Sunday, January 19, 2014

ATÉ TU, BARÃO

Um de meus heróis é o humorista Barão de Itararé, "al secolo" o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895/1971), que no começo da carreira usou também a alcunha de Apporelly. Meu primeiro contato com sua obra foi na bela matéria "O Único Barão Da República", publicada na revista Realidade na virada dos anos 1960 para 1970; foi lá que conheci frases lapidares como "Os calos são produzidos por sapatos de qualquer cor" e "O que se leva desta vida é a vida que a gente leva", além de seu famosa prova oral onde o mestre perguntou "quantos rins nós temos?" e ele respondeu "quatro, o professor dois e eu dois". Mais tarde conheci outras suas frases, como "As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra" e "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato", além de seu lado libertário e combativo contra a censura e prepotência dos anos 1920 a 1970. Por exemplo, sobre a disputa pela Presidência entre Jânio Quadros e o Marechal Lott, ele mandou "É preciso enquadrar o Lott e lotear o Jânio". 

O Barão é o tipo de humorista conhecido até por quem nunca ouviu falar, e seu humor influencia até hoje; basta lembrar que sua frase "Mulher, cachaça e bolacha em qualquer canto se acha" foi adaptada por Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles no samba "Mulher, Patrão e Cachaça", derradeira parceria de ambos.

  
Apporelly já tem pelo menos três biografias, as duas curtinhas Barão de Itararé - O Humorista Da Democracia de Leandro Konder (editora Brasiliense, 2003) e Barão de Itararé - Herói De Três Séculos por Mouzar Benedito (editora Expressão Popular, 2007) e o calhamaço Entre Sem Bater por Claudio Figueiredo (Editora Casa da Palavra, 2012). Até onde sei, nenhum desses belos livros sobre o Barão de Itararé menciona um disco 78 RPM com um de seus textos, "Martírio Violento", lançado em 1929 pelo cantor e humorista carioca Mirandella (Boabdil Miranda Varejão, 1887/1947) e que consegui resgatar com selo e tudo (embora eu prometa uma digitalização melhor para quando eu puder).






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