tornei uma das pessoas consultoras da exposição permanente Hoje
Tem Espetáculo do CMC (ah, sim: para quem não sabe, fica na Galeria Olido, no
centro de Sampa.)
Meu envolvimento com o circo estava apenas começando. Em
2012 fui convidado a participar como violonista e, ocasionalmente,
contrabaixista numa temporada do Circo Pindorama, numa parceria do CMC com o
Teatro Oficina (que cedeu o espaço, na Praça Pérola Byington) e o Bixigão
(projeto social para crianças de rua). Sim, já posso falar: além de compositor,
escritor, pesquisador, radialista e tradutor, sou também circense, nas áreas de
música e pesquisa. E participo, inclusive como uma das pessoas fundadoras, de outro belo projeto do CMC: o Sarau Café do
Circo. Muito mais que "apenas" um museu de tradições circenses, o CMC é um espaço
vivo, onde pessoas artistas, pesquisadoras e interessadas se reúnem para
confraternização e eventos diversos como homenagens, lançamentos de discos e
livros, exibição de filmes e shows, incluindo este Sarau Café do Circo, evento
mensal criado no começo de 2015 com sucesso (e fizemos parte da Virada Cultural –
foi, por sinal, minha primeira participação neste projeto anual da Prefeitura
de Sampa). Foi graças ao Sarau do Café do Circo que me tornei amigo e colega de
trabalho de Alessandra Siqueira (trombonista e a palhaça Silueta), Edmeia
Memeia (atriz), Joy Domingoz (equilibrista), Levi Orion (malabarista e músico),
Mafê Vieira (a palhaça Mendiva), Manu Muniz (pintor), Nina Sprovieri (atriz e
malabarista) e Viviane Figueiredo (a palhaça Espalha-Brasas), além de Amercy
Marrocos (quituteira e atriz), Mayran Marrocos (atriz e malabarista), a artesã Marília Pereira, a dupla de palhaças cantoras Mariana Gabriel e Juliana Mattos, a Trupe Um
Kilo E Meio De Variedades (dupla dos palhaços e músicos Julio Fuska e Erickson
Almeida, o Herolino) e da banda Cabaré Três Vinténs. Afirmei e
repito: poucas vezes conheci tanta gente boa artista de uma vez só.
(Na foto, da esquerda para a direita: Levi Orion, Joy Domingoz, Edméia Memeia, Viviane Figueiredo, Alessandra Siqueira, Mug, Nina Sprovieri, Verônica Tamaoki e a dupla de palhaçaria Kerouac, participante desta edição do Sarau Café do Circo. E este painel foi feito por Marília Pereira.)
E há dois anos Verônica Tamaoki, diretora do CMC e coordenadora e apresentadora do Sarau Café do Circo, sugeriu-me
pesquisar e escrever um livro sobre a música brasileira e o circo; pois bem, já
tenho pronta boa parte do texto, acho que ainda nesta década o livro sai. Por
sinal, a própria Tamaoki-san, ela mesma artista circense e referência no circo
brasileiro. vem demonstrando potencial como cantora, até falei sobre isso em minha retrospectiva de 2014 aqui no blog; no Sarau Café
do Circo ela tem cantado mais, e promete cantar mais ainda em 2016, inclusive
com minha honrada parceria. Matte kudasai!
EMPREENDENDO E ACONTECENDO
Em 2015 completaram-se 18 anos de amizade e parceria com a
cantora, compositora, fonoaudióloga e esteticista Vera Mendes, com muitas
gravações, shows e palestras. No fim de 2014 ela me convidou a participar de um
evento sobre empreendedorismo, e ao começar 2015 tornei-me parte do projeto. Eu
e Verona tivemos a ideia de unir música e empreendedorismo, para demonstrar que
o mundo dos negócios não precisa, nem deve, ser uma coisa árida sem diversão,
tão-somente prazos, planilhas e livros-caixa. Compus então uma série de canções sobre música e empreendedorismo, e
Verona idealizou um projeto de eventos em empresas sobre o tema; chamamos o
projeto de Empreendedores Urbanos, e uma amostra está aqui. Tivemos a
assistência de André Furkin, empreendedor por excelência e então vinculado à
Associação Comercial de São Paulo. Como demonstração, compusemos um jingle para
o Magazine Luiza, e o mostramos pessoalmente para a própria Luiza Trajano, a
dona da empresa, num evento do Núcleo Saúde & Bem-Estar do Programa Empreender da Distrital Norte da ACSP, realizado na Mega Loja do Magazine Luíza na Marginal Tietê; confiram o vídeo aqui.
(Na foto: Luiza Trajano, uma integrante da equipe do evento - pedindo desculpas a ela por eu não lembrar agora seu nome - Mug, Vera Mendes e André Furkin)
Outro novo projeto de uma velha amiga e parceira para o qual
fui convidado em 2015 foi o Movimento Chega De Homem, criado por Tereza Miguel
e dedicado a eliminar não o sexo masculino e sim o machismo na língua portuguesa - aquela coisa de se referir a 99 mulheres e um homem como "eles". Dizer "elas" seria o erro oposto; o certo seria dizer "99 mulheres e um homem", "100 pessoas", sem favorecer um sexo nem o outro. Estamos com uma página de discussão (sem brigas) no Facebook; é esta aqui.
DIZ-ME COM QUEM FAZES MÚSICA
Sempre digo que a era dos festivais passou, e agora estamos
na era dos saraus, de música, poesia ou ambas. Em 2015 completaram-se 13 anos
do Clube Caiubi de Compositores (de cuja diretoria sou integrante), e muitos
outros eventos paulistanos têm feito sucesso para quem procura música diferente
da divulgada pelas rádios e TVs comerciais, como Sarau da Maria, o Sarau da Casa Amarela, o
Sarau da Casa das Rosas e o Via Sarau. Tais eventos, aliados ao velho e bom
Facebook, têm sido boas ferramentas do destino para que eu forme boas
parcerias, o que aconteceu com uma boa frequência em 2015. Destaque especial
merece ser dado à cantora, atriz e produtora carioca Nadja Bandeira, com quem comecei a
compor e gravar, e ao letrista niteroiense Celso Madruga, parceiro de Nadja na
outra ponta da Via Dutra e com quem também já estou compondo.
(Na foto: Mug e Nadja Bandeira)
Ainda em 2015
Givly Simons, um cliente meu de LPs, disse-me que era cantor e compositor e me
convidou para participar de um disco dele; gravei, ele gostou, mas o fonograma
permanece inédito. Givly tornou-se bem mais conhecido como Figueroas, revelação
da lambada satírica. E pessoas amigas me convidaram para tocar com duas
cantoras que merecem ser mais conhecidas: a roqueira Samara Noronha (que tem
alguns clipes por aí) e a MPBzeira Márcia de Carvalho. Descobri também o potencial de
uma amiga poetisa, Silvia Palaia, que como eu é fã da obra de Chico Buarque, e transformei
um poema dela numa canção que pode ser ouvida nesta gravação demo caseira aqui.
{Na foto: Mug e Silvia Palaia)
Na foto: Mug com o compositor Arnaldo Afonso e a cantora Márcia de Carvalho)
(Na foto: Mug e Samara Noronha no Sensorial Pub, em evento promovido pelo lendário jornalista Humberto Finatti; na ocasião cantei meu hit inspirado nele - esse mesmo, "Rebelde Sem Alça.")
Tornei-me também parceiro de duas pessoas companheiras do
Caiubi cujas obras eu já admirava: o compositor Walter Zanatta e a poetisa
Claire Feliz Regina – ainda não consigo acreditar que fui a primeira pessoa a
ver o potencial musical dos poemas desta dama incrível, muito menos que fui
para ela o que Adoniran Barbosa foi para Hilda Hilst (o bardo do Bixiga musicou
poemas de HH antes de Zeca Baleiro haver nascido).
(Na foto: Mug e Claire Feliz Regina com poema dela recém-musicado por ele em pleno Sarau Sopa de Letrinhas)
Já posso dizer que toquei
com o lendário Loop B., numa de suas participações no Sopa de Letrinhas, o sarau
lítero-musical do Caiubi, Fiz minhas primeiras gravações com outra velha amiga
de Caiubi, a cantora e compositora Célia Demezio. E enquanto algumas parcerias são imediatas, como estas que citei, outras levam tempo, como uma canção em
parceria com Walter Franco, que iniciamos lá em 1988-89 e que terminei agora em
2015; o próprio Walter gostou e aprovou, embora não se lembrasse da meia
melodia e do verso (dentre os oito) que contribuiu, chegando a brincar: “essa
é uma das mais belas músicas que eu não fiz”.
E mais uma vez participei, ao lado de meu filho Ivo, do Bloco
da Mata que Resta, onde ele mora, em Cotia; desta vez toquei violão em vez de
percussão e convidei o velho parceiraço Wilson Rocha para animar ainda mais a
festa tocando cavaquinho.
30 ANOS DE MIM A ESMO
Será que só eu percebo a frase "tudo está fazendo
trinta anos" de Gabriel Garcia Marquez como sendo irônica? Para mim, em
2015 esse “tudo” significou 30 anos de minha primeira viagem de avião, primeira
ida ao Rio de Janeiro, estréia em jornais (O Pasquim, Cruzeiro do Sul de Sorocaba),
primeira canção gravada em disco (a “Os Metaleiros Também Amam” do Festival dos
Festivais, parceria com Carlos Melo), estreia do programa Rádio Matraca e do
lançamento de minha grande pesquisa sobre festivais de música (publicada no
Cruzeiro do Sul). Muito bem, mas eu, não sendo de descansar sobre lauréís nem
de querer voltar ao passado, preferi usar tempo e energia de comemorações para
continuar produzindo. Melhor que lembrar os 30 anos do Rádio Matraca foi saber
que ele se tornou, ao lado de O Samba Pede Passagem de Moisés da Rocha, campeão de audiência da
USP FM (inclusive em 2015 tivemos pessoas convidadas ilustres como o músico Pedro
Baldanza, o produtor Antonio Celso Barbieri, a cantora Claudya e a banda Cracker
Blues). E melhor que lembrar os 30 anos do Língua no Festival dos Festivais é poder
dizer que o grupo tem boas novidades para 2016 – e que em 2015 eu voltei a ser
integrante do grupo como compositor. (Sim, mudanças na vida implicam também em
retornos, e outro retorno meu de 2015 foi à equipe de crítica de música popular
da APCA.)
(Na foto: o pessoal do programa Rádio Matraca - Mug, Laert Sarrumor e Alcione Sanna - ladeando as cantoras Claudya e Grazi Medori; vale lembrar que estas não são irmãs e sim mãe e filha.)
APLICANDO A TEORIA DOS CONJUNTOS
Não sou saudosista (inclusive tenho algumas canções
anti-nostalgia, como “Você Se Lembra De Mim?” e a ainda inédita “Voltas E
Voltas”), embora eu goste de guardar o bom do que eu vivi. Mas nada tenho
contra tocar musica antiga de que eu goste, especialmente se não forem os
chavões que todo mundo toca. Em 2015 fui convidado a integrar uma banda
dedicada ao pop-rock dos anos 1950 ao comecinho dos 1990. A banda inclui dois
amigos com quem já fiz música em outras décadas; um deles não sabia que era eu
o “baixista chamado Ayrton” que o outro convidou. Além de mim, a banda inclui Alvaro Telles (bateria),
Newton Bardauil (guitarra), José Roberto Curitiba (teclados), sua esposa Lucimara
Curitiba (vocal e percussão) e Fábio Ferre (vocal e guitarra), e aceitaram um
nome que sugeri, The Vintages. Já fizemos alguns shows na casa Tonton Jazz e na
Pizzaria ZioVito, aqui em Sampa; haverá muito mais, começando por outro no Tonton
em 20 de fevereiro próximo.
(Na foto: Mug em ensaio da banda The Vintages)
Não sou saudosista, mas sou conjunteiro. Marcos Mamuth, guitarrista
e eu companheiro de Caiubi, resolveu montar um trio de blues-rock, e convidou a
mim e ao baterista Carlinhos Machado. No terceiro ensaio já estávamos prontos
para encarar barzinhos, com clássicos menos
óbvios de blues e r&b e composições minhas e de Mamuth, uma ou outra
inclusive parceria de ambos. E quem batizou o grupo foi Mamuth: Trio Sem Nome.
(Na foto: Mamuth, Machado e Mug no primeiro ensaio do Trio Sem Nome - sim, poderia ter sido Trio MMM.)
NO MAIS, MUITO MAIS...
Meu jingle para a loja Baratos Afins foi regravado
por Pedro Ivo Salvador e Lillian Lessa, da banda alagoana Messias Elétrico (que
inclui ex-integrantes do Mopho, homenageado por mim na canção “Metamophose” em
2000); confiram minha versão original de 1979, minha regravação de 1984 e a versão desta dupla das Alagoas.
Revi pessoas como Clovis Ribeiro, da Rádio Butantã e colega de Caiubi; Próspero Albanese, ex e eterno vocalista do Joelho de Porco (que fez um belo show no Auditório Elis Regina, em São Bernardo, produzido pela nunca demais lembrada Nadja Bandeira, que desmente a letra de "Rio De Janeiro City"); a cantora e compositora Dhara Mammana, uma da fundadoras da Rede Solidária da Música Brasileira, uma das precursoras do Caiubi. Não esquecendo novas amizades como Mônica Ananias, Marlene Vieira, Giannis Zaharopoulos, Rhaéli Rocha Lopes e Tania Amaras.
(Na foto: Mug e Próspéro Albanese após o show deste no Elis Regina de SBC; a foto é de Bolivia & Catia, casal amigo nosso.)
(Na foto: Mug e Clóvis Ribeiro na Rádio Butantã)
Sem falar no trabalho como tradutor oficial (conhecido popularmente como "juramentado") português-inglês, para um tantão de documentos oficiais e outro de casamentos civis. Much fun indeed.
(In this picture: Mug at the São Miguel Paulista notary office.)
Speaking of English, que este ano seja realmente "sweet sixteen" para todos e todas. Sigamos em frente, pois 2016 promete mais - inclusive por ser bissexto. Como diz Tom Zé: "Dezesseis, ô, ô, dezesseis, ô, ô, dezesseis..."
(Na foto: Mug num dos saraus do Caiubi. Ah, sim: o chapéu foi presente da banda The Vintages e realmente ficou bem.)