Wednesday, January 10, 2018

AUTO-REFERÊNCIA AQUI EU POSSO: RETROSPECTIVA 2017

2017, além de ano do centenário do primeiro samba a fazer grande sucesso, das revoluções russa e mexicana, da entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial (marcando o início de seu grande poderio em nível mundial, mas isso é assunto para outro tópico de meu blogue, e sob a óptica musical), e do lançamento do Prêmio Pulitzer, foi também um ano em que fiz muita coisa de que espero me lembrar com orgulho daqui a cem anos. Ou, pelo menos, espero que as pessoas de então descubram e gostem. Em resumo, iniciei meus anos 60 em grande estilo.

“CADÊ O DOCE?”



Lancei em abril novo disco, Dó, Ré, Mi, Fá... Sei Lá!, independente mas em meu novo selo, Produções Mugayr (com logotipo criado pelo artista gráfico da família, meu filho Ivo). As faixas de maior sucesso (por “sucesso” entenda-se citação espontânea por mais de duas pessoas) incluem o xote “Cuidado Pra Não Errar”, o sambão “Cadê O Doce?” (que eu já havia lançado antes em saraus com grande sucesso – inclusive está no vídeo do show comemorativo dos dez anos de Clube Caiubi de Compositores, de 2012), o rocão “Foi Pra Isso Que Eu Fiz Cinquenta”, o “sea chant” “Marinheiro Empreendedor”, o cateretê ”Meu Irmão Quer Ir Pra Europa” (parceria com Márcio Policastro) e a canção infantil “Melzinho” (parceria com Verônica Tamaoki). O velho parceiro Fabian Chacur fez uma bela resenha do disco em seu blogue. Outro belo presente para este sessentão fresco foi uma entrevista para a página Ritmo Melodia.

E, notório por aparecer em palcos como acompanhante ou em canjas, aventurei-me em alguns shows-solo para promover este disco. Um deles foi no Brazileria, em junho. E foi tão bom que Silvio Viani, co-proprietário da casa, exclamou no final: “O primeiro de muitos!” Pois bem, o segundo, com acompanhamento de meu trio Los Interesantes Hombres Sin Nombre, foi em dezembro – e foi ainda melhor, a ponto de eu sair de lá com a terceira data: 20 de janeiro. E fiz bons shows “a solo” também no infelizmente efêmero Espaço Son, loja de alimentos naturais com palquinho, aqui na Mooca, além de ter sido convidado especial em saraus como o Casa Amarela e o primeiro promovido pelo editor literário Carlos Torres (que logo reaparecerá nesta conversa).

Mug e o percussionista Marcelo Valença na festa junina vegana do Espaço Son

“QUANTO MAIS PARCERIAS MELHOR”

Falando em saraus, sempre digo que a Era dos Festivais está sendo bem substituída, pelo menos em São Paulo, pela Era dos Saraus. E em 2017 acrescentei à lista dos saraus que frequento regularmente (Caiubi e Sopa de Letrinhas, Quartaquarta, Sarau da Maria e Sarau do Circo) os saraus da Biblioteca Adelpho, Casa Amarela, Piolin, Toca do Autor e Vergueiro.

Sempre digo que arte é soma, e 2017 foi também um ano em que iniciei muitas e boas novas parcerias, pessoas com quem toquei pelo menos uma vez em shows e saraus e/ou com quem comecei a compor, e que valem por uma mini-enciclopédia de algumas pessoas que têm brilhado na música de Sampa. Aqui está ela, com o requinte de assinalar com um asterisco as estrelas que participaram do disco Dó, Ré, Mi, Fá... Sei Lá!:

Adrian Aneli Costa Lagrasta - poetisa
Alexandre Tarica – violonista, compositor e contrabaixista
André Katz* - cantor, compositor e violonista
Betto Ponciano* – violeiro, compositor e cantor
Caetano Lagrasta Neto – poeta
Cássio Figueiredo – cantor e compositor
Cirilo Amém – grupo de rock-MPB
Claudia Luz – cantora e compositora
Cortiça – palhaça-cantora
Danielly Montanary – cantora e compositora
Dinho Nascimento – percussionista
Eliete Chacon - locução nos spots promocionais de Dó, Ré, Mi,Fá... Sei Lá!, que são dois, este e este.
Gi Vincenzi* – cantora, compositora e multi-instrumentista
Gozi – banda de rock e blues liderada pelo casal Gisele e Ozi Garofalo
Guilherme Folco – saxofonista e circense
Henrique Vitorino* – cantor e compositor
Ieda Cruz – violonista e circense
Jany Ketty - cantora
Jeanne Darwich – cantora
João Arjona* - multi-instrumentista
Jorge Dersu – cantor, compositor e violonista
Joy – proprietário da casa Susi In Trance
Leo Rugero* – acordeonista
Luciana d’Ávila* – cantora e compositora
Marcelo Valença – percussionista
Maria Lucia Roxo Nobre* – produtora
Marquinhos Gil – acordeonista e malabarista
Miguel Barone – cantor e compositor
Paulo Brito – cantor, compositor e percussionista
Paulo Miranda – violonista
Poema Novo – grupo de música e poesia
Regina Tieko (cantora) e Fábio Abramo (violonista) – dupla de música popular em geral
Rita de Cássia Venturelli – palhaça e clarinetista
Rafael Peretta – compositor
Thais Matarazzo – escritora e pesquisadora que se revelou cantora (e canta direitinho!) em alguns saraus de sua editora em 2017 (sim, muita gente se desinibe após me ouvir cantar minhas canções sobre Serasas e piolhos)
Vitor Trindade – percussionista e cantor
Wagninho Barbosa* - trompetista

Mug com ReginaTieko e Liberto Trindade no Sarau da Vergueiro

Muito bom ter tocado também com pessoas velhas parceiras e outras com quem eu nunca havia tocado, incluindo Wilson Rocha e Silva e todo o pessoal do Caiubi, Rosa Rocha, Ana Clara Fischer e o paizão Iso, Alessandra Siqueira (a palhaça-musicista Silueta), Tavito, Bogô, Claudio Morgado, Ceci Ramadas, Gaspar Ramos, Tião Baia, Cristina Costa, Tereza Miguel, Edvaldo Santana, Liberto Trindade (tio de Vitor Trindade e filho de Solano Trindade), Vidal França e parte do grupo santista Mulher De Colher (cinquenta damas percussionistas fazendo percussão em colheres). Outro belo reencontro foi com o baterista Nahame Casseb, nosso querido Naminha, que tocou no Língua de 1983 a 1987 e permaneceu na chamada “Família Língua de Trapo”. Em 2016 participou do disco O Último CD Da Terra, e agora em 2017 esteve numa festa de confraternização do Língua, no bar Dedo De La Chica; o belo evento incluiu um quarteto “ad hoc” de Laert Sarrumor, Serginho Gama, Naminha e eu – primeira vez que toquei com ele desde que ele deu uma canja num show da Rádio Matraca no saudoso Espaço Camerati em 1986.

Aqui vai uma amostra de meu segundo show no Brazileria: a canja de Wilson Rocha e Silva interpretado sua “Subida Da Zuquim”, com o trio Los Interesantes Hombres Sin Nombre e a percussionista Cristina Costa.

E em 2017 continuei fiel à linhagem conjunteira de Edgard Scandurra e Dave Grohl. Para facilitar a vida de quem pesquisar sobre música agora ou pelos séculos dos séculos, aqui vão as bandas que atualmente integro, começando pelas duas para as quais entrei em 2017:

A4 EM PB (banda do Sarau do Circo)
Jorge Dersu – violão e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – maestro, contrabaixo e vocal
Marquinhos Gil – acordeão e vocal
Dinho Nascimento – percussão e vocal

JANET FENIX
Jany Ketty – vocal
João Arjona Jr. – guitarra e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – contrabaixo e vocal
Maxi Pere – teclados
Chang Chih An – bateria

LOS INTERESANTES HOMBRES SIN NOMBRE
Marcos Mamuth – guitarra, violão e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – contrabaixo e vocal
Carlinhos Machado – bateria, percussão e vocal

THE VINTAGES
Lucimara Curitiba – vocal e percussão
Emiliana Santos – vocal
José Roberto Curitiba – maestro e teclados
Newton Bardauil – guitarra e vocal
Fabio Ferre – guitarra e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – contrabaixo e vocal
Eduardo Santos – bateria
(A dupla Santos não tem parentesco entre si, e a dupla Curitiba é um casal – dos mais belos e mais musicais.)

TONQ (TOSQUEIRA OU NÃO QUEIRA)
Wilson Rocha e Silva – violão, cavaquinho, violino, guitarra, teclados e vocal
Rica Soares – guitarra, violão e vocal
Sonekka – violão, teclados e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – contrabaixo, guitarra e vocal
Ricardo Moreira – bateria, percussão, violão e vocal
e mais
Rosa Freitag – guitarra e vocal
Mário Lúcio de Freitas – vocal

TATO FISCHER & A BANDA
Tato Fischer - teclados e vocal-solo
Bráu Mendonça - violão, guitarra e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. - contrabaixo e vocal
Bruno Sotil -bateria, percussão e vocal

ARBANDA (banda do projeto Arquivo do Rock Brasileiro)
Patricia Toscano – vocal
Leonardo Freund – guitarra e vocal
Marcelo Agulha – guitarra e vocal
Ayrton Mugnaini Jr. – contrabaixo e vocal
Laércio Muniz – bateria

 A banda A4 Em PB.

E tanta gente começou a me chamar de cantor e músico que resolvi assumir pelo menos esta última qualificação – sempre me vi como um compositor que canta e um multiinstrumentista “mandrake”, mas parece que aperfeiçoei meus gestos hipnóticos o suficiente... Tenho consciência de que sou competente e “raçudo”, como aconteceu no fim do ano, quando me chamaram para gravar uma marcha-rancho ao violão, com andamento bem lento, sem ensaio prévio fora do estúdio, cheia de mudanças de acordes e, a cereja do bolo, em si bemol. Precisei de apenas umas cinco tomadas para dar conta do serviço – e estou pensando se alguém abaixo de Heraldo do Monte mataria de primeira...

“PRA ONDE EU VOU VENHA TAMBÉM”

Alguns lugares que conheci e em que toquei pelo menos uma vez em 2017 e recomendo, além do Brazileria, são o bar-galpão Susi In Trance, o bar-restaurante C. C. Rider, o bar-loja vintage Cia 66 e os vilamadalênicos Cashmere, Dedo De La Chica e Papila. E, como frequentador, conheci e recomendo o Casa de Francisca, no centro de Sampa, e outro grande bar madalênico, Tupi Or Not Tupi.)

Uma nota triste é sobre o bar Bodega Garcia, na Avenida Doutor Arnaldo, onde tive o prazer de tocar em outubro com Los Interesantes Hombres Sin Nombre, mas que fechou poucas semanas depois devido ao falecimento da co-proprietária Silvia Garcia num acidente motociclístico.

Los Interesantes Hombres Sin Nombre no Bodega Garcia

Mais alegre e curioso foi eu ter tocado num local de que fui vizinho por toda a infância mas nunca havia adentrado: o Açaí Clube, no Brooklin, num show com o guitarrista-base de The Rolls And Rocks Band, liderada por Bogô (sim, aquele dos Beatniks e meu companheiro em outras bandas) e que inclui, vejam só, uma parente minha, a cantora Ceci Ramadas; eu já havia tocado com ela, mas só em 2017 eu soube que seus antepassados incluem – honrosamente, espero – um Mugnaini.

“VEJA QUANTO LIVRO NA ESTANTE”

Em 2017 estive presente nas melhores estantes participando de algumas coletâneas de poesia da Editora Matarazzo, além das honras de prefaciar o livro Fora Do Tom 2 – Crônicas De Um Jornalista De Cueca do jornalista e cronista Tom Cardoso (lançando a teoria de Tom ser reencarnação de Stanislaw Ponte Preta) e dividir com Tomás Bastian a pesquisa e os textos do livro-e CD Adoniran Em Partitura, neste resgatando, ao lado do Conjunto João Rubinato, composições do Vate do Bixiga inéditas em disco, um belo equivalente do igualmente belo trabalho sobre Noel Rosa feito pelos manos Carlos e Aloisio Didier e seu Conjunto Coisas Nossas, junto ao escritor João Máximo. (Participei também, como vocalista, de outro trabalho sobre Adoniran, pelo cantor e compositor Miguel Barone, mas que não pôde ser lançado em 2017, embora eu tenha dado canja num dos shows.)

Além disso, o mundo ganhou o livro Centro de Memória do Circo, belo documento sobre a primeira instituição latino-americana a registrar a História e os saberes circenses, e onde marco presença com minha pesquisa sobre música e circo e minha participação no Sarau do Circo.

Também marquei presença na primeira edição da Feira dos Livros e Autores Sorocabanos (FLAUS), mas à distância; convidado a participar mas impossibilitado de ir pessoalmente, tomei a iniciativa de compor um jingle para o evento. Pois bem, a I FLAUS foi um sucesso, e me disseram: “Não existe mais jingle da FLAUS... agora é Hino Oficial da FLAUS!” Ouçam aqui.

E no Sarau da Casa Amarela conheci Carlos Torres, da editora Essencial, que está para reeditar alguns livros meus (inclusive Raul Seixas: Eu Quero Cantar Por Cantar) revisados e atualizados agora em 2018.

“PRESENTES EM TODO LOCAL O RÁDIO E A TELEVISÃO”

Em 2017 meu programa Rádio Matraca ganhou o dobro de onda para surfar no rádio; além do horário das 17h de sábado já tradicional, agora temos reprise à meia-noite de terça-feira, Belo presente para o leitorado nestes 40 anos da emissora, a USP FM, que – e não é por nada – continua sendo uma das cada vez melhores opções para quem reclama de emissoras mais comerciais. E nesse ano a equipe do Rádio Matraca – Mug, Laert Sarrumor e Alcione Sanna – ganhou um reforço: o engenheiro e técnico de som José Miletto, que é também tecladista do Língua de Trapo, mas não contem para ninguém.

Em 2017 surfei também em ondas como os programas radiofônicos de Jai Mahal e Clovis Ribeiro e o de Paulo Nunes na TV CINEC (sozinho e ao lado de Rosa Rocha)

Mug e Mario Luiz Tricta em Piracicaba

Falei de meu filho Ivo e de ter descoberto parentesco com a cantora Ceci Ramadas. Pois bem, falarei de mais um parente, e é pelo menos um que tenho no rádio (além de Ivo ter gravado algumas vinhetas para a Rádio Matraca): Mário Luiz Tricta, nativo de Rio Claro e residente em Piracicaba, onde o conheci pessoalmente em minha mais recente visita à cidade, agora em 2017.

POT-POURRI DE ENCERRAMENTO

Logo publicarei no blogue minha relação anual das personalidades musicais falecidas no ano. Uma delas, mais infelizmente ainda, foi o radialista, DJ, jornalista e vocalista Kid Vinil, uma das pessoas que mais fez para divulgar o rock no Brasil desde o fim dos anos 1970 e uma das maiores personalidades do rock brasileiro dos anos 1980. Tenho vários orgulhos com relação a Kid: ter sido seu amigo, companheiro na banda Verminose/Magazine em algumas fases (o Magazine é como os Demônios da Garoa e o Língua de Trapo, uma “famiglia” onde quase todo mundo saiu e voltou pelo menos uma vez) e no programa Digital Session na Brasil 2000 FM, além de ele ser padrinho de meu filho. Na ocasião de seu falecimento publiquei uma pequena série de artigos, “Kausos De Kid Vinil”, aqui em meu blogue. E, como homenagem a Kid, tenho tocado em meus shows a canção “Sou Coroa”, que compus para ele (confira a história da canção aqui) e ele a gravou no disco Xu-Pa-Ki do Verminose; ouçam e vejam aqui está a canção com o trio Los Interesantes Hombres Sin Nombre em versão semi-acústica no sarau Toca do Autor.

No Rádio Matraca homenageámos os 50 anos do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band já sabemos de quem com o programa especial “Sgt. Pepper No Brasil”, por sua vez baseado no artigo “Cinquenta Do Pimenta” de meu blogue. O programa incluiu uma gravação exclusiva: meu cover para o muito famoso mas pouco lembrado “Sgt. Pepper’s Inner Groove”.

Nesse ano segui o exemplo de Hermeto Paschoal – não fosse eu compositor antes de tudo – e iniciei uma tradição de compor canções instantaneamente para eventos, como esta no camarim do Brazileria uns quinze minutos antes de meu primeiro show na casa.

Música é, tal como o futebol, uma caixinha de surpresas, e lembrarei uma que tive e uma que dei em 2017. Nesta minha fase de compor canções instantâneas para eventos (como o jingle para o Brazileria apresentado acima), presenteei o radialista Jai Mahal com um jingle surpresa para seu programa Bamba Jam, na Cultura FM, quando ele me convidou a participar. E quando fui homenageado pelo Sarau da Casa Amarela, um jovem participante, Henrique Vitorino, uniu-se ao veterano Milton Luna para me surpreender com... “O Velho Palhaço”, uma canção minha que ele aprendeu de uma demo que lancei no Soundcloud, e com o requinte de mudar o arranjo para que eu não reconhecesse a canção – e, de tão surpreso, até errei uma nota ou outra (vejam minha expressão no vídeo que captou este momento). Depois Henrique me perguntou se eu gostei, e minha resposta foi convidá-lo para cantar a canção no disco Dó, Ré, Mi, Fá... Sei Lá! – por sinal, a estreia de Henrique em disco.

Ah, sim: de abril para cá apareço quase sempre sem óculos pois passei por cirurgia de catarata. Pois é, tornei-me homem de visão.

Taí minha retrospectiva de 2017, cumprindo minhas duas tradições de ser a única retrospectiva de um ano após ele ter se encerrado de vez e de chegar uns cinco dias após previsto devido ao ano seguinte ter começado com tudo – sim, já tem assunto para a retrospectiva de 2018, aguardem mais doze meses!