Tuesday, July 12, 2016
Uma as primeiras coisas que se aprende ao estudar o circo brasileiro é
que a comunicação de massa tem muita influência do circo; deste vieram muitos
dos primeiros grandes astros do rádio e da televisão. Inevitavelmente, toda
literatura ou tratado sobre a televisão brasileira fala do circo, e muita gente
conheceu o circo na televisão – a definição de televisão como “circo
eletrônico” resume tudo. E em minha pesquisa sobre música brasileira e circo
descobri uma pequena filigrana em No
Princípio Era o Som – A Minha Grande Novela, belo livro de memórias (Editora Madras, 1999) do grande diretor de
televisão Régis Cardoso (1934/2005), que no começo da carreira exerceu também
funções como músico, cenografista e até maquiador. Pois bem, assim lembra Régis
Cardoso um detalhe de um seu trabalho com o diretor Oduvaldo Vianna, pai, no
documentário Poeira De Estrelas
(1948) que incluiu o grande violonista Antonio Rago e seu conjunto regional.
“Havia coisas estranhas, como maquiar de branco o
pandeirista do Regional do Rago, Zé Pretinho. Naturalmente, ele ficava com cara
de palhaço.”
Zé Pretinho? Na hora me lembrei daquele famoso
personagem da MPB e da malandragem carioca dos anos 1930, que teve até uma
briga com Noel Rosa (até hoje só vi uma foto dele, esta mesma, publicada no
livro Noel Rosa, Uma Biografia.).
Mas este Zé Pretinho percussionista do conjunto de Antonio Rago é outro.
E nenhum deles foi pioneiro no uso deste pseudônimo na MPB: há pelo menos um
precursor, Zé Pretinho do Tucum, do qual até o momento apenas sei ter sido “o
maior cantador e repentista do Piauí” e que em 1914 travou um desafio com Cego
Aderaldo, desafio este lendário a ponto de inspirar um clássico da literatura
de cordel, A peleja de Cego Aderaldo e Zé Pretinho, escrito por Firmino
Teixeira do Amaral, e que pode ser lido e baixado em locais como este.
Além deste arretado Zé Pretinho piauiense, no Nordeste
há pelo menos mais dois Zé Pretinhos musicais. Um é o compositor e
cavaquinhista Zé Pretinho da Bahia, nascido nos anos 1930 e que tem composições
gravadas por ele mesmo e também Beth Carvalho, Noite Ilustrada e outros; há uma breve mas boa biografia aqui.
O outro é o líder da paraibana Banda Cabaçal do Mestre Zé Pretinho, formada m
1971 na cidade de Tavares e uma boa prova de que banda de pífanos não são exclusividade
pernambucana. Mais detalhes aqui.
E, sim, tem outra Banda do Zé Pretinho, aquela
formada no Rio de Janeiro por Jorge Ben Jor e revelada no disco homônimo de
1978. Este LP é histórico por, além de sua qualidade e sucesso, ter sido o
primeiro na gravadora Som Livre após muitos anos no selo Philips.
Todos esses Zés Pretinhos parecem ter tido
inspiração no Zé Pretinho da umbanda, espécie de “malandro do bem”; se até
pessoas entendidas em umbanda o confundem com o similar Zé Pelintra, não serei
eu, com meu pouco estudo no assunto, a me arriscar a dizer bobagem e ter meu pé
puxado à noite... E aqui vai um ponto de umbanda em homenagem a ele. Saravá! Zambá, Zambé, Zambi, Zambó, Zambu...
0 Comments:
Post a Comment
<< Home