MINI BLOGUE DO BIG MUG
Wednesday, June 01, 2016
Pesquisa musical já é interessante (ao menos para mim), e fica mais
interessante ainda quando pesquisamos sobre um assunto e de repente descobrimos
algo que serve também para outra pesquisa paralela ou até outras.
Muita gente deve conhecer a frase "pare o mundo que eu quero
descer" de um hit de 1976 de Silvio Brito, no estilo de Raul Seixas - e
que até foi citado em "Eu Também Vou Reclamar" deste último no ano seguinte
(Silvio já havia mencionado Raul em “Tá Todo Mundo Louco”, e o resultado foi uma “briga”
musical de brincadeira, versão roqueira e mais benigna da polêmica Noel Rosa x
Wilson Baptista). Pois bem, a frase "pare o mundo que eu quero descer" havia começado a fazer grande sucesso na
música popular graças a uma peça musical inglesa deste título, Stop The World -
I Want To Get Off, lançada em 1961, e cujos autores (Anthony
Newley e Leslie Bricusse), ao que consta, haviam lido a frase numa pichação.
Mas o importante é que este musical foi o primeiro produzido fora do circo a
unir temática e cenário circenses (além de um dos grandes sucessos de Anthony Newley,
ator e cantor que foi uma das maiores influências de David Bowie) - sim, este artigo nasceu de minha.famosa e homérica pesquisa sobre música e circo.
E esta nunca
por demais referida frase foi usada pelo circo pelo menos mais uma vez, na
marchinha carnavalesca “Pára O Mundo Aí” (mantive o acento porque “Para O Mundo
Aí” quer dizer outra coisa), lançada por Arrelia e Pimentinha em 1964.
E, com ou sem pichação, a frase “stop the world and let me off” já
havia sido usada em música antes deste musical londrino pelo menos duas vezes,
num rhythm & blues composto por Jerry Joyce (com Hal Winn e Arnold
Koppitch) e lançado pelo inglês Don Lang em 1956 (com crédito no disco somente a “Joyce”;
descobri a autoria completa aqui) e num rockabilly composto e lançado por Carl Belew em fins de 1957 e
regravado com sucesso (embora menor que o musical de Newley e Bricusse) por vários artistas country, incluindo Waylon Jemmings, Patsy Cline e a dupla Johnny & Jack.
Vale registrarmos outras canções de sucesso com o mote “pare o mundo
que eu quero descer” (mas o mote completo; canções que dizem apenas “Stop The
World”, como a do Clash, não valem) com artistas os mais diversos.
No Festival de
San Remo de 1963 (não 1967 como dizem algumas fontes) tivemos a charmosa bossa
nova “Fermate Il Mondo” (sim, o refrão diz "fermate il mondo, voglio scendere"), composta por Bruno Canfora e Dino Verde. (O mote também
deu título a uma pornochanchada de 1970 estrelando-lando-lando-Lando Buzzanca e exibida no Brasil em 1974.)
O povo inglês adora tal mote, como atestam as bandas Stone Roses (no refrão de “What
The World Is Waiting For”, lançada em 1989) e Arctic Monkeys (2013) e o malucão ex-danado
(ex-Damned, got it?) Captain Sensible (“Stop The World”, 1983).
Dos EUA,
podemos citar por ora a banda Extreme (1992) e o grupo de soul-funk The Flaming
Ember (1971), com “Stop The World And Let Me Off” “escondida” no lado-B de
um dos dois maiores hits brasileiros do grupo, “Robot In A Robot’s World” (sim, o outro é “Westbound No. 9”).
Nota-se que este disco de Silvio Brito atende também a três outros
assuntos de meu interesse: rock brasileiro, festivais de música e canções de
sucesso que também nasceram “escondidas” em lados-B de compactos, como “A Namorada
Que Sonhei”, “Me Deixe Mudo” e “Primavera (Vai Chuva)”. E, por falar em compactos,
quase todos os que exibi neste tópico vieram da maravilhosa página 45cat, que visa
reunir todos os compactos de vinil lançados desde Adão e Eva até hoje – pelo jeito,
vai conseguir, e sem demorar muito...