MINI BLOGUE DO BIG MUG
Wednesday, June 25, 2014
Resolvi pesquisar sobre uma
canção pop que fez muito sucesso nos idos de 1971, “Oh Oh La La La”, um
bubblegum à Carlos Santana. Quem estava lá se lembra: era um compacto da
Polydor creditado a Washington D. C.. E levei apenas pouco mais de quarenta
anos para descobrir que a gravação é um cover de um disco que ainda não havia
saído.
O que estás lendo resulta não só
de minhas pesquisas em lojas e sebos por aí, mas também de conversas com duas
pessoas cantoras participantes do Washington D.C., Suely Chagas e Pedrinho
Autran, e da leitura do livro Banda De
Milhões do jornalista e empresário Tom Gomes. Muitos e muitas de vocês já
devem saber que quem gravou “Oh Oh La La La” primeiro foi a banda paulistana
Lee Jackson, na verdade ainda um projeto em formação com integrantes da banda
Memphis, também em 1971 (a banda só iria estabilizar formação e fazer grande
sucesso, a partir de “Hey Girl”, no ano seguinte), e a composição é de
“August/Duncan”, ou seja, Otávio Augusto (futuro Pete Dunaway) e Robert Duncan
(escocês radicado no Brasil). O disco do Lee Jackson foi lançado pela gravadora
Ebrau, que logo fecharia as portas (mas que merece um estudo em separado, tendo
lançado discos de artistas como Mickael, Rai & A Máquina, Joe Bridges e
outros, muitos dos quais gravavam em inglês, e talvez tenha a ver com a
Tapecar, surgida na mesma época). Enquanto o disco do Lee Jackson não saía, as
rádios receberam cópias em acetato (o saudoso avô analógico dos CDRs de hoje) –
justamente quando surgia um novo “grupo fantasma” paulistano cantando em
inglês, o referido Washington D. C..
O Washington D. C. foi uma
brincadeira de Liminha (à guitarra) e Dinho Leme (bateria) paralela aos
Mutantes, ao lado de Pedrinho Autran (vocal, ex-Kompha e ex-Top Sounds), Tobé
(sim, o co-autor de “Suicida” e “Não Vá Se Perder Por Aí”), Régis (tecladista
dos Tremendões de Erasmo Carlos), Suely Chagas (ex-Teenage Singers) e outros,
gravando no estúdio de José Scatena, na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, com
produção de Manoel Barembeim. Ao contrário do Lee Jackson, Light Reflections e
outros artistas surgidos em 1970-72 cantando em inglês, o Washington D. C. não
se preocupava com repertório próprio, e para as gravações preferiu garimpar
canções pop internacionais. No caso, o único disco do grupo com o nome
Washington D. C. reuniu “King Horse”, cover da banda holandesa Mr. Albert Show (vocês
conhecem? Nem eu), e, no lado A, a citada “Oh Oh La La La” – que Pedrinho
Autran escolheu ao ouvi-la no rádio, ainda em acetato, pensando que fosse
estrangeira!
O disco do Washington D. C. saiu
pela Polydor, a mesma gravadora dos Mutantes, e muito mais poderosa que a Ebrau
de Lee Jackson, cujo disco só saiu depois – Pedrinho se diverte ao lembrar que
Marcos Maynard, do Lee Jackson, ameaçou surrá-lo de brincadeira por seu disco
ter saído na frente... E o Memphis terminou o ano de 1971 com seu primeiro grande sucesso, justamente outro bubblegum santanesco, "Sweet Daisy".
O único compacto do Washington D. C. foi um dos últimos da
Polydor a serem lançados em mono, mas “Oh Oh La La La” foi lançada em estéreo ainda
em 1971 numa coletânea maluca da Polydor, Misto
Quente, que reuniu Tim Maia, os Mutantes, Ronnie Von. Music Machine (não a
banda garageira estadunidense e sim um grupo de estúdio reunindo Willy
Verdaguer, Tony Osanah e outros), Tin Tin, Van Morrison, Marcos Pitter, The Bells (não nossa banda de iê-iê-iê e sim um simpático grupo pop canadense)... Sim,
o LP faz jus ao título.
Logo em seguida, a mesma turma
(mas com outro nome, The Funky Funny Four) gravou no mesmo estúdio e com o
mesmo produtor (mas para outra gravadora, a Young/RGE) um LP só de covers de
sucessos internacionais do momento, incluindo Arnaldo e Sergio Dias Baptista
nos vocais e Lanny Gordin tocando guitarra-solo numa faixa (e dando origem ao mito
de que a Funky Funny Four seria “banda de Lanny” – mas o LP não deixa de ser
interessante para colecionadores de Lanny e completistas de Mutantes).
A saga de “Oh Oh La La La” não
parou aí: há pelo menos uma terceira gravação do tema, por uma banda chamada
The Nice Crazies e sobre a qual até agora só sei que nada sei, provavelmente
carioca, que gravou em 1971 na gravadora Discnews (a mesma que lançou os
primeiros sucessos de Martinho da Vila) um LP intitulado Meu Álbum Favorito (relançado pela Cartaz como As Favoritas por volta de
1973) e que, para um “álbum favorito”, bem poderia ter cuidado um pouco mais da
afinação da guitarra... Culpem Expedito Alves, produtor e única pessoa (além da
autora da capa) creditada no disco. E confiram a trinca de gravações de “Oh Oh La La La” (inclusive a gravação do Washington D. C. foi tirada do referido LP Misto Quente).
(Ah, respondendo a uma pergunta que muita gente faz:
Pedrinho Autran é parente do grande ator Paulo Autran (1922/2007)? Sim, é seu sobrinho.)