Friday, August 23, 2019

"SUJEITO DETERMINADO": NOVO CD DE MUG

Siiim, está saindo meu novo CD, Sujeito Determinado.




Este é meu primeiro disco sessentão, produzido e lançado - e quase totalmente composto - após eu completar 60 anos de idade. Se eu me preocupo com isso? Às vezes me esqueço de que já completei 30, e, como até cantei, “homem é sempre menino”... Como diz o escritor inglês Hildick (serei a única pessoa no Brasil que o admira ou pelo menos o conhece?), “fala-se da juventude de hoje, mas vai ser bom alguém falar agora da velhice de hoje”. Pois é. E quero ser como Pedro Caetano, Chiquinha Gonzaga, Braguinha e outras pessoas compositoras muito produtivas para além dos 80.

Notem que continuo produtivo mas estou aprendendo a ser comedido, quase pão-duro. Quem tem acompanhado ou pesquisado estes meus 35 anos de discografia deve ter reparado que este trabalho tem apenas 18 faixas, quase todos os anteriores tendo pelo menos 20. Sim, sou antes de tudo compositor, e enquanto muita gente normal sofre para encher berinjela ou abobrinha recheada (não digo “linguiça” porque sou vegetariano) e preencher um disco inteiro, meu problema é o oposto: escolher o que pode esperar e ficar de fora. Achei que menos de 18 seriam pouco, e sempre fujo do limite de 14 imposto pelas gravadoras brasileiras. E este é meu primeiro trabalho totalmente digital - mas procurei fazer com que soasse analógico, sem a compressão e quadradice de onda que têm dado má fama às gravações digitais. Realmente, não sou “todo mundo”. 

E este é um de meus poucos trabalhos a não incluírem gravações que sobraram de trabalhos anteriores (outros são o LP A Coragem de Ayrton Mugnaini Jr. e a fita Oferta Sensacional! É Bregar E Não Largar!

Agradeço a todas as pessoas participantes desde disco e a Dilza Tricta Mugnaini; Cynthia & Amélie Quoniam; Celso Zimbarg e família; Naira Marinho e família; Clube Caiubi de Compositores; Tato Fischer; Vieira Pato; Alexandre Tarica; Costa Senna; Cacá Lopes; Sílvia Maria Ribeiro; Arnaldo Afonso; Eliana Iglesias; Akira Yamazaki; Antonio Gattoni (in memoriam); Carlos Moura; Verônica Tamaoki & Centro de Memória do Circo; Thais Matarazzo; Familia Garofalo; Rodrigo Raposo; Jeanne Darwich; Fabian Chacur; Sergio Sagitta; Rádio Matraca; USP FM; Rádio Gazeta; Língua de Trapo; banda A5 Em PB; Assis Ângelo; Trinkão Watts; Márcio de Paula; Jaime Gaeta; Mauricio Zanti; Laert Lereu; José Carlos Tangerino; Marcio Custodio; Mario Bortolotto; Silvio Viano; Amanda Cipullo; Vera Mendes; Claudio Foá; Jorge, Artur & sebo Jovem Guarda; Alcides & Ventania; loja Estação do CD; e também a todos os saraus de que participei, participo e hei de participar. Sarau, sarau é bom e sempre legal! E, tenhamos Eletropaulo, Enel ou que for, muito vale acender vela nestes tempos em que ameaça faltar luz...

EU SEI QUE EU VOU ESTAR LÁ

Este iê-iê-iê-prog é uma versão musical de meu texto “Ao Vivo Até No Palco” (lançado na página Senhor F e reproduzido neste blogue) sobre os falsos discos ao vivo – ou, em bom português, “fake live albums”.

EU SEI QUE EU VOU ESTAR LÁ
Ayrton Mugnaini Jr.

Aquele cantor famoso
Até no rádio anunciou
Ele está com uma boa surpresa
Vai gravar o novo show
Pra fazer um disco ao vivo
Eu sou fã, ‘cê acha que eu não vou?
Vou cantar e gritar bem alto
Quem me conhece sabe como eu sou

Eu sei que eu vou estar lá
E ensaiei muito bem
Vou cantar e gritar
Vou participar
Do show e do disco também
Eu sei que eu vou estar lá
É muita emoção
Vou entrar nessa barca
Vou deixar minha marca
De lá ninguém me tira, não

Não vejo a hora de sair o disco
Eu sei que vai ser bom demais
Se tiver alguns errinhos
É pouca coisa, nada de mais
Vão regravar só as guitarras,
Baixo, teclados, bateria e vocais
Mas eu sei que ninguém tira
O barulho que a plateia faz

Eu sei que eu vou estar lá
E ensaiei muito bem
Vou cantar e gritar
Vou participar
Do show e do disco também
Eu sei que eu vou estar lá
É muita emoção
Vou entrar nessa barca
Vou deixar minha marca
De lá ninguém me tira, não

OH, AMORRR!

Maxixe feminista e caipirista que nasceu em 2009 das conversas de uma amiga que chamava todo mundo de “oh, amorrr”, com o “r” retroflexo caipira. E descobri que a cantora Cristina Pini seria ideal para cantá-lo neste disco quando a ouvi cantando o xote “Beijo No Coração” no sarau Toca do Autor.

OH, AMORRR!
Ayrton Mugnaini Jr.

Oh amorrhr
Você só fica gozando de mim
Porque eu falo deste jeito assim
Co’essa pronúncia meio acaipirada
Oh amorrhr
Seria bom se fosse carinhoso
Mas eu notei, você quer ser maldoso
Isso me deixa muito chateada
Oh amorrhr
Você está querendo me esnobar
Só porque mora aqui na “capitar”
Você não sabe, mas me dá até dó
Oh amorrhr
Você querendo pode procurar
“Muié mio” cê não vai ncontrar
E até na roça tem “homi mió”

MATAVAH! (CANÇÃO JUDAICA CORINTIANA)

Em 2013 participei do primeiro festival Canto Por Ti, Corinthians com a marchinha "Japonesa Corintiana", que não passou da primeira semifinal, mas agradou tanto que fiquei empolgado a ponto de, após compor a quantidade máxima de três canções por inscrição, compor quase 20 canções dedicadas ao time e estar planejando um CD totalmente corintiano, com várias pessoas intérpretes e produção de outro ilustre corintiano, Thiago Marques Luiz. Uma das canções é esta, “Matavah”, que é exatamente isso, em homenagem aos factos de o Corinthians ter nascido no bairro do Bom Retiro e de quase todas as pessoas judaicas residentes em São Paulo (pelo menos as que conheço pessoalmente) serem corintianas. Ah, sim: “matavah” é “gol” em hebraico.

MATAVAH! (CANÇÃO JUDAICA CORINTIANA)
Ayrton Mugnaini Jr.

Na sexta-feira não posso me esquecer
Eu vou deixar ligada a TV
Não posso ter o trabalho de ligar
No sabadão o Corinthians vai jogar
Orgulho da nação judia
Transforma sofrimento em alegria
O meu Timão ao mundo já mostrou
Que não economiza gol
Hava, naguila, hava
O Coringão joga um bolão, na rede crava
Hava, naguila, hava
O Coringão é campeão que ninguém trava 

AMOR NO METRÔ

Sim, antes de ser compositor sou poeta, inclusive encarando e vivendo a vida como tal. E minha estreia como poeta publicado em livro foi graças a Deus e à Editora Matarazzo, com alguns de meus poemas incluídos na primeira coletânea da série Poesias Contemporâneas, em 2016. No evento de lançamento um destes meus poemas chamou a atenção de outra participante, Cristina Costa, que na hora me pediu: “Posso musicar?” Acedi e poucos dias depois ouvi o belo resultado, uma polca alemã (na linha de sucessos como “Tome Polca” de José Maria de Abreu e “Polca Duca” de César Brunetti) que desde então tenho cantado com gosto nos saraus. (E para não dizer que não falei de Beatles, a bateria homenageia Pete Best em alguns trechos.)

AMOR NO METRÔ
Cristina Costa
Ayrton Mugnaini Jr.

Hoje é dia de namoro
Eu vou ver o meu “amô”
E pra chegar mais depressa
Eu vou pegar o metrô

Aos avisos obedeço,
Pois eu quero chegar bem
“Ao toque da campainha,
Não entre ou saia do trem”

Se alguém prender as portas
Até posso criar caso
“Deixe as portas do trem livres!
Colabore, evite atraso!”

E o metrô já fala inglês:
“Next station, Carandiru!”
Quando eu vir o meu “amô”
Vou dizer: “I love you...”

FEIRA DE VINIL NA GALERIA TRIANON

Meu primeiro emprego foi de vendedor de discos no saudoso sebo Grilo Falante, na futura Galeria do Rock, em 1981-82, e um pouco antes eu havia começado a participar das primeiras feiras paulistanas de discos, nas casas dos saudosos William Baroni e Eddy Teddy. Por volta de 2007 compus este samba (e uma de minhas raras composições com apenas dois acordes, segundo o exemplo do amigo, parceiro e mestre Wilson Rocha e Silva) em homenagem a um dos maiores de tais eventos e de que sempre participo (apesar de um hiato de 2012 a 2018).

FEIRA DE VINIL NA GALERIA TRIANON
Ayrton Mugnaini Jr.

Se você ainda não viu
Vai lá ver que é muito bom
Vai ter feira do vinil
Na Galeria Trianon

Todo mundo que ama disco
Vai à feira e até goza
Gente que faz coleção,
Pesquisadora ou curiosa
E quem quer vender seus discos
Faz reserva com quem manja:
José Carlos Tangerino
Que não é nenhum laranja

Se você ainda não viu
Vai lá ver que é muito bom
Vai ter feira do vinil
Na Galeria Trianon

Essa feira é muito boa
E não tem só LP
Tem o que você quiser
Até CD e DVD
Vai gente do mundo todo
E uma coisa eu te digo:
Não existe disco velho
O nome certo é disco antigo

Se você ainda não viu
Vai lá ver que é muito bom
Vai ter feira do vinil
Na Galeria Trianon

FUI PEGO PELA LOIRA DO BANHEIRO

Uma das muitas canções que tenho composto para esse belo quadro na parede de minha vida que é a artista plástica Martha Maria Zimbarg - siiiim, autora da capa deste disco - , e parte da inspiração veio da famosa lenda da “loura do banheiro”.

FUI PEGO PELA LOIRA DO BANHEIRO
Ayrton Mugnaini Jr.

Eu tô feliz
Feliz o tempo inteiro
Porque fui pego pela loira do banheiro

Do banheiro e da sala
Do quarto de dormir
Ela me faz sonhar
Ela me faz sorrir
Me dá muito carinho,
Prazer e emoção
Ela é a minha loira
De todo o quarteirão

Eu tô feliz
Feliz o tempo inteiro
Porque fui pego pela loira do banheiro

Do banheiro e da sala
Do quarto de dormir
Ela me faz sonhar
Ela me faz sorrir
Ela me inspira
A compor canção e verso
Ela é a minha loira
De todo o Universo

Eu tô feliz
Feliz o tempo inteiro
Porque fui pego pela loira do banheiro

VOCÊ E O ZÉ MANÉ

Este iê-iê-iê é a única obra deste CD que tem raízes mais antigas que o século 21, pois compus a primeira parte da melodia em 1971 ou 1972, mas o restante da melodia e a letra surgiram de um ano para cá.

VOCÊ E O ZÉ MANÉ
Ayrton Mugnaini Jr.

Você é a minha amada
E sabe que é
Mas parece que romance
Não vai dar pé
Porque você está gamada em outro
Um Zé Mané

Você sabe que eu te amo
Com muita fé
Por você eu ando à noite
Na Praça da Sé
Você nem liga e fica olhando
Pro Zé Mané

Ele é um machista e folgado à toa
Ele não tem jeito, não
Ele só tem uma coisa boa
Que é o teu coração

Mas veja bem, nem todo bule
Tem bom café
E quem não sabe andar pra frente
Dá marcha-a-ré
Mas você, quem sabe, até merece
O Zé Mané

DONA INÁCIA (SAMBA DA FARMÁCIA)

Comentário social em forma de samba adonirânico, e marca a estreia em disco do companheiro de saraus João Cesar Gagliardi, que na hora de gravar modificou a melodia das estrofes o suficiente para entrar no samba como parceiro.

DONA INÁCIA (SAMBA DA FARMÁCIA)
João César Gagliardi
Ayrton Mugnaini Jr.

Dona Inácia
Mas que audácia
O Brasil tem cada dia mais farmácia
Dona Lia
Mas que agonia
Tem cada dia menos livraria

Tem remédio até pra bebida e gula
Porque tem tanta gente que não lê nem bula
Cultura é algo no Brasil considerado
Remédio forte, tarja preta e controlado

Dona Inácia
Mas que audácia
O Brasil tem cada dia mais farmácia
Dona Lia
Mas que agonia
Tem cada dia menos livraria

Hoje em dia as bancas têm até jornal
Livro em farmácia não seria nada mal
E cultura no lixo não se joga
Só porque tem muito livro que é uma droga

Dona Inácia
Mas que audácia
O Brasil tem cada dia mais farmácia
Dona Lia
Mas que agonia
Tem cada dia menos livraria

QUE FRIO!

Esta marcha-rancho nasceu em julho de 2018 em Caxambu, Minas Gerais, quando fui tocar num festival “bão dimais da conta” com Alexandre Tarica, Regina Cell, Rosangela Lopes e Sandro Silva, e reclamaram tanto do frio invernal que na hora comecei a compor esta marcha-rancho, concluída logo que voltei a Sampa. Sim, esta é mais uma de minhas canções-de-protesto-contra-quem-reclama.

QUE FRIO!
Ayrton Mugnaini Jr.

Que frio!
Você reclama e eu nem sei porquê
Tá frio
Mas tô quentinho perto de você
Que frio
Mas joguei fora meu aquecedor
No frio
Nada me aquece mais que o teu amor
No frio também te aqueço
Sou teu cobertor de orelha
Aqueço a tua testa
Com a minha sobrancelha
Do frio você reclama
Mas não fale o que não deve
Se é pra reclamar
Vai pra Moscou brincar na neve!
Aí já viu...

ELE TE AVISOU

Este ska nasceu em 2018 de uma conversa no ano anterior com uma amiga que se tornou ex-amiga. Vejam so o motivo. Ela se queixou do namorado que já havia lhe avisado que “não prestava”, mas ela pagou pra ver, e pagou caro; ela me contou que ele bateu nela três vezes, exclamei “três?! Eu não deixava passar da primeira” e ela reagiu “você é homem, não conhece mulher” e acabou me excluindo... Sim, sou da opinião de que homem que bate está errado, mas mulher que aceita apanhar também está...

ELE TE AVISOU
Ayrton Mugnaini Jr.

Não fique triste
Não fique brava
Ele te avisou
Que ele não prestava

Não adianta
Ficar infeliz
Você foi na dele
Porque você quis
A paixão é cega
Você se perdeu
Ele mesmo te avisou
Até desenhou
E mesmo assim você não leu

Não fique triste
Não fique brava
Ele te avisou
Que ele não prestava

Você diz que eu erro
Nisto que eu disser
Porque eu sou homem
Não conheço mulher
Mas eu sou mesmo chato
E vou reafirmar
Nem os homens, nem você
Nasceram pra bater
Muito menos apanhar

Não fique triste
Não fique brava
Ele te avisou
Que ele não prestava

MARIA Y MÁS BONITA

Este bolero é a única faixa instrumental do disco e a chamo de “bolero dos Indios de las Organizaciones Tabajara”, mas é um raro momento onde revelo mais lirismo que humor. Lancei este tema por volta de 2012 em versão demo com titulo “No Maria Y Más Bonita”, idealizando uma dama concorrente de Maria Bonita, não a cangaceira e sim a musa da canção mexicana de Agustin Lara, e removi o “no” do titulo ao conhecer Martha Maria Zimbarg; nada mais justo.

MARIA Y MÁS BONITA
Ayrton Mugnaini Jr.

Instrumental

MARCHINHA DA AURORA

A inspiradora é Aurora Marinho Zimbarg, nascida em 28 de maio às 11h13 – “quase às onze e meia da manhã” e filha de Celso Zimbarg e neta de Martha – sim, tornei-me, como diz meu filho Ivo, “avôdrasto”. Mas muita gente amiga me disse “que nada, você é avô mesmo”. De modo que o avô compositor e jornalista compôs esta marchinha praticamente na porta da maternidade.

MARCHINHA DA AURORA
Ayrton Mugnaini Jr.

Aurora
Chegou agora
Quase às onze e meia da manhã
Olhar tão vivo
E expressivo
Cê já chegou e eu já sou seu fã

Aurora, Aurora
Quem me vê já vê que eu sou avô babão
Aurora, Aurora
Quem te vê vê que eu tô cheio de razão
E de emoção

SOU LIXEIRO

Um de meus grandes orgulhos é ter participado da banda Magazine, liderada pelo saudoso Kid Vinil, e gravado com ela o disco Na Honestidade, lançado em 2002 e que, sem falsa modéstia, há de ser redescoberto e revalorizado, embora quase toda a grande imprensa tenha resolvido esnobar o disco. O diário belorizontino Hoje Em Dia proclamou que nenhuma faixa de Na Honestidade estava à altura de “Sou Boy” ou “Tic-Tic Nervoso” e implicou com a “fórmula” de “Sou Boy” ter sido seguida por outra ode a subempregos, “Sou Flanelinha”, comentando “Qual vai ser o próximo? ‘Sou Lixeiro’?” Pois eu gostei da sugestão e na hora pensei em compor uma canção com este mote – afinal, Lou Reed tem uma série de canções “Fulana Says” e ninguém reclama – , o que acabei concretizando agora em 2018. E a participação do trompetista Luiz Antônio da Silva (não confundir com seu preclaro xará do Beatles Cavern Club, também chamado de Luiz Lennon ou Big Bob), que tem dado canjas com a banda A4 Em PB nos eventos circenses, deixou a canção com um adorável jeitão de Muswell Hillbillies ou Everybody’s In Showbiz (ou, como meus "addicts" preferem, "Muswell Hillbregas" e "Everybody's In Showbrega").

SOU LIXEIRO
Ayrton Mugnaini Jr.

Eu sou lixeiro
Porque existe lixo
E existe muita gente
Sem muito capricho
Que passa a noite amando
Ou vê sessão coruja
Ou fica rezando
Pra que a sujeira fuja
    
Eu sou lixeiro
Hoje eu vivo assim
Mas imagina eu sem você
E você sem mim
Eu sou lixeiro
Sou lixeiro, sim
Mas imagina eu sem você
E você sem mim

Eu sou lixeiro
Enviado de Deus
Pra realizar
Os anseios teus
De um mundo mais lindo
E com mais perfeição
Uma pessoa agindo
E outras não

Eu sou lixeiro
Por enquanto eu vivo assim
Mas imagina eu sem você
E você sem mim
Eu sou lixeiro
Sou lixeiro, sim
Mas imagina eu sem você
E você sem mim






Jornal Hoje Em Dia (Belo Horizonte), 6 de maio de 2002.

PELEJA DA FEMINISTA MAL-HUMORADA COM O GALANTEADOR

Este cordel musical nasceu no fim de 2018, quando fiz uma grande descoberta: a palavra “gata” é (ou tornou-se) baixíssimo calão para designar (ao menos algumas) damas com quem não se tem grande intimidade, mesmo com intenção meramente afetuosa ou jocosa. Referi-me assim a duas amigas e a reação foi pior do que se eu lhes houvesse xingado as respectivas mães; elas até deixaram de ser minhas amigas. Nasceu então este tema, musicalmente inspirado na literatura de cordel que tenho ouvido muito no Sarau da Bodega desde que a ele fui apresentado por Martha Zimbarg; lancei a canção no Soundcloud numa pré-mixagem mono com direito a ilustração de Marthinha.

PELEJA DA FEMINISTA MAL-HUMORADA COM O GALANTEADOR
Ayrton Mugnaini Jr.

Ela saiu pra rua
Um estranho se encantou
E quis ser gentil com ela 
Lhe disse "Você é bela"
Sorriu mas não adiantou

Nuvens, trovões e raios 
Rasgaram o céu azul
Ela ficou brava que nem sei
Rosnou "Eu não te perguntei"
A gata virou pitbull

Ela entrou na internet
Um amigo veio dizer
Sem maldade mas na lata
“Você é mesmo uma gata”
Pra quê que ele foi dizer?

Ela surrou o teclado
Numa raiva das que sacodem
“Não te dei essa intimidade
Você me ofendeu de verdade”
Ela quase fritou o modem

Eu lembro que foi um horror
O tempo da ditadura
O seu final foi coisa boa
Mas hoje muita pessoa
É ditadora e faz censura

Pessoa mal-humorada
Difícil achar mel que adoce
Tem gente que não entende
Fica zangada e se ofende
Até com espirro e tosse

Mas atenção pra intenção 
Não tira pedaço de gente
Chamar de bonita e gata
Bandido bate, estupra ou mata
Mas boa gente é diferente

Ele disse: “Você é linda”
Ela rosnou: “Não perguntei nada”
Foi então que o rapaz
Lhe disse “te digo mais:
Você é linda e mal-educada”




PALHAÇA

Em 2009 tomei chá de serragem e me tornei circense ao elaborar uma pesquisa sobre música e circo, a pedido do Centro de Memória do Circo, e três anos depois fui convidado a participar como violonista e, ocasionalmente, contrabaixista numa temporada do Circo Pindorama, numa parceria do CMC com o Teatro Oficina (que cedeu o espaço, na Praça Pérola Byington) e o Bixigão (projeto social para crianças de rua). Sim, tornei-me circense de uma vez. E depois de mais três anos virei participante do Sarau Café do Circo, evento criado pelo CMC; no ano seguinte formamos a banda circense A5 Em PB, da qual sou maestro e contrabaixista. No ano seguinte (2017 para quem perdeu a conta) lancei em meu disco Dó, Ré, Mi, Fá... Sei Lá! o instrumental circense “Bailarina Palhaça” e compus o hard-bop circense “Palhaça”, tocado ocasionalmente pela A5 Em PB e sempre por meu trio Los Interesantes Hombres Sin Nombre, com quem inclusive gravei o tema neste disco, bem secundado pelo multi-instrumentista Chico Mar na flauta.

PALHAÇA
Ayrton Mugnaini Jr.

“Palhaço é ladrão de mulher”
Isso a gente sabe muito bem
Mas a palhaça, o que é?
Ela também vive roubando alguém

Palhaça!
Mas que palhaça!
Eu sei, palhaço eu também sou
Eu ia te roubar
Só que antes você me roubou


MAIS UM QUE BATE AS BOTAS
(ANOTHER ONE BITES THE DUST)

Meu filho Ivo sempre participa de meus projetos-solo desde 2004, aos dois anos de idade. Neste disco ele, que como o pai é admirador de Adoniran Barbosa e da banda Queen, comparece com sua sugestão de juntar esta àquele; é dele a ideia de substituir o riff de contrabaixo por um “quais-quais-quais” à moda de Demônios da Garoa e traduzir o titulo original como “Mais Um Que Bate As Botas”.

MAIS UM QUE BATE AS BOTAS
(ANOTHER ONE BITES THE DUST)
John Deacon
Versão de Ivo Tonso Mugnaini e Ayrton Mugnaini Jr.

Estevão vai pela rua
Andando com atenção
Escondendo a cara
Com a aba do chapelão
Só se ouvem os seus passos
Acompanhando o som
Das balas das metrancas
Esse ritmo é muito bom

É mais um que bate as botas
Mais um que se vai
Mais um que se vai
É mais um que bate as botas
Êi, vou te pegar também
É mais um que bate as botas

Eu também não estou legal
Você me sacaneou
Sugou tudo que eu tinha
E pra rua me chutou
Se você está feliz agora
É melhor aproveitar
Pois o jogo ainda não acabou
Você pode não aguentar

É mais um que bate as botas
Mais um que se vai
Mais um que se vai
É mais um que bate as botas
Êi, vou te pegar também
É mais um que bate as botas

A MILA

Colaborar na revista Cães & Cia. e escrever sobre posse responsável de seres caninos no portal Yahoo Brasil me habilitou o suficiente para ampliar a letra desta canção de Martha, que ao me conhecer decidiu se aprofundou na musica – assim como conhecer Martha me animou a retomar minha vocação adolescente de desenhista. Realmente, Martha canta direitinho – e suas próximas gravações serão ainda melhores, pois ela começou a ter aulas de canto com Tato Fischer (e segui o bom exemplo e também comecei!).

A MILA
Martha Maria Zimbarg
Ayrton Mugnaini Jr.

A Mila é bonitinha
Mila, Mila
A Mila é boazinha
Mila, Mila, Mila
A Mila é minha amiguinha
Mila, Mila
A Mila é minha cachorrinha
Mila, Mila, Mila

A Mila é boazinha
Mila, Mila
Pois sua família é uma gracinha
Mila, Mila, Mila
Lhe deu amor desde pequenininha
Mila, Mila
Toda fera assim vai ser mansinha
Mila, Mila, Mila

ATÉ, ATÉ, ATÉ A PRÓXIMA

Mais uma de minhas homenagens zombeteiras a João Gilberto, desta vez com uma microcomposição (à moda de “Bim Bom” e “Undiu”) de minha autoria. Lembrei-me também de “...Tem Uma Cidade”, gravação pesadinha de menos de um minuto que encerra o disco Atrás Do Porto Tem Uma Cidade de Rita Lee & Tutti-Frutti.

ATÉ, ATÉ, ATÉ A PRÓXIMA
Ayrton Mugnaini Jr.

Até a próxima
Até a próxima
Até, até, até a próxima