O QUE ME CONTAS! TOPO GIGIO NO BRASIL
Vejamos o que este simpático ratinho tem a ver com Armando Pittigliani, Arquimedes Messina, Caetano Veloso, Carlos Imperial, Célia & Celma, Crispin Del Cistia, Eduardo Assad, Erlon Chaves, Laert Sarrumor, Mister Sam, Piti, Ricardo Petraglia, Silvinha Araújo, Vivian Costa Manso... E temos até notas de pé de página!
O
rato é um bichinho que merece um texto destes e um especial na Rádio Matraca só
para ele. Esforçado e empreendedor, ágil e oportunista, deu, porém, o mesmo azar do
porco, virou sinônimo de bicho sujo por conviver em ambientes sujos que nem foi
ele quem sujou, mas, ao contrário do porco, não ganhou a reabilitação de
figurar na culinária ocidental (exceto num disco do Black Sabbath) e causa uma
mistura de repulsa e fascínio, odiado na vida real e amado na ficção: serve de
cobaia em laboratório, foi mercadoria durante a peste bubônica no Rio, inspirou
poema de Robert Burns que nomeou romance de Steinbeck, deu nome à turma de
Frank Sinatra, ganhou ode de Chico Buarque, seguiu flautista e se deu mal, estrelou
filme com tema cantado por Michael Jackson, em outros filmes ruge e está na
Lua, na Disney é mestre-cuca ou ajuda Cinderela, faz punk no porão, fazia choro
e humor com jararaca, está na rota de São Paulo, canta seresta no grupo Palavra
Cantada, toma banho e lava o querido pé, foi mote do primeiro rock brasileiro
para o público infanto-juvenil, deu nome ao segundo disco-solo de Frank Zappa
e ao estúdio que criou capas de discos para a banda Grateful Dead, sempre tem café
no bule, ajudou a vender grande jornal paulistano, é acessório de computador,
virou sobrenome italiano e inspirou vários amigos nossos de gibis e desenhos
animados como Mickey, Jerry e Espeto, Ignatz, Super-Mouse, Rato Minuto, o Sig
do Pasquim, Níquel Náusea e aquele que talvez seja, além de Jerry, o único rato
que nunca mudou ou traduziu o nome conforme o país em que fez sucesso (1): Topo Gigio, o famoso “ratinho com
alma de criança”, híbrido de fantoche com marionete que se tornou astro de
televisão, filmes, desenhos animados, discos, gibis e até da música popular.
O foco principal deste artigo é a presença de Topo Gigio no Brasil, onde lembraremos que ele teve assistência direta ou indireta de grandes produtores como Carlos Imperial, Armando Pittigliani e Mister Sam, eméritos profissionais do humor como Agildo Ribeiro e Laert Sarrumor, cantores e cantoras como Célia & Celma, musicistas como Eduardo Assad e Crispin Del Cistia, figuras estelares do rock como Ricardo Petraglia e Vivian Costa Manso, compositores como Arquimedes Messina, Leonardo Bruno e Piti (sim, o astro mais obscuro da baianidade tropicalista)...
DA RAI AO “HI”: ORIGEM E SUCESSO
Os textos sobre Topo Gigio na Wikipedia estrangeira e em sua própria página oficial italiana, em termos informativos, têm mais buracos que um queijo suíço; procuro agora fazer o resumo mais exato possível dos primeiros dez anos da carreira de nosso amigo.
Topo Gigio foi criado na Itália em 1958 pelo escritor e diretor de TV Guido Stagnaro (1925/2021) em parceria com a marionetista Maria Perego (1923/2019) e seu marido Federico Caldura (1923/1975). Em 11 de fevereiro de 1959 o ratinho estreou na televisão (2), na emissora RAI, dublando a canção cômica “La Sveglietta” (“o despertador”) de Domenico Modugno (3) em rotação acelerada – sim, à moda de Alvin e os Esquilos; em 1961 Peppino Mazzullo (nasc. 1926) assumiu a voz de Gigio, tarefa das mais agradáveis que ele desempenhou até 2006. Sim, faltava Topo Gigio ter uma voz para fazer sucesso, e sucesso ele começou a fazer justamente em 1961, com discos, filmes e cada vez mais espaço na televisão.
Topo
Gigio é mais uma prova de que desde os anos 1930 a grande porta para o sucesso
mundial são os EUA, ao lado de Carmen Miranda, Beatles, Elvis... Walt Disney e seu
Mickey Mouse foram influência para Gigio até num acaso feliz: a produção do
programa do apresentador de TV Ed Sullivan (1901/1974) – sim, um Silvio Santos
estadunidense – achou que a participação de Gigio no Ed Sullivan Show seria perfeita para concorrer com o programa The Wonderful World Of Disney logo que
este mudou para domingo à noite. E foi perfeita mesmo: Topo Gigio – que, por
sinal, tinha mais movimentos corporais que o simpático mas paradão Ed Sullivan
– agradou tanto desde a estreia, em 9 de dezembro de 1962, que se tornou
habituê do programa, inclusive na despedida deste, em 6 de junho de 1971. Tendo
conquistado uma das grandes Américas, chegou a vez de Topo Gigio conquistar a
outra; em 1968 veio à Argentina e ao Uruguai, e no ano seguinte foi a vez do
Brasil. A “gigiomania” tinha tudo para fazer sucesso aqui, e faz até hoje.
“MOÇA
BONITA NÃO PAGA MAS TAMBÉM NÃO BEBE”: SUCESSO NO BRASIL
Topo
Gigio chegou ao Brasil em grande estilo, tratado como superastro que era: contratado
pela Philips, uma das maiores gravadoras brasileiras (4), e pela Rede Globo de Televisão, que começava a surgir como
grande potência, inclusive recém-tornada rede de emissoras – além de ter uma
revista de histórias em quadrinhos pela então poderosa Rio Gráfica e Editora (5) e um fantoche fabricado pela
Estrela. (E uma fábrica de pratos plásticos, ao perceber que a chegada de Topo
Gigio ao Brasil chamava mais atenção que a chegada do ser humano à Lua, lançou
pratos com a imagem de Gigio astronauta...) Sendo o Brasil um país onde tudo
tem versões oficial e não oficial, não demorou para as lojas e ruas estarem cheias
de produtos com a imagem de Topo Gigio sem nem pensar na devida autorização, o
que motivou este anúncio em toda a imprensa no primeiro dia de junho de 1969:
A estreia de Topo Gigio na televisão brasileira foi no programa Mr. Show, ao lado de Agildo Ribeiro (1932/2018), em 9 de maio de 1969 (6); em 28 de novembro de 1970 ele estreou programa próprio, Topo Gigio Especial, que durou até 6 de fevereiro de 1971.
(Anúncios
de jornal no Estado de São Paulo nos
dias 13 e 20 de março de 1970 proclamam que Topo Gigio e
Agildo receberiam no programa Mr. Show
pessoas convidadas como ninguém menos que Stevie Wonder - ou “Stivie”, como diz
o anúncio – e Aretha Franklin. Duetos com Stevie e Aretha seriam rotina para
quem já havia contracenado com celebridades como Ed Sullivan, Gina
Lollobrigida, Petula Clark e Louis Armstrong nos EUA e na Itália. Só que este
que vos tecla nada encontrou sobre a presença de Stevie Wonder no Brasil antes
de 1971 ou de Aretha Franklin em qualquer tempo (embora com várias vindas
anunciadas dos anos 1960 a 1980) – , muito menos sobre este passeio com Topo
Gigio à Disneylândia; deduzo então que estes anúncios devem ter sido obra de pessoal
publicitário entusiasmado demais...)
E os dois primeiros filmes longa-metragem de Topo
Gigio chegaram ao Brasil quase ao mesmo tempo, acompanhando o começo de seu
grande sucesso por aqui. As Aventuras de
Topo Gigio (Le Avventure Di Topo
Gigio, de 1961, rebatizado The Magic
World Of Topo Gigio ao sair nos EUA em 1965) foi lançado aqui em 1969; A Guerra dos Mísseis (Topo Gigio – La Guerra Del Missile/Topo
Gigio No Botan Senso), co-produção ítalo-japonesa desse mesmo ano, chegou
aqui em 1970. (Vi este filme na época, aos 13 anos, e fiquei decepcionado, pois
o filme era arrastado e até proto-tarantinesco – imagine o meigo Topo Gigio
contemplando cadáveres de soldados! Ao pesquisar para este artigo percebi que
não estava sozinho, pois a crítica adulta estrangeira resumiu o filme como “un disastro di critica e pubblico”.)
Muitas gravações de Topo Gigio na Philips, com produção de Armando Pittigliani (nasc. 1934) e arranjos de Erlon Chaves, replicaram na Philips a pilantragem de Wilson Simonal na Odeon (inclusive em regravações diretas como “Meu Limão, Meu Limoeiro” e “Eu Fui No Tororó”) – mas enquanto muita gente se queixava de que boa parte do repertório de Simonal infantilizava a MPB, Topo Gigio não precisava, nem devia, sentir culpa, pois seu público alvo era o infantil (embora muita gente adulta também gostasse); os discos de pilantragem de Topo Gigio eram uma versão para crianças de algo que já era bastante infantil. Por sinal, Armando Pittigliani disse a este que vos escreve (7) sobre estas gravações “pilantras” do ratinho: “Era muito difícil colocar a voz do Topo Gigio – um italiano sem jogo de cintura para interpretar músicas da ‘pilantragem’. Tive de montar a gravação da voz, picotando e emendando a fita com gilete e adesivo!...” Realmente, pedir a Peppino Mazzullo o balanço de um Simonal era pedir demais ao povero, pois nem falar português ele falava, tudo que não fosse em italiano ele lia foneticamente...
“NÃO
CONTROLE”: TOPO GIGIO É UM BOM ASSUNTO
Com tamanha popularidade, Topo Gigio passou imediatamente ao próximo estágio: ele mesmo se tornou um dos grandes assuntos e entrou para o inconsciente coletivo. Ainda em 1969 uma operação de controle de trânsito no Rio de Janeiro foi apelidada de “Operação Topo Gigio”, por ter sido esse o apelido dado a um automóvel “Fusca” especial de quatro portas. E Topo Gigio, tal como Harry Nilsson, fez muito sucesso sem nunca ter feito shows; mas, ao contrário do cantor estadunidense, já em julho de 1969 ele inspirou pelo menos um “Baile do Topo Gigio” realizado na boate carioca Zoom. E a Estrela não estava sozinha em lançar produtos gigianos, pois a Philco lançou um modelo de televisor chamado Topo Gigio. (Sem falar em alguns bares e restaurantes chamados Topo Gigio abertos até hoje pelo Brasil afora.)
Sendo
a música popular cronista das melhores, não poderiam faltar canções inspiradas
no famoso “filho” de Maria Perego. Uma delas é a marchinha carnavalesca
“Beijinho De Boa Noite”, composta pelo grande Arquimedes Messina em parceria
com Roberto Amaral e Domingos Paulo e lançada por Roberto Amaral em 1969 com
sucesso imediato, a ponto de ser cantada em bailes carnavalescos até hoje: “Tá
na hora de fazer naninha/vamos pra caminha...” (8) A letra menciona alguns dos bordões de Topo Gigio mas não seu
nome, o mesmo acontecendo com outra canção nele inspirada, “O Ratinho”, do tão
atento quanto onipresente produto e compositor, jornalista e superagitador
cultural Carlos Imperial (1935/1992) em parceria com Leonardo Bruno (9) e lançada por seu grupo
pilantraginoso Turma da Pesada com destaque para uma dupla de jovens cantoras, Célia
& Celma (10). A princípio, a
canção de Imperial e Bruno teve o título objetivo de “Topo Gigio”, mas surgiu
um porém: Imperial era artista e produtor contratado da gravadora Odeon e quem
estava com os direitos do nome Topo Gigio para uso em discos era a concorrente,
Philips, de modo que o compacto de “Célia & Celma com a Turma da Pesada”
saiu com título um pouco mais sutil, “O Ratinho”, que se revelava sutilmente na
letra: “O que me contas/Eu conheço um rato/Não foge de gato/Sabe até dançar/O
que me contas/Rato assanhado/Muito engraçado/Gosta de cantar/Quem é ele?/Eu não
digo/O ratinho não tem medo de ninguém/Quem é ele?/Eu não digo/O ratinho é meu
amigo também/Tem uma namorada/Não gosta mais de queijo/Sempre diz que tem
vergonha/Só vai dormir depois de ganhar um beijo.”
E
no fim dos anos 1960 “Topo Gigio” foi apelido muito comum para quem tivesse
sido premiado pela natureza com orelhas de abano (inclusive este que vos tecla
logo ao chegar em Sorocaba no segundo semestre de 1969); não me parece ser o
caso de nenhum dos integrantes da dupla pernambucana Patativa e Topo Gigio, que
neste começo de século 21 demonstra ser boa de coco e embolada.
Ser
chamado de “Topo Gigio” por ter orelhas de abano é o de menos. No Brasil a
música popular registra tudo e o humor esculhamba tudo, e Topo Gigio não
escapou de ser satirizado, muitas vezes de forma até brutal num país cuja
“índole cordial” é um mito mais arraigado que o boitatá... Vejam um exemplo
mais recente, publicado na Folha de S.
Paulo em 21 de maio de 1991.
Até
que Níquel Náusea foi gentil com seu tio italiano... Lá em 1969-1971, o jeitão
dengoso de Topo Gigio levou-o a ser chamado pelo jornal Correio da Manhã de “criança retardada” (sem comentários...). A revista Fatos & Fotos chamou-o de “Toppo
[sic] Chato” e declarou que Gigio não combinava com um país onde se torce para
o lobo devorar os três porquinhos. Mas quem pegou pesado mesmo foi o jornal O Pasquim, para quem a meiguice de
Gigio não era sinal de retardamento e sim de homossexualismo. Millôr Fernandes
chamou-o de “Topobicha” e “Topa-Tudo” e afirmou “Topo Gigio não é bicha, tanto
não é que vai ser mãe”. Fortuna disse que Rosy, namorada de Gigio, era “um
travesti”. Via Intelsat, Caetano Veloso mandou dizer que “Topo Gigio é”,
antecipando em décadas a máxima “Quem é, é” do cearense Falcão. Até a atriz Norma
Benguell reclamou de Topo Gigio numa entrevista ao jornal: “eu acho ele um
chato, chatíssimo, eu não aguento, ele me perseguiu na Itália e agora está me
perseguindo aqui”.
E foram os ataques à suposta pouca masculinidade de Topo Gigio que o levaram a contracenar com sua namoradinha Rosy e a atriz Regina Duarte – este que vos escreve se lembra muito bem de ter visto na televisão Topo Gigio compondo ao piano uma canção de amor para ela usando a melodia de “Cidade Maravilhosa”: “Te amo, te amo tanto [...] Regininha, meu amor”... (Sim, esta Regina tinha o mesmo nome, a mesma cara e até o mesmo RG da Regina Duarte de hoje, mas era bem diferente...)
“Vez ou outra, passo na rua e alguém me fala do ratinho. Gente de 45 anos que, na época, tinha 10 e não perdia um programa, ficava alucinado”, lembrou Agildo Ribeiro em 2007. “Até penso em voltar a fazer. Quem sabe a Globo não retira o ratinho das lembranças e o coloca de volta para brincar com o público? Eu faria com o maior prazer. Mas acho que agora os próprios direitos autorais da equipe na Itália devem estar exorbitantes. Fomos convidados para ir até Milão conhecer a dona Maria e a equipe criadora. Eles ganharam muito dinheiro com aquele rato. Que poder um rato tem, hein! Não sei por que me lembra Brasília...” (11)
UM BONECO DE ESPUMA E UM LÍNGUA DE TRAPO: A VOLTA AO BRASIL
Parecia
que a primeira grande temporada brasileira de Topo Gigio seria longa ou mesmo
quase eterna, como foi nos EUA. Mas durou apenas pouco menos de dois anos;
terminado o contrato com a Globo, ele foi embora, e muita gente passou a encarar o personagem
como apenas um modismo passageiro, uma lembrança. Só que uma lembrança das
grandes. Um dia Gigio haveria de voltar... E esse dia chegou doze anos depois
quando Maria Perego e Peppino Mazzullo trouxeram Topo Gigio para um programa na
TV Bandeirantes (que no futuro atenderia também por Band), Boa Noite, Amiguinhos, mas que durou pouco; a volta para valer
aconteceu em fins de 1986, também na Band.
Se na primeira vinda nos anos 1960 Topo Gigio teve
apoio do pilantra-do-bem (pilantra no bom sentido da “pilantragem”, é claro) Carlos
Imperial, neste retorno ele teve de outro, Santiago Malnati (nasc. 1951 – e
“Malnati” com um T só!), dito Mister Sam, compositor e produtor argentino radicado
no Brasil. Maria Perego voltou sem Peppino Mazzullo e à procura de alguém para
fazer a voz brasileira de Gigio. Entra em cena Laert Sarrumor (nasc. 1958),
nada menos que vocalista e líder do Língua de Trapo e também ator e dublador (12). Numa conversa com Mister Sam,
este lhe disse que procurava alguém para dublar o rato, então Sarrumor fez uma
imitação dele – apenas de brincadeira, mas Mister Sam, que nunca foi de jogar
nada fora, registrou Sarrumor como possível candidato; e tão possível que,
quando deu por si, Sarrumor estava fazendo o teste na
produtora Diana Cinematográfica, em São Paulo, e conhecendo Maria Perego pessoalmente ao ir
gravar no Rio de Janeiro (os episódios para televisão foram produzidos pela
Bandeirantes Rio e gravados num estúdio alugado, em Botafogo, de propriedade de
Nelson Rodrigues Filho).
E Sarrumor achou muito interessante trabalhar com Mister Sam: “Eu gravava uma voz, Mister
Sam dizia ‘ficou muito bom’, eu dizia ‘acho que posso melhorar, quero fazer de
novo’ e ele, sempre bonachão, respondia ‘tá bom, faz de novo’... Ele sempre
foi muito correto comigo, devo muito a ele.”
A reestreia brasileira de Topo Gigio aconteceu em 14 de dezembro de 1986, inicialmente prevista para meses antes mas adiada para aproveitar o Natal. E em 1987 tivemos dois LPs de Topo Gigio (pela Discoban, selo da Bandeirantes) os quais, além de Mister Sam na produção e Laert Sarrumor no vocal, tiveram uma banda das boas, e desta vez creditada nos discos. (Dois discos num mesmo ano era por si só um assombro numa época em que a indústria cultural se tornava cada vez mais preciosista e preguiçosa e grandes artistas lançavam discos a cada cinco anos ou mais...). Topo Gigio estava cada vez mais globalizado: algumas faixas eram de discos originalmente lançados na Argentina (produzidos por Mister Sam) e cantados em espanhol, usando-se aqui os mesmos acompanhamentos instrumentais; e as faixas compostas e gravadas no Brasil incluem o guitarrista Crispin Del Cistia, as cantoras Vivian Costa Manso e Silvinha Araújo, o saudoso tecladista Eduardo Assad, o contrabaixista Sérgio Mineiro e o baterista Márcio Werneck. (13) Participaram também Dick Petra – sim, o mesmo Ricardo Petraglia (nasc. 1950) das bandas setentistas Sindicato e Joelho de Porco, mas não contem a ninguém – e, como produtor das gravações brasileiras, seu tio Cláudio Petraglia (1930/2021), nada menos que um dos fundadores da TV Bandeirantes e diretor destes programas brasileiros de Topo Gigio. Sarrumor e Dick Petra aproveitaram alguns momentos de folga das gravações para gravar de brincadeira em dueto paródias de “Como Uma Onda” de Lulu Santos e outros sucessos do momento; alguns destes duetos foram mostrados no programa Rádio Matraca, co-apresentado por Sarrumor na emissora paulistana USP FM. (E já imaginaram Topo Gigio cantando “Conchetta”? Um dia, quem sabe... Afinal, durante sua primeira temporada no Brasil Topo Gigio contracenou com a rainha da radiola, Rita Pavone, no Mr. Show de 14 de maio de 1970, gravado três dias antes...)
(Nos anos 1990 Topo Gigio contracenou com famosa marqueteira infanto-sensual brasileira que não diremos quem é por motivos que também não diremos; de mais a mais, esta aparição em dupla se deu fora do Brasil... Beijinho de boa noite, tchau, tchau!)
MILÊNIO
NOVO, VIDA NOVA: TOPO GIGIO VOLTA EM DESENHO ANIMADO
Topo Gigio quase voltou novamente em 2000, e na Globo, num quadro do programa humorístico Zorra Total ao lado de “Agildinho”, mas desta vez a empresa italiana cobrou muito alto pelos direitos autorais.
O novo milênio trouxe nova volta de Topo Gigio, em
nova parceria Japão-Itália de desenhos animados, com resultados bem melhores
que A Guerra Dos Mísseis (mesmo
porque pior seria impossível). E está para começar nova temporada brasileira,
em forma de novo desenho animado dublado no Brasil, novamente com Laert
Sarrumor fazendo a voz de Gigio; agora no dia 17 de maio ele acabou de gravar
52 episódios. “Esta nova série de desenhos foi produzida
pela RAI e será exibida aqui pelo canal Discovery Kids; a
produtora da dublagem é a Vox Mundi e o diretor de dublagem é Francisco Bretas”, diz Sarrumor, que garante: “É um desenho moderno e ágil.”
E como será a parte musical? “Quase não tem música nesses desenhos, as
poucas que tiveram gravei na Vox mesmo, esqueci o nome do diretor musical. São
breves canções que ele canta no contexto de cada capítulo. Se o desenho fizer
sucesso, com certeza virão os produtos: boneco, brinquedos, revista e,
provavelmente, um disco.” Boa notícia, pois Topo
Gigio no Brasil sem música é como macarrão sem queijo e namoro sem beijinho de
boa noite; aguardemos.
Ah, sim: durante a epidemia de coronavírus, beijinho que não seja de boa noite só com máscara. A diversão de Topo Gigio costuma ter fundo educativo, procurando motivar crianças pequenas a adquirirem manterem bons hábitos de higiene e comportamento – o ratinho até foi nomeado “Embaixador da Boa Vontade” pela ONU e pela Unicef – , e ele participa também de campanha contra o covid; a versão brasileira tem voz de Laert Sarrumor. E ecco l’originale in italiano.
DISCOGRAFIA BRASILEIRA DE TOPO GIGIO
Pois é, rato de sebo que eu mesmo sou, achei que Topo Gigio merecia uma discografia caprichada e atenta daquelas que sempre procuro fazer. Inclusive, segui meu costume de não me limitar a transcrever o que se lê nos discos, procurando corrigir nomes e créditos errados ou incompletos.
Sei de três LPs e quatro compactos duplos (o último destes quase nem sendo lembrado hoje em dia); aqui vão eles, nessa ordem.
Long-plays:
· Topo Gigio (Philips, R 765.092 L, outubro
de 1969)
Lado 1:
“O Velhinho”
(Otávio Babo Filho)
“Meu Limão, Meu Limoeiro”
(Folclore/Adaptação: José Carlos Burle e Carlos
Imperial)
“O Calhambeque (Road Hog)”
(John D. Loudermilk/Gwen Loudermilk/Versão de
Erasmo Carlos)
“O Sole Mio”
(Eduardo Di Capua/Giovanni Capurro)
“Diálogo de Boa Noite” - Participação: Agildo
Ribeiro
“Valsa Da Despedida (Farewell Waltz)”
(Robert Burns/Versão de João de Barro/Versão de
Alberto Ribeiro)
Lado 2:
“Ob-La-Di, Ob-La-Da”
(John Lennon/Paul McCartney)
“Chove Chuva”
(Jorge Ben Jor)
“A Tramontana (La Tramontana)”
(Daniele Pace/Mario Panzeri/Versão de Geraldo
Figueiredo)
“Nesta Rua”
(Folclore/arranjo de Erlon Chaves/Piti) (14)
Popurri Junino: “Cai, Cai, Balão” (domínio
público)/“Capelinha De Melão” (João de Barro/Alberto Ribeiro)/“Sonho De Papel”
(Alberto Ribeiro)
· Topo Gigio No Brasil (Discoban, 831584-1, 1987)
Lado 1:
“Eu Sou O Topo Gigio”
(Sérgio Mineiro/Crispin Del Cistia)
“Ta-Te-Ti”
(Mister Sam/Vivian Costa Manso)
“O Trem De Chocolate (Tren De Chocolate)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/
“A Dança Dos Topinhos”
(Mister Sam)
“Conhecendo Os Sentidos (Aprendamos A Conocer Los
Sentidos)”
(Francisco Espinosa/E. Sisterna/Carlos A. Gallego/Maria
Perego/Adaptação: Mister Sam)
“Gigio Rockero (Rock Del Topo)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Alejandra
Aldao/Maria Perego/adaptação: Mister Sam)
Lado 2:
“Gigio Gigante”
(Sérgio Mineiro/Crispin Del Cistia)
“Boa Noite, Queridos Topinhos (Buenas Noches,
Queridos Conejos)”
(Carlos Fernández Melo/Lalo Fransen/adaptação:
Mister Sam)
“Os Vovozinhos (Los Papás De Mis Papitos)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A, Gallego/Adaptação:
Mister Sam)
“Brincando Com Os Dedos (Jugando Con Los Deditos)”
(Francisco Espinosa/E. Sisterna/Carlos A.
Gallego/Peppino Mazzullo/Adaptação: Mister Sam)
“O Computador (Gigio Y La Computadora)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/A. Aldao/Maria
Perego/Adaptação: Mister Sam)
“Até Amanhã (El Besito De Las Buenas Noches (Hasta
Mañana)”
(Pedro Favini/Maria Perego/Carlos A.
Gallego/Peppino Mazzulo/Adaptação: Mister Sam)
Notas: Lançado também em fita cassete.
· Topo Gigio 2 (Discoban, 833755-1, outubro
de 1987)
Lado 1:
“Vamos Nessa”
(Cláudio Savietto/Cláudio Petraglia/Dick Petra) Participação
de Dick Petra
“Mãe Professora (Mama Maestra)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/Miguel Lorena/ Adaptação: Mister Sam)
“Não Controle (No Controles)”
(Ignácio Cano/ Adaptação: Mister Sam)
“Super Papai (Super Papá)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/Miguel Lorena/ Adaptação: Mister Sam)
“Melô do Patim (Cumbia Del Patin)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/Miguel Lorena/ Adaptação: Mister Sam)
Lado 2:
“A Rima (La Rima)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/Miguel Lorena/ Adaptação: Mister Sam)
“As Crianças do Mundo”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Adaptação:
Mister Sam)
“Meu Irmãozinho (Mi Nuevo Hermanito)”
(Adriana Concepcion/Peque Rossino/José A. Rota/Adaptação:
Mister Sam)
“Por Comer Apressado (Por Comer Apurado)”
(Richard Mochulske/Enrique Londaits/Carlos A.
Gallego/Miguel Lorena/ Adaptação: Mister Sam)
“Vai, Dick Petra, Topo Gigio, Vai”
(Claudio Petraglia/Dick Petra)
Notas:
Lançado também em fita cassete.
A faixa “A Rima” saiu também na coletânea Levados Da Breca da Som Livre, lançada
em 1988 e com o intérprete creditado como “Topo Giggio”.
Compactos duplos:
· Topo Gigio (Philips, 441443, maio de
1969)
Lado 1:
“Meu Limão, Meu Limoeiro”
(Folclore/Adaptação: José Carlos Burle e Carlos
Imperial)
Popurri Junino: “Cai, Cai, Balão” (domínio
público)/“Capelinha De Melão” (João de Barro/Alberto Ribeiro)/“Sonho De Papel”
(Alberto Ribeiro)
Lado 2:
“A Tramontana (La Tramontana)”
(Daniele Pace/Mario Panzeri/versão: Geraldo
Figueiredo)
“Chove Chuva”
(Jorge Ben Jor)
Segundo EP
· Topo Gigio No. 2 (Philips, 441449PT, julho
de 1969)
Lado 1:
“O Calhambeque (Road Hog)”
(John Loudermilk/Gwen Loudermilk/versão de Erasmo
Carlos)
“Nesta Rua”
(Folclore/arranjo de Erlon Chaves/Piti)
Lado 2:
“O Sole Mio”
(Eduardo Di Capua/Giovanni Capurro)
“Diálogo De Boa Noite – com Agildo Ribeiro”
· Gigio Apresenta Rose [sic] (Philips, 441471PT,
maio de 1970)
Lado 1:
“Cry Me A River” – participação: Rosy
(Arthur Hamilton)
“Canção De Ninar (Embraceable You)” –
participação: Rosy e recém-nascido
(George & Ira Gershwin/versão de Maria Perego)
Lado 2:
“Eu Fui No Tororó” (folclore/arranjo e adaptação
de Wilson Simonal)
“Marcha Do Gol (Samba Dei Goals)”
(Danpa/Virgilio Panzuti “Mac Gillar”/versão de
Mônica Silveira)
Notas:
O nome de Rosy está escrito erroneamente (“Rose”)
na capa e na contracapa do disco e corretamente nos selos.
Na contracapa do disco as faixas do lado 1 constam
como sendo do lado 2 e vice-versa.
“Marcha Do Gol” foi lançada também em compacto da
mesma Philips e creditada a “Torcida Brasileira” – sim, era ano de Copa do
Mundo.
· Topo Gigio No. 4 (Philips, 441472PT, outubro
de 1970)
Lado 1:
“Funiculi, Funiculà” – participação: A Família de
Gigio
(Luigi Denza/Peppino Turco)
“Yes Sir, That's My Baby” – participação: Gigio e
o Vermezinho
(Walter Donaldson/Gus Kahn)
Lado 2:
“Quarenta E Quatro Gatos (44 Gatti)” –
participação: Gigio e Os Gatinhos
(Giuseppe Casarini)
“O Balãozinho (Balloncini)”
(Gorni Kramer/Pietro Garinei/Sandro Giovannini)
Notas:
(2) Afinal, em qual programa de televisão Topo Gigio estreou: Alta Fedeltà, Serata Di Gala ou Canzonissima? Encontrei essas três respostas nas mais de dez fontes estrangeiras, em italiano, espanhol e inglês, que consultei – uma delas, e italiana, até se contradiz ao citar dois destes programas, um em cada parágrafo, e a página oficial de Topo Gigio não cita nome de programa algum. Sobre a data de estreia, que é consenso, várias das fontes dizem ter sido um sábado à noite – só que 11 de fevereiro de 1959 caiu numa quarta-feira...
(3) Foi com Gigio e sua namorada Rosy que conheci “La Barchetta dell’Ammuri” de Modugno – o lado-B original de “La Sveglietta”, de 1954 – na televisão em 1970, não lembro se no Mr. Show ou no Topo Gigio Especial.
(4) Note-se que Topo Gigio teve seus discos
lançados pela Philips, então o selo de música popular considerada mais
respeitável do conglomerado CBD (depois Polygram e hoje Universal Music), ao
lado de Caetano Veloso, Elis Regina, Maria Bethânia, Nara Leão, Jair Rodrigues,
Jorge Ben (ainda não Jor) e Tamba Trio; quase todo o elenco de música dita
menos séria – Ronnie Von, Mutantes e roquistas, jovem-guardistas e
pilantragistas em geral – era lançado pelo selo Polydor. E Topo Gigio foi um
dos artistas estrangeiros lançados no Brasil pelo selo Philips que viriam a
gravar em português, como Jimmy Cliff, Antoine, Françoise Hardy e Scott Walker.
(Uma exceção curiosa desta turma foi Georges Moustaki, lançado aqui pela
Polydor.) E é claro que, no fim das contas, estes selos da CBD eram apenas de
fantasia (aliás, Fantasia era nome de outro destes selos), mais ou menos como
os infernos da crônica de Stanislaw Ponte Preta, pois há gravações de, por
exemplo, Mutantes em discos de vários artistas da Philips dos anos 1960
(incluindo o álbum Tropicália).
(5) A Rio Gráfica e Editora, funda por Roberto Marinho em 1952 e rebatizada Editora Globo em 1986, lançou gibis de sucesso como Recruta Zero, O Fantasma, Flash Gordon e a turma da Harvey (Gasparzinho, Brotoeja, Riquinho); nos anos 1980 passou a atender pela sigla RGE, a mesma da gravadora cujo nome completo era Rádio-Gravações Especializadas; nos anos 1990 e 2000 ficou tudo em casa, pois a Som Livre, da Globo, comprou a gravadora RGE...
Além dos gibis, a Rio Gráfica lançou também livrinhos com histórias de Topo Gigio. E foi numa história destes gibis protagonizada por Rosy que aprendi a conjugar o verbo “ver” no modo condicional. Vale resumir: esta história era uma paródia da fábula da roupa nova do imperador, onde uns picaretas vendem vestidos que “só pessoas inteligentes podem enxergar”; Rosy e todas suas amigas compram tais “vestidos” para usar num baile dali a alguns dias. Rosy experimenta seu “vestido” diante do espelho e diz: “Sou tão boba que não consigo ver o vestido!” Daí ela pensa: “E se o pessoal da festa for tão bobo quanto eu e não VIR o vestido?” (Sim, o verbo está assim destacado no original.) Então ela decide: “Vou usar o vestido velho, por via das dúvidas, mesmo que ninguém dance comigo!” Resultado: Rosy é a única ratinha decentemente trajada do baile e todos fazem fila para dançar com ela, enquanto as outras, usando apenas combinações, choram: “Fomos todas enganadas!”
(6) O programa Mr. Show, em grande parte graças a Topo Gigio, foi um grande sucesso de crítica e público; a única grande queixa foi quanto ao horário nada infantil, às 21h30 de domingo (e a Globo já inaugurava seu notório fuso horário particular: novela das 8 entrando no ar às 21h, a Sessão Das 10 começando às 23h e assim por diante).
E Agildo já era veterano no teatro mas novato em televisão, de modo que ficou famoso junto com Topo Gigio e até por causa dele, chegando a ser chamado de “Topogildo”. Nos últimos programas Mr. Show Agildo foi substituído por Luiz Carlos Miele (1938/2015), o famoso humorista para quem, segundo ele, bastava usar traje a rigor para ser sofisticado e cujo jeitão cafajeste deve ter feito um belo contraste com a meiguice de Topo Gigio...
(7) Declaração de Armando Pittigliani especial para este artigo feita via Messenger em 13 de maio de 2021. E quem tocou nos discos de Topo Gigio na Philips? “Não me recordo dos músicos que participaram dessas gravações. Só sei que gravei no estúdio Havaí, numa rua atrás do Ministério do Exército, no centro do Rio.”
(8) Esta primeira gravação de “Beijinho De Boa Noite” foi lançada em compacto simples pela RCA e incluída em outros dois LPs carnavalescos da gravadora: Momo 70, de 1969 – primeira faixa do lado 1 – , e Carnaval Total, de 1982. Há ainda pelo menos duas outras gravações desta marchinha, incluídas em popurris, nos LPs Carnaval 77 – Ensaio Geral, com o “grupo fantasma” Os Bichos (RCA, 1977) e Biggest Brazilian Carnival Hits, com os Titulares do Ritmo (Augusta, 1972).
(9) Leonardo Bruno (nasc. 1945), violonista e arranjador, além de parceiro de Gilberto Gil em “Frevo Rasgado”, nasceu Bruno Ferreira e é filho do grande clarinetista Abel Ferreira (1915/1980); ao se enturmar com Carlos Imperial, este cismou: “Bruno Ferreira parece nome de quitandeiro, agora você vai se chamar Leonardo Bruno”. E papai Abel, longe de se zangar, adorou: “Este era o nome que a tua falecida mãe queria que você tivesse. Ela queria Leonardo, devido a um livro chamado Leonardo, O Pescador, mas eu quis Bruno para homenagear um amigo. Eu não deixei que a vontade dela fosse feita, e agora ela se realiza através do Imperial.” A fonte desta bela história é o livro Dez, Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial de Denilson Monteiro (Editora Planeta, 2015).
(10) Célia e Celma Mazzei, gêmeas idênticas nascidas em Ubá em 1952, começaram cantando pop-rock na Turma da Pesada de Carlos Imperial e na banda do trompetista Papudinho, depois gravaram alguns discos de rock até se firmarem como dupla sertaneja de raiz; para resumir, todos os discos da dupla são recomendáveis, especialmente os caipiras, incluindo um tributo ao conterrâneo Ary Barroso.
(11) Esta declaração de Agildo foi tirada do livro Agildo Ribeiro, O Capitão do Riso de Wagner de Assis (Imprensa Oficial, 2007), um bom trabalho, embora insistindo em grafar o nome do ratinho como “Topo Giggio” e o de sua criadora como “Maria Pereggo”.
(12) Laert Sarrumor usou nos discos e programas de Topo Gigio seu nome verdadeiro, Laert Júlio (grafado “Laerte”), E ele deve se divertir com a “pastaciutta” informativa de muitas páginas na internet onde, por exemplo, ele se chama “Sarrumour” e dublou Topo Gigio desde 1969 ou se chama “Laerte Junior” e fazia a manipulação do boneco...
(13) “Olha só, eu não lembrava que o Marcio Werneck tocou nos discos, ele devia ser bem jovem na época”, comenta Laert Sarrumor a este que vos tecla. “Estou trabalhando com ele atualmente num canal de Youtube, chamado Estive nos Jobs, de atores que trabalharam (e trabalham) em filmes publicitários.” Por falar em publicidade, Crispin del Cistia e Sérgio Mineiro eram parceiros da produtora de publicidade MCR, e ambos foram convidados por Claudio Petraglia.
Crispím Del Cistia (nasc. 1953) já era conhecido por este que vos escreve de festivais sorocabanos de música no começo dos anos 1970; mudando-se para Sampa em 1974, começou a trabalhar em música e publicidade, vindo a conhecer Cesar Camargo Mariano e entrando para a banda de Elis Regina como guitarrista; mas nestas gravações para Topo Gigio ele – além de compor o novo prefixo musical do personagem – tocou teclados e trompete. “Na verdade sou tecladista, pianista de formação, mas também arranho no trompete, resquícios dos tempos de banda marcial da escola”, lembra a este escriba Del Cistia, que sem dúvida merece um artigo só para ele, aguardem.
O saudoso Eduardo Assad (1950/1990) é outro ilustre tecladista, surgido na época da jovem guarda com a banda Eduardo e Seus Menestreis e depois famoso como maestro e arranjador.
E Vivian Costa Manso (nasc. 1952) foi uma das primeiras estrelas do chamado movimento “Hits Brasil”, de artistas brasileiros/as que fizeram sucesso nos anos 1960 e 1970 gravando em inglês, integrando a banda Sunday e o grupo vocal Harmony Cats, além de ser grande cantora de estúdio, inclusive no segundo LP do Língua de Trapo (Como É Bom Ser Punk, de 1985), cujo vocalista Laert Sarrumor logo trabalharia com ela nos dois álbuns de Topo Gigio dos anos 1980.
(14) Piti (Robernival Costa Ribeiro – não "Carlos
Pit" como dizia seu conterrâneo Thildo Gama – , 1945/2007) foi compositor e
violonista baiano, um dos integrantes mais obscuros da tropicália e,
curiosamente, muito citado como o melhor músico e o maior incentivador do pessoal
seu conterrâneo do musical Arena Canta Bahia – Caetano, Gil, Tom Zé, Bethânia e
Maria da Graça, futura Gal – mas o menos comentado; problemas de saúde o
impediram de sair do Nordeste para participar mais ativamente do movimento
tropicalista, e ele preferiu se radicar de vez em Salvador, inclusive cuidando
de um bar, o Boteko do Piti, e trabalhando na Fundação Cultural da Bahia.
Erasmo Carlos gravou suas composições “Deitar E Rolar” e “Espuma Congelada”,
esta gravada também por Clara Nunes, e outras canções suas incluem “9o.
Andar”, lançada por Maria Bethânia, e “Casa Torta”, criação de Leno. Como
intérprete, Piti gravou um compacto simples na RCA em 1965, um compacto duplo
na RGE em 1970 e, mais recentemente, em 2005, um CD (Armadilha, usando o nome Pitti Costa, provavelmente para evitar
confusão com a cantora conterrânea Pitty, que começara a fazer grande sucesso
em 2002/2003), com participação de Gil e Caetano. E ele parece ser para a tropicália o que
Cassiano foi para a soul-music, trabalhou com gente famosa mas preferiu se
esconder... Sem dúvida, Piti também merece um artigo só para ele.