DISNEY E A MUSICA BRASILEIRA - PINOQUIO REDISNEYZADO
No meu estudo agora em pleno andamento sobre a Disney e a música brasileira, descobri discos que entraram
para a discografia disneyana brasílica sem querer. Aqui vai um deles.
Em 1968 nasceu a
revista Pais & Filhos, primeira publicação brasileira dedicada a cuidados e
educação de crianças (e que está nas bancas até hoje!). E nasceu bem grande:
além da revista, as bancas receberam uma bela série de fascículos chamada Pais
& Filhos – Edição Sonora Infantil, em conjunto com a Philips (selo da
gravadora brasileira que talvez seja a campeã em mudanças de nome: já foi
Companhia Brasileira De Discos, Phonogram, Polygram e, até o momento da edição
deste livro, Universal Music). Cada fascículo recontava um clássico da literatura
para crianças em textos e ilustrações, trazendo como brinde um compacto simples
com texto e canções da história utilizando o elenco da gravadora. Imaginem
histórias infantis contadas ou interpretadas por artistas como Nara Leão, Jair
Rodrigues, Jackson do Pandeiro, Joyce, Maria Creuza, Cynara (do grupo vocal
Quarteto em Cy), além de pessoas de teatro e TV como Henriqueta Brieba, com a parte musical a cargo de João Mello e Fernando Lobo (pai do igualmente grande Edu
Lobo). Pois bem, o segundo lançamento da série Edição Sonora Infantil foi
Pinóquio, destacando a cantora Nara Leão, em 1968 (e o elenco inclui Magalhães Graça, Cleonir Santos e Selma Lopes e o agora centenário Orlando Drummond). A adaptação está boa, inclusive com um leve sabor de "pilantragem" nos arranjos de Luiz Almeida (podes conferir aqui), mas nada no
texto, canções ou ilustrações lembra a versão de Disney da famosa história de
Carlo Collodi. Disney passa a ter algo a ver com este projeto à moda de Pilatos no Credo em 1982; vejamos.
A gravadora, então chamada Polygram, lançou o selo Polyjunior, especialmente
para o público infanto-juvenil; boa parte do catálogo da Polyjunior são
relançamentos dos compactos da série Edição Sonora Infantil da revista Pais
& Filhos. Sim, foi muito bom ter de volta essa série (inclusive em estéreo,
enquanto os originais dos anos 1960 eram mono), embora os discos viessem com
capinhas simples e sem nenhum nome dos elencos originais, apenas tascaram
“Elenco Polyjunior” e pronto. Aliás, quase nenhum nome dos elencos originais –
e é aqui que a Disney entra este disco e ele entra neste livro. A atriz e
cantora Lucinha Lins havia acabado de lançar seu primeiro álbum, Sempre, Sempre
Mais, pela mesma gravadora. O álbum incluiu uma versão em português de “When You
Wish Upon A Star”, uma das mais emblemáticas canções da Disney, de sua
adaptação de Pinóquio; só que não é a mesma versão intitulada “A Estrela Azul”
e feita por Paulo Soledade para a dublagem brasileira original de 1946 do desenho, nem a
versão “Quando Se Pede A Uma Estrela”, feita pelo ator paulistano Zacharias
Yaconelli (1896/1976, famoso
também como orientador da pronúncia inglesa de Carmen Miranda e da brasileira
de Joseph Calleia) e gravada simultaneamente por Orlando Silva e Cândido
Botelho em 1940 (além de regravada por Francisco Petronio em 1968); “A Estrela
Azul”, de Paulo Soledade (autor de clássicos da MPB como “Estrela Do Mar” e
“Estão Voltando As Flores”), lançada por Paulo Tapajós em 1946 (e regravada em
ritmo de samba por Martinho da Vila em 2010); e a mais recente “Se Uma Estrela
Aparecer”, de Vitor Martins, lançada por Lucinha Lins em 1982 (e regravada em
1997 por Chitãozinho e Xororó com participação da filha deste, Sandy).
E adivinhem o que aconteceu? A nobre
alma que coordenou a transformação da adaptação de Pinóquio da Edição Sonora
Infantil em disco da Polyjunior teve uma brilhante ideia. Ela deu um jeito de
incluir esta gravação de Lucinha Lins, e não teve dúvida em cortar alguns
minutos da história original, muito menos em incluir na capa do disquinho a
chamada “Participações especiais: Lucinha Lins e Nara Leão”! Ouça aqui.
Para completar a
salada, a capa desta e de outras reedições da Polyjunior foram criadas pelo
estúdio de Mauricio de Souza, o artista que mais perto chegou de ser um Disney
brasileiro.
Mas o album com as belas ilustrações não sumiu de vez: no mesmo ano de 1982 ele voltou às bancas em separado, embora sem menção alguma ao facto de ser reedição...
(E vale lembrar que Orlando Drummond, além de participar deste disco, aparece também na segunda dublagem do desenho Branca de Neve da Disney, de 1965, fazendo a voz do anão Atchim.)
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