CHICO TOTAL E MUSICAL
Chico Total foi o nome de um dos shows de Chico Anysio, quando ele estava prestigiado a ponto de a simples menção do nome "Chico" significar Anysio e não Buarque. E aqui vai uma homenagem à minha moda: uma pequena amostra de seu lado compositor, com gravações dos anos 1950 a 1970.
Notem a presença de alguns clássicos da MPB, como "A Filha De Chico Brito" (regravada por Elis Regina), "Hino Ao Músico" ("músicaaaaa é alegriaaaaa...") e "Folia De Reis" (aqui numa regravação de Sérgio Reis, que merecia gravar esta inclusive por motivos óbvios). Outras curiosidades são um popurri suavemente machista de paródias de jingles de sucesso ("você pode confiar na Shell", "Varig, Varig, Varig") e o próprio Chico no papel de uma versão pré-histórica do Professor Raimundo, nos anos 1950. E perdoem alguns defeitos, quase tudo foi tirado de discos de vinil e 78 RPM que nunca foram reeditados. As gravadoras poderiam mostrar mais serviço, mas palavras são palavras, nada mais que palavras...
Altemar Dutra – Ya No Quiero (Chico Anysio – Nonato Buzar) 1976
Canhoto com Chico Anysio - Professor Raimundo (Chico Anysio – Osvaldo Silveira) 1953
Carlos Alberto – Tango (Chico Anysio – Nonato Buzar) 1976
Déo – Mudou Pra Melhor (Chico Anysio – Hianto de Almeida) 1956
Déo – Pra Quê? (Chico Anysio – Hianto de Almeida) 1956
Dolores Duran - A Filha De Chico Brito (Chico Anysio) 1956
Dolores Duran – Não Se Avexe, Não (Chico Anysio – Haydée Paula) 1955
Eliana - À Procura Do Samba (Chico Anysio – Lyrio Panicalli) 1955
Gerson Filho com Chico Anysio e Nancy Wanderley – Forró Do Zé Lagoa (Chico Anysio – Nancy Wanderley) 1959
Ivon Cury – É Mió Te Aquietá (Chico Anysio – Hianto de Almeida) 1959
Kris e Kristina – Isso É Muito Bom (Chico Anysio – Arnaud Rodrigues) 1973
MPB-4 – A Grande Pedida (Popurri de Jingles) (adaptação de Chico Anysio) 1969
Nelson Gonçalves – Tristeza Mora Comigo (Chico Anysio – Nonato Buzar) 1976
Orlando Silva – Dona Saudade (Chico Anysio – Hianto de Almeida) 1955
Orlando Silva – Muié De Óio Azul (Chico Anysio – Hianto de Almeida) 1955
Osvaldo Silva – Quando (Chico Anysio – Oscar Bellandi –Wilson Silva) 1953
Sérgio Reis – Folia De Reis (Chico Anysio – Arnaud Rodrigues) 1977
Trio Irakitan – Hino Ao Músico (Chico Anysio – Chocolate) 1960
Vocalistas Tropicais – Marcha do Sapo (Chico Anysio – Raul Sampaio – Dantas Ruas) 1955
http://www.4shared.com/rar/j4BCQghx/chico_anysio_compositor.html
DANÇA NACIONAL REALMENTE EXÓTICA
"Exotica" é um dos rótulos mais sucintos e adequados, e define bem aquele tipo de música com arranjos arrojados e com muitos efeitos instrumentais e, ocasionalmente, vocais. Aqui vai um pioneiro brasileiro do estilo: o vibrafonista paulistano Chepsel Lerner (1915/2000), com seu LP
Sons Exóticos Em Tempo De Dança, de 1959.
Ao contrário de outros álbuns da Odeon de clássicos da MPB com arranjos não de MPB que mencionei em outras mensagens, este não tem repertório exclusivamente nacional:
Tabu (Margarida Lecuona)
Avalon (B. G. DeSylva/Vincent Rose/Al Jolson)
Estrada Do Sol (Tom Jobim/Dolores Duean)
Hindustan (Oliver G. Wallace/Harold Weeks)
Hô-Bá-Lá-Lá (João Gilberto)
Hong Kong Blues (Hoagy Carmichael)
Istambul (Jimmy Kennedy/Nat Simon)
Babalú (Margarida Lecuona)
As Time Goes By (Herman Hupfeld)
India (José Asunción Flores/Manuel Ortiz Guerrero)
The Sheik Of Araby (Ted Snyder/Harry B. Smith/Francis Wheeler)
André De Sapato Novo (André Victor Corrêa)
Pesquisando sobre Chepsel, descobri que é o mesmo Chuca-Chuca que gravou também alguns discos de bossa nova cultuados por aí.
http://www.4shared.com/rar/T4peLmB3/chepsel_-_sons_exoticos_em_tem.html
(E perdoem eu não ter tido tempo de separar as faixas, vai ser como ouvir uma fita cassete.)
PARANGA O QUÊ? E ARCY QUEM?
O álbum (sem título) do maestro Arcy Barbosa que trago nesta mensagem vai dedicado a Skowa (que foi meu vizinho no Premê), Fernando Marconi (que foi meu companheiro no Língua de Trapo) e toda a turma do Sossega Leão, que mereceria ter gravado bem mais que apenas um LP lá nos anos 1980 (mas que felizmente fez uma reunião estes dias). O álbum em questão - que fui buscar ainda mais longe, em 1962 (ou melhor, ele veio lá de 1962 para me encontrar) - é um excelente complemento para o álbum Aqui Habitam Leões do Sossega, ritmos cubanos bem aclimatados ao clima brasileiro. Neste caso, adaptando clássicos da MPB de todas as épocas até então aos ritmos de merengue, cha-cha-chá, pachanga e o africano bembe. Sim, bem "Buena Vista" - e "Buena Audición" - mesmo. O repertório é:
Boato (João Roberto Kelly) em ritmo de cha-cha-chá
Onde o Céu Azul É Mais Azul (Alcyr Pires Vermelho/Alberto Ribeiro/João de Barro) em ritmo de cha-cha-chá
Brasil (Benedito Lacerda/Aldo Cabral) em ritmo de merengue
Império do Samba (Zé da Zilda/Zilda do Zé) em ritmo de merengue
Linda Morena (Lamartine Babo) em ritmo de merengue
Rio de Janeiro (Ary Barroso) em ritmo de merengue
Linda Flor (Ai Ioiô) (Henrique Vogeler/Luis Peixoto/Marques Porto) em ritmo de cha-cha-chá
Palhaçada (Haroldo Barbosa/Luis Reis) em ritmo de cha-cha-chá
Mamãe Eu Quero (Jararaca/Vicente Paiva) em ritmo de pachanga
Tiradentes (Décio Carlos "Mano Décio da Viola"/Penteado/Estanislau Silva) em ritmo de merengue
A Lua É dos Namorados (Armando Cavalcanti/Klécius Caldas/Brasinha) em ritmo de merengue
Pastorinhas (João de Barro/Noel Rosa) em ritmo de bembe
http://www.4shared.com/rar/Uln0K6Bx/arcy_barbosa_-_lp_-1962.html
Sim, este disco de Arcy Barbosa é mais um na linha que mencionei algumas mensagens abaixo de álbuns da virada dos anos 1950 para 1960 que transformam MPB em tudo menos MPB.
(Perdoem eu não ter tido tempo de separar as faixas, vai ser como ouvir uma fita cassete. E este disco é tão raro que meu exemplar - o único que vi até o momento destas linhas, porém em excelente estado - não tem capa e não a encontrei na internet após procurar cinco vezes em dias diferentes. Nem consegui até agora informações sobre Arcy Barbosa além de ele ter gravado outros discos.)
PARA PESSOAS JUDIAS E GOYS
Shalom! Está chegando o feriado judaico do Purim, e, como boa música é ecumênica, resolvi trazer um álbum de que gosto muito e que merece ser bem menos raro do que é:
Chants Judeo-Espagnols Du XVI Siècle, pela cantora judia russa Sarah Gorby (1900/1980).
Muito versátil, Sarah Gorby cantou nos idiomas hebraico, iídiche (criado pelos judeus a partir do alemão) e ladino (idem o espanhol). Neste álbum, lançado em 1963, ela canta em ladino, com acompanhamento à altura pelo violonista francês Jean Bonal (nasc. 1925; não confundir com seu xará pintor, 1927/1998). Confiram:
http://www.4shared.com/rar/B-dLQK34/sarah_gorby_-_chants_judeo-esp.html
(Perdoem eu não ter tido tempo de separar as faixas, vai ser como ouvir uma fita cassete.)
TANGO ARGENTINO MAIS BRASILEIRO
Uma moda muito interessante da virada dos anos 1950 para 1960 foram os LPs de música brasileira em arranjos os mais ousados e variados possíveis em ritmos os mais diversos de música não brasileira: tango, charleston, ritmos latinos, música erudita e por aí afora. Recomendo todos que ouvi até agora como "humor a sério", que funciona ao mesmo tempo como brincadeira e boa música. (E quase todos os exemplos que conheço foram lançados pela Odeon.)
Aqui vai um destes discos:
Samba Em Tempo De Tango, do maestro e bandoneonista Miguel Caló (1907/1972), argentino de Buenos Aires e um dos grandes nomes do tango. Este álbum, de 1958, é indicado também para fãs de MPB e de música argentina - e ele se torna ainda mais curioso se lembrarmos que o tango argentino surgiu pouco depois do chamado tango brasileiro ou "tanguinho", variante do maxixe com a mesma pulsação "criolla" que daria origem ao tango portenho.
O repertório deste álbum é:
A Voz Do Morro (Zé Keti)
Aquarela Do Brasil (Ary Barroso)
Saudades Da Bahia (Dorival Caymmi)
Chove Lá Fora (Tito Madi)
Risque (Ary Barroso)
Folha Morta (Ary Barroso)
Marina (Dorival Caymmi)
Laura (Alcyr Pires Vermelho/João de Barro)
Feitiço Da Vila (Noel Rosa/Vadico)
Conceição (Dunga/Jair Amorim)
Ouça (Maysa)
Serenata (Haroldo Lobo/David Nasser)
E mesmo que você não seja porteiro(a), baixe e diga:
http://www.4shared.com/rar/Ij_5OHDi/miguel_calo_-_samba_em_tempo_d.html
(Ah, sim: perdoem eu não ter tido tempo de separar as faixas, vai ser como ouvir uma fita cassete. E foi uma luta para eu conseguir digitar "Miguel Caló" em vez de "Michel Teló". Mas vocês merecem o esforço.)
DE INEZITA A EMICIDA
Sei que tenho a síndrome de Lennon, Raul e Caetano, igualo-me a eles ao menos como pessoa auto-referente com muito a que se referir (afinal, já tenho minhas décadas de carreira). E passei os primeiros dois meses de 2012 sem publicar algo neste blog justamente devido a tanta coisa que andei fazendo. Uma delas foi participar na mais recente edição do Prêmio Governador do Estado para a Cultura (promovido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo), como integrante da comissão de música popular, ao lado de Zuza Homem de Mello, José Flávio Jr., Lauro Lisboa Garcia e Sidney Molina. Juntos escolhemos os maiores destaques da música produzida no Estado em 2011, e nossos escolhidos foram Inezita Barroso, Suzana Salles, Isaac Karabitchevsky, Emicida e Toninho Ferraguti. Mais detalhes sobre a premiação estão na página do evento:
http://www.premiogovernador.jp7.com.br/premio-governador-do-estado
Moacyr Franco, um de meus heróis da infância e de sempre, foi premiado por sua participação no filme
O Palhaço de Selton Melo; aproveitei a cerimônia da premiação, em 24 de janeiro, para conhecê-lo pessoalmente e, já que tamanho encontro não foi documentado em jornal algum, pelo menos fica registrado aqui.
(Ah, sim: agradeço a Domingas Person, que junto com Marco Antonio Pamio apresentou o evento, por pronunciar certo meu sobrenome, rerre.)