Friday, February 17, 2023

THIS MAN HE TWEETS TONIGHT: DAVE DAVIES VERSUS ELON MUSK



This is a bilingual post; first in English, then in Portuguese.

Este texto é bilingue, primeiro em inglês, depois em português.

I have been studying the English language since March 1970, and I think I have a potential student, born in June 1971; guess who he is.

While you're guessing, here we go: do you know the word “kink”? It has several meanings: loose lint on ropes or clothes (“iron out the kinks”); something that looks odd or weird; something perverted, risqué or pornographic but still soft or subtle enough to be socially acceptable (“kinky sex”); and it's also the name of one of the most influential rock bands since the 1960s, The Kinks (those ackwainted with me know that this is the English band that speaks to me the most, but it doesn't matter now).

Many new people use some gimmick to gather attention from the public and the media in order to get success. The Kinks' early managers had the idea of promoting them as mildly perverted, and they went along with it. In the very first press feature about the band, on the 22th of February 1964 issue of the Melody Maker newspaper (reproduced below), Ray Davies, leader and guitarist, declared that he and Dave Davies, his brother and the other guitarist in the band, were “sisters”; and there are promotional shots of the Kinks dressed in leather jackets and brandishing whips (an example is in the sheet music above — and, yes, they look like circus lion tamers). It didn't take long for the band and management to realise that such boutique SM was rubbish, and they came up with something better, those hunting jackets. But many Kinks songs mention or suggest sex, orthodox or less so (“Lola”, “Monica”, “Mirror Of Love”, “The Way Love Used To Be”, “Out Of The Wardrobe”, “Animal”). This story also brings to mind another Kinks song, “Destroyer”: “Paranoia, the destroyer”, or rather a dominatrix, a song that is very appropriate for this time when, as the Rolling Stones said, “it's all secrecy and no privacy” and, due to the misuse of the “politically correct” stance, more and more people are offended by less and less. You may know the precept “freedom of speech, just watch what you say”; well, currently the virtual society is so sensitive and easily offended that care must be taken when mentioning “v i 0 l e n c e”, “s e x”, “ d i s g r a c e”, “T r u m p” and even, lo and behold, the Kinks.

Well, have you guessed who could be the English student of mine I mentioned? Yes, that's him, Elon Musk, co-owner of Twitter and a bunch of other companies, including aptly named ones like Neuralink and Boring. Let's see how the Kinks got into this story (in addition to Musk being born shortly after the Percy movie soundtrack was released), which can be read about here. With no immediate plans to put out new or unreleased recordings, the surviving members of the original Kinks lineup – the aforementioned Davies brothers and drummer Mick Avory – decided to commemorate the band's 60th anniversary with a retrospective compilation, entitled The Journey, and Dave started spreading news about it on Twitter. Well, that network was programmed to interpret “kink” as perversion, and Dave received a warning: “We put a warning on this tweet because it might have sentitive content.” Upon receiving this, Dave sent a message to this could-be English student of mine: “Dear @elonmusk, please stop putting warnings on everything from ‘the Kinks’. We are just trying to promote our Kinks music.” Shortly thereafter, Dave, who, besides being absolutely right, has been speaking English since before me, gave Elon Musk his first lesson: “The Kinks are a brand name. We have been called the Kinks since 1963." Then Musk or someone on Twitter took a hint and posted a message: “After review, we removed the sensitive content warning from one or more recent Tweets. Thanks for helping us catch that mistake.” Aw, how lovely can a social network be?

Or could it? Dave received a screenshot from someone else who tweeted, "Though they said the warning was removed on appeal... it's still there." So Dave almost wrote a song lyric: “That's impossible. The word 'robot' should be banned. We have robots running our lives. At least I'm a Kink and not a f*cking robot." Another Kinks fan quoted the title from the 1981 Kinks album: “Elon Musk, give the people what they want!” And Dave quipped: “Give people what Elon Musk wants.” Isn't he lovely – Dave, of course.

"Telepathy/for you and me/we can be/a unity", sang Dave in the 1980s. Indeed, telepathy is better than Twitter psychopathy...

And on to the Portuguese version:

Eu estudo o idioma inglês desde março de 1970, e acho que tenho um aluno em potencial, nascido em junho de 1971; adivinhem quem é. 

Enquanto vocês adivinham, vamos lá: conhecem a palavra “kink”? Tem vários significados: fiapos soltos em cordas ou roupas (“iron out the kinks”); algo que pareça estranho ou esquisito; algo pervertido ou pornográfico mas ainda suave ou sutil o bastante para ser aceito socialmente (“kinky sex”); e é também o nome de uma das mais influentes bandas de rock desde os anos 1960, The Kinks (quem me conhece sabe ser essa a banda inglesa que mais me diz, mas isso não vem ao kauso). 


Muita gente nova usa algum chamariz para público, imprensa e sucesso. Os primeiros empresários dos Kinks tiveram a ideia de promovê-los como suavemente pervertidos, e eles toparam. Logo na primeira matéria sobre a banda, para o jornal Melody Maker em 22 de fevereiro de 1964 (reproduzida acima), Ray Davies, líder e guitarrista, declarou que ele e Dave Davies, seu irmão e o outro guitarrista, eram “irmãs” (sim, “we’re sisters!”); e há fotos promocionais dos Kinks vestidos com jaquetas de couro e brandindo chicotes (um exemplo está na partitura mais acima - e, sim, eles parecem domadores de circo). Não demorou para a banda e os empresários perceberem que esse sadomasô de butique era bobagem, e descobriram algo melhor, aquelas jaquetas de caça. Mas muitas canções dos Kinks mencionam ou sugerem sexo, ortodoxo ou nem tanto (“Lola”, “Monica”, “Mirror Of Love”, "The Way Love Used To Be", “Out Of The Wardrobe”, “Animal”). O tema desta publicação remete também a outra canção dos Kinks, “Destroyer”: “Paranoia, a destruidora”, antes fosse uma dominatrix, canção esta bem apropriada para esta época em que, já diziam os Rolling Stones, “tudo é segredo e nada é privacidade” e, devido a mau uso da postura “politicamente correta”, cada vez mais as pessoas se ofendem com menos; parafraseando Millôr Fernandes, o que é espúrio se torna moralidade e vice-versa. E se antes já havia o preceito “freedom of speech, just watch what you say”, atualmente a sociedade virtual está tão sensível e melindrada que é preciso cuidado ao se mencionar “v i 0 l ê n c i 4”, “s e x 0”, “d e s g r a ç a”, “C o l l o r” e até, vejam só, os Kinks. 

Pois bem, já adivinharam quem poderia ser o meu aluno de inglês que mencionei? Sim, ele mesmo, Elon Musk, co-proprietário do Twitter e de um monte de outras empresas, incluindo algumas de nomes bem adequados, como Neuralink e Boring. Vejamos como os Kinks entraram nesta história (além de Musk ter nascido logo após o lançamento da trilha do filme Percy), que pode ser conferida aqui. Sem planos imediatos de lançar gravações novas ou inéditas, os membros sobreviventes da formação original dos Kinks – os citados irmãos Davies e o baterista Mick Avory – resolveram comemorar os 60 anos da banda com uma coletânea retrospectiva, intitulada The Journey, e Dave divulgou isso no Twitter. Pois bem, essa rede estava programada para interpretar “kink” no sentido de perversão, e Dave recebeu um aviso: “Colocamos um alerta neste tweet porque ele pode ter conteúdo ofensivo.” Ao receber isso, Dave disparou uma mensagem a este meu quase aluno de inglês: “Prezado @elonmusk, pare, por favor, de colocar alertas em tudo que venha de ‘the Kinks’. Só queremos divulgar nossa música dos Kinks.” Pouco tempo depois, Dave, que, além de estar cheio de razão, fala inglês desde antes de mim, deu a primeira aula a Elon Musk: “Os Kinks são uma marca registrada (“brand name”). Nós usamos o nome Kinks desde 1963.” Aí Musk ou alguém no Twitter se tocou e publicou uma mensagem: “Após verificação, removemos o alerta de conteúdo ofensivo de um ou mais tweets recentes. Agradecemos por ter nos ajudado a descobrir esse erro.” Mas não é muita fofura para uma rede social só? 

Até poderia ser, se Dave não tivesse recebido de outra pessoa twitteira uma captura de tela com uma mensagem: “Disseram que o alerta foi removido... mas ele continua lá.” Então Dave quase compôs uma letra de música: “Isso é impossível. A palavra ‘robô’ deveria ser proibida. Robôs estão comandando nossas vidas. Pelo menos eu sou um Kink e não uma p* de um robô.” Outro fã dos Kinks citou o título do álbum Give The People What They Want: “Elon Musk, dê às pessoas o que elas querem!” E Dave ironizou: “Dê às pessoas o que Elon Musk quer.” Esse, sim, é um fofo – Dave, claro.

"Telepathy/for you and me/we can be/a unity", cantou Dave nos anos 1980. Realmente, telepatia é melhor que a psicopatia do Twitter...

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