Wednesday, October 26, 2011

TOMA GÁ, DÁ CÁ

A discussão sobre o sobrenome do ditador líbio Muammar Gaddafi - que, segundo ele mesmo, pronuncia-se "Kadafi", com som de "k" e não de "gh" - me fez lembrar de outras similares, inclusive na questão de romanização, representação em nosso ABC de palavras criadas em outros sistemas de escrita. Vejamos os líderes russos Kruschov e Gorbachov; se a pronúncia é claramente "o", por quê escrever "e", "Kruschev", "Gorbachev"? Como resumiu Mário de Andrade, se é para ser fiel à grafia russa, usemos o alfabeto russo de uma vez. (Já bastam o escritor Tchekhov, onde na verdade o "k" é quase mudo e a pronúncia está mais para "tcherrov", e o compositor tcheco Dvorak, cujo nome, todo mundo sabe, se lê "Dvorjék".)

Nem vou entrar por ora na questão de certos sons serem impronunciáveis para certos povos, como o "xibolete"/"sibolete" bíblico, os japoneses e as letras "l" e "v" e regiões do Norte-Nordeste brasileiro onde não se usa "s", "coisa" soando como "corra" etc. Mas vou lembrar como o som "gh" pode ser entendido como simplesmente "k", não só no caso do idioma árabe de Kadafi, mas entre idiomas ocidentais mesmo. Como se sabe, o nome Caetano vem de Gaetano, originalmente "da cidade de Gaeta". E este K voltou a ser G pelo menos uma vez, no ingresso deste show a que assisti, em 1989, quando estive em Nîmes, na França.



Outro detalhe: a ordem de apresentação foi João Gilberto, Caetano Veloso e por fim João Bosco. Nelson Motta comentou em seu livro Noites Tropicais que ninguém canta depois de João Gilberto; imagino o que ele teria achado deste show.

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