Monday, February 23, 2009

ORIGINALIDADE É ISSO AÍ - ESPECIAL CARNAVAL

Na semana passada foi publicada um relação das canções carnavalescas mais executadas no século 21, de acordo com o ECAD. Alguns destes sucessos podem ser ouvidos em qualquer baile momesco, mas não em qualquer loja de discos; portanto, aqui vão eles.

A mais tocada nos bailes carnavalescos ("Mamãe, Eu Quero" de Jararaca e Vicente Paiva consta como "apenas" a terceira colocada) é "Cabeleira Do Zezé", parceria de João Roberto Kelly com Roberto Faissal, lançada por Jorge Goulart em 1963.

Jorge Goulart - Cabeleira Do Zezé

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João Roberto Kelly é o tipo do compositor antenado, que soube combinar a MPB com influências estrangeiras, fazendo música carnavalesca da melhor e ao mesmo tempo usando (no bom sentido, claro) o Carnaval para facilitar a aceitação brasileira do rock como música e comportamento. Após fazer o povo pular e cantar canções cujo tema eram os primeiros cabeludos brasileiros da era do rock, no ano seguinte Kelly ajudou sobremaneira a preparar o terreno para o estouro da jovem guarda ao falar da mulata que dança hully-gully e iê-iê-iê com "Mulata Iê-Iê-Iê", lançada por Emilinha Borba. (Notem que a mulata da marchinha caiu no rock mas era da bossa nova, ou seja, passou de um gênero estrangeiro de influência estrangeira para outro - exatamente como Roberto, Erasmo e tantos outros haviam deixado a bossa nova pelo rock).

Emilinha Borba - Mulata Iê-Iê-Iê

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E a vice-campeã é a sempre atual "Me Dá Um Dinheiro Aí", composição dos irmãos Homero, Glauco e Ivan Ferreira e lançada por Moacyr Franco em 1959. Vale lembrar que, paralelamente à carreira de emérito humorista, Moacyr havia inaugurado sua discografia cantando principalmente rock, e em 1960 seguiu o mesmo tema desta marchinha, com o "Rock Do Mendigo", dos mesmos autores e de refrão pródigo em "iê-iê-iês".

Moacyr Franco - Me Dá Um Dinheiro Aí

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Monday, February 16, 2009

ELES TAMBÉM GRAVARAM ROCK - PARTE 1

Após a primeira leva de minha pesquisa Eles Também Gravaram MPB, aqui vai o outro lado da moeda: artistas de MPB mais castiça ou profissionais de rádio, cinema etc. que se aventuraram pelo rock and roll.

Talvez o disco mais incomum (além de um dos mais raros) de todo o cânone dos Demônios da Garoa seja um 78 RPM para a Philips somente de baladas-rock em 1963. Um dos lados é a famosa "Quando Calienta El Sol", em versão de Arnaldo Rosa, o vocalista dos Demônios: "Ao Nascer Do Sol".

Os Demônios da Garoa - Ao Nascer Do Sol (Cuando Calienta El Sol)

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Neyde Fraga foi grande intérprete pop, não só de sambas e marchas, mas também versões de pop não-rock estrangeiro como a valsinha "Hi-Lili-Hi-Lo" e, neste caso, "Estúpido Cupido", a convite da Continental, para aproveitar o grande sucesso da gravação de Celly Campello (há exatos 50 anos, o tempo passa) na Odeon.

Neyde Fraga - Estúpido Cupido (Stupid Cupid)

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Sérgio Ricardo não é apenas grande nome da bossa nova, saindo-se bem também em outros gêneros como samba, toada e até neste rock com balanço latino, "Aleluia", com o qual inclusive ganhou um festival na Bulgária em 1968.

Sérgio Ricardo - Aleluia

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Luiz Claudio é outro artista eclético que brilhou na bossa nova mas merece ser ouvido também ao interpretar gêneros diversos, como canção sertaneja e este rock-cha-cha-chá, uma versão de "Venus" (de Ed Marshall e sucesso mundial com Frankie Avalon nada menos de duas vezes, em 1959 e numa versão discothèque nos anos 1970). Notem que esta versão menciona uma "namoradinha de um amigo meu", mote que um dia iria fazer sucesso com outro jovem cantor que iniciava sua discografia naquele mesmo ano de 1959.

Luiz Claudio - Vênus (Venus)

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Antes que alguém grite ou digite "Toca Raul", apresentaremos as Irmãs Galvão (anos antes de passarem a se apresentar como As Galvão) com um belo arranjo pop-sertanejo para "Tente Outra Vez", de 1992.

Irmãs Galvão - Tente Outra Vez

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And now... the Brazil-recorded rock recording everybody's been waiting for! É por ele mesmo, Tom Jobim, com seu arranjo para a balada "O Trem Azul" do Clube da Esquina, no álbum Cais, tributo de vários artistas a Ronaldo Bastos lançado há exatos 20 anos, em 1989.

Tom Jobim - O Trem Azul

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MUITO ALÉM DO JEQUIBAU

O pianista paulistano Mário Albanese é também um dos melhores compositores brasileiros de todos os tempos - e quem acaso me chamar de exagerado devido a essa afirmação tente continuar me chamando de exagerado após ouvir a amostra abaixo.

É ótimo que Os Três Moraes, um dos melhores grupos vocais dos anos 1960 e 1970, esteja se reunindo, ainda que ocasionalmente. Esta gravação de "Maré Alta", parceria de Albanese com Cyro Pereira (e não à toa uma das, em bom português, "my all-time favourite songs"), nem foi lançada no Brasil, e sim nos EUA, com o nome pouco sutil de Os Três Brasileiros, em 1969.

Os Três Moraes - Maré Alta

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A marcha-rancho "Você", parceria de Albanese com Heitor Carrillo (sim, o autor de "Este É Um País Que Vai Pra Frente" e "Chum-Chim-Chum"), foi um dos grandes sucesso de 1960; aqui está a gravação da cantora Marisa Barroso.

Marisa Barroso - Você

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Tão eclético quanto criativo, Albanese compõe até rock - e dos bons. Garanto que muitas bandas de garagem por aí não soam tão "psych" quanto "Gamboa", parceria (em inglês) de Albanese com Cyro Pereira, na interpretação do Modern Tropical Quintet, com vocal-solo da holandesa Sara Chretien, então recém-radicada no Brasil e que logo mudaria o nome para Sara Teixeira (além de gravar nos anos 1990 um bom LP com o nome Sara Voz).

The Modern Tropical Quintet - Gamboa

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Sara merece mais uma dose, e cantando em holandês: "No Balanço Do Jequibau" (em jequibau, o famoso ritmo em 5/4 criado por Mário Albanese e Cyro Pereira - como, por sinal, Maré Alta"), tornada "Vlinder", "borboleta" em holandês (sendo uma versão de versão, pois "No Balanço do Jequibau" fez sucesso nos EUA como "Pretty Butterfly").

Sara Teixeira - Vlinder

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Para terminar esta amostra, o lado bem humorado de Mário Albanese, numa parceria com Irvando Luiz, emérito autor de textos humorísticos para a Rádio e TV Record (e parceiro de Adoniran Barbosa no maxixe "É Da Banda De Lá"): a toada caipira "Crendices", que alguns conhecem da interpretação deste que vos tecla, de 2004 - mas vamos ouvir aqui a gravação original, de 1960, com a cantora Regina Célia.

Regina Célia - Crendices

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Wednesday, February 11, 2009

ELES TAMBÉM GRAVARAM MPB - PARTE 1

Esta é a primeira leva de duas pesquisas que ando fazendo, sobre artistas não-roqueiros que gravaram rock e vive-versa.

Para começar, lembraremos a dupla personalidade de Benny Anderson, líder do grupo Light Reflections, um dos melhores roqueiros brasileiros a gravar em inglês nos anos 1970. Benny também atende por seu verdadeiro nome: André Barbosa Filho, advogado e profissional de rádio e TV, e que gravou um bom LP de música popular brasileira, Tradição, pela Continental, em 1980. Aqui vai uma amostra, "Fábulas De Violero", composição dele próprio.

André Barbosa Filho - Fábulas De Violeiro

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Daria para preencher um blog inteiro só com profisionais de rádio, televisão, cinema e teatro que se aventuraram pela MPB. Apenas um exemplo é Betty Faria, entoando "Só Danço Samba" de Tom e Vinicius no musical Chica da Silva em 1963.

Betty Faria - Só Danço Samba

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E aqui vai mais uma: a grande e saudosa comediante Renata Fronzi, que nos anos 1950 gravou um LP como cantora (Canções de Amor, de 10 polegadas, pela Musidisc) - e se saiu muito bem. (Meu exemplar está autografado, infelizmente não para mim: "Obrigada, Genaro, só mesmo um amigo para você para ouvir 'isso'. Um abraço, Renata." Só conversei com Renata uma vez, por telefone, quando procurei seu ilustre filhão, Renato Ladeira, guitarrista do emérito grupo A Bolha.) Uma das faixas deste LP de Renata é composição do amigo Mário Lago, e bem ao estilo bem humorado que ele mostrava em várias de suas composições: "Eu Sei Que Você Não Presta".

Renata Fronzi - Eu Sei Que Você Não Presta

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Antes do prédio paulistano e da loura da Banda Calypso temos Joelma, cantora pop dos anos 1960 que conheci pessoalmente duas décadas depois ao me filiar à SOCINPRO, onde ela trabalhava. Embora mais famosa por baladas pop (quase sempre versões), Joelma gravou (em dupla com o sambista Carlos Cesar) esta boa versão de "Ponteio" de Edu Lobo e Capinam em 1967 (curiosidade: esta gravação saiu num LP da Chantecler pegando carona no Festival da Record desse ano e num compacto cujo lado-B era o acompanhamento instrumental, um dos precursores do karaokê).

Joelma e Carlos Cesar - Ponteio

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Agora, ouvido no lance: além de estar nas estantes com uma biografia, o radialista esportivo Silvio Luiz freqüentou brevemente as prateleiras das lojas de discos nos anos 1980 com um compacto de Carnaval pela Fermata, cujo lado-A (parceria dele mesmo com Fernando Solera) é justamente "Olho No Lance".

Silvio Luiz - Olho No lance

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Para terminar, uma no mínimo inusitada: The Jet Black's, um dos primeiros e mais conhecidos grupos pop brasileiros, interpretando um samba de Antonio Carlos & Jocafi, "Desacato", em 1971.

The Jet Black's - Desacato

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DO AY-AY-AY AO IÊ-IÊ-IÊ

Estes dias comemoramos o centenário de nascimento de Carmen Miranda, artista de quem eu pessoalmente só aprendi a gostar nos anos 1990, quando percebi que ela não foi cantora "séría" e sim uma das mestras do bom humor musical - e aprendi também a ignorar aquela visão tendenciosa de ela-nasceu-em-Portugal-e-morreu-nos-EUA e nem-sempre-usava-roupa-de-baixo.

Não tenho muito a acrescentar ao belo artigo que Ruy Castro escreveu sobre ela na Folha de S. Paulo por ocasião dos cem anos de seu nascimento, exceto que ela também foi espécie de pioneira do samba-rock. Senão, ouçamos "Cooking With Glass", composição de Aloysio de Oliveira com Ray Gilbert, lançada em 1948 no filme O Príncipe Encantado (A Date With Judy) e que ouviremos num show de Carmen com o Bando da Lua (liderado por Aloysio) nos EUA em 1952; este show foi lançado em 1959 no hoje mais que raro LP A Pequena Notável Nos Palcos Da Broadway da Odeon. (Ah, sim: Carmen foi também pioneira da chamada "world-music", com sua mistura de samba, marcha, calipso, foxtrote, swing e o que mais aparecesse.)

Carmen Miranda e o Bando da Lua - Cooking With Glass

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LIVROS E AMIGOS ÀS MANCHEIAS

Sempre que posso participo do projeto O Autor Na Praça, reunindo escritores para autógrafos e/ou apresentações de música e poesia que se realiza toda última tarde de sábado de cada mês na Praça Benedito Calixto. E desde o ano passado este projeto tem uma variação interessante: comemorar o aniversário da cidade de São Paulo com uma edição especial no Mercado Municipal. E aqui vai uma pequena lembrança, em forma musical, do evento no 25 de janeiro próximo passado.

O jornalista e compositor Caio Silveira Ramos compareceu com seu livro Sambexplícito - As Vidas Desvairadas de Germano Mathias, indispensável para sambófilos e também leitura das melhores, tão informativo quanto inusitado, fugindo da narrativa linear mas sem firulas desnecessárias nem perda do rigor histórico. E o texto é tão bom que mal se nota o único defeito do livro, ausência de ilustrações (atribuível à falta de jogo de pescoço neste aspecto da editora Girafa). No livro não poderia faltar menção ao grupo de que fiz parte nos anos 1980, o Língua de Trapo: em 1986 Germano gravou "Jerônimo", parceria de Carlos Melo, outro compositor do Língua, com Eduardo Gudin, especialmente para a telenovela Cambalacho.

Germano Mathias - Jerõnimo

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O verdadeiro sexo forte também marcou presença na pessoa de Verônica Tamaoki, escritora, pesquisadora e curadora do Centro da Memória do Circo. De fato, circo é assunto fascinante até como objeto de estudo, e Verônica compareceu com Circo Nerino, (Pindorama Circus/Editora Codex) escrito em parceria com Roger Avanzi, o palhaço Picolino, que trabalhou no Circo Merino por toda a existência deste, de 1922 a 1964. Minha homenagem aos autores e a todo o respeitável público de circo e bom humor é "Grande Estréia do Circo... Lando", de Jararaca e Ratinho, gravada pelos próprios em 1932. Curiosidade: esta gravação inclui uma citação da moda-fado folclórica "Ai, Minha Mãe", regravada por Falcão nos anos 1990.

Jararaca e Ratinho - Grande Estréia do Circo... Lando

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E agora vou lembrar de uma vez só dois escritores presentes: eu mesmo com Adoniran: Dá Licença De Contar (editora 34) e o jornalista Levino Ponciano, com uma bela trinca de livros sobre a cidade (todos editados pelo Senac). Todos Os Centros Da Paulicéia descreve a história do centro da cidade e suas imediações (a palavra "entorno" para mim serve apenas para entornar o caldo); São Paulo, 450 Bairros - 450 Anos conta as origens de simplesmente quase todos os bairros paulistanos, do qual Bairros Paulistanos de A a Z é uma versão anterior e mais curta, mas igualmente interessante. Enquanto você encomenda estes livros, ouça "No Morro da Casa Verde", composição de Adoniran Barbosa lançada em março de 1959 (há 50 anos e ainda não reeditada) por Aracy de Almeida.

Aracy de Almeida - No Morro Da Casa Verde

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