ACONTECE QUE ELE É CAYMMI: ENTREVISTA A BIG MUG EM 1994
Um de meus grandes orgulhos como
pesquisador e jornalista foi ter entrevistado um de meus heróis, o compositor e cantor Dorival Caymmi (1914/2008), quando ele completou nada aparentes 80 anos de
idade, em 1994. A entrevista rendeu uma matéria para a saudosa revista Qualis,
e eu e o fotógrafo Carlos Mancini fomos recebidos pelo autor de “Sábado Em
Copacabana” no seu apartamento carioca em 20 de outubro de 1994 – uma
quinta-feira em Copacabana. Dorival nos falou de toda sua carreira por duas
horas e meia, e só parou porque tinha de acompanhar em consulta médica a esposa
, Stella Maris (“minha gata”). A entrevista foi gravada (em boas e fieis fitas
cassete) e pode ser ouvida aqui na íntegra; confiram o mestre lembrando suas
primeiras notas ao violão com “Tatu Subiu No Pau”, uma breve porém marcante
interpretação da valsa “Boa Noite, Amor” de José Maria de Abreu e Francisco
Mattoso, a então recente “Maricotinha”, seus elogios a artistas como Jorge Ben Jor e Almir Sater, suas
opiniões sobre o rock and roll e o pagode moderno, o que significa “liforme” e
muito mais, mantendo a boa voz do radialista que foi quando jovem na Bahia. Ouçam aqui.
E temos abaixo o artigo resultante da entrevista, publicado em novembro de 1994 e incluindo a mais completa discografia publicada até
então (pena que aparentemente este artigo não chegou à atenção de Stella Caymmi quando
ela escreveu seu sumamente recomendável livro sobre o avô, O Mar E O Tempo,
lançado pela Editora 34 em 2001).
(Carlos Mancini tirou fotos de
repórter e entrevistado, mas não as localizei no momento; voltarei para incluir
tão logo elas apareçam.)
Aproveitei a viagem, a qual foi pequenininha, para pedir a Dorival que autografasse alguns itens de meu acervo, o que ele fez prazerosamente, e ao longo deste tópico coloquei amostras como esta.
E, além da entrevista em áudio e da matéria publicada, resolvi trazer para o blogue alguns bônus de informações sobre Dorival (notem que
quase sempre procuro evitar me referir a ele como apenas “Caymmi” – embora ele
próprio fizesse isso –, pois sua prole já há décadas honra muito o sobrenome).
CAYMMI E TOM
Ainda em novembro de 1994, mal saiu esta edição da revista, perdemos Tom Jobim,
e a Qualis fez um número especial sobre ele. A redação colheu depoimentos de
pessoas ligadas a Mr. Jobim, e obviamente uma das primeiras pessoas a serem
lembradas foi Dorival Caymmi, que inclusive fez várias gravações com o jovem
colega (Tom era quase treze anos mais moço que Dorival); a boa repercussão de
minha entrevista com Dorival garantiu-me a honra de falar com ele sobre Tom. E assim falou o mestre baiano (pena que desta vez não tive como gravar...):
“Eu não gosto de enterros, não fui ao enterro. Meu jovem amigo Tom é um ser
vivo. Por toda a minha vida eu sei que vou amá-lo!”
ENCARTE DE CAYMMI
Não é todo mundo que sabe que um
dos primeiros LPs de Dorival Caymmi, Sambas De Caymmi, um 10 polegadas lançado
em 1955, tem um encarte com as letras do disco. Este encarte tem ilustrações do
próprio Caymmi e é hoje bem mais raro que o disco. Aqui vai ele,
completo com a capa de meu exemplar autografado.
CAYMMI E A PUBLICIDADE
Ser antitabagista não me impede de lembrar uma canção de Dorival Caymmi composta especialmente para uma marca de cigarros em 1975, mas que, felizmente, funciona independente dos ditos como uma canção laudatória ao Brasil no melhor sentido, lançada num hoje raro compacto simples.
Outro grande nome da MPB que
merece um grande estudo destes é o saudoso multi-instrumentista Garoto (1915/1955), que
em sua curta vida e carreira fez shows e gravações com artistas diversos como Carmen
Miranda, Laurindo Almeida, Aracy de Almeida, Alvarenga & Ranchinho, Paraguassú,
Mario Albanese e, siiiiim!, Dorival Caymmi, como prova a primeira gravação de
“Promessa De Pescador” (a mesma regravada por Carlos Santana décadas depois).
de 1939 – temos aqui os selos de reedições dos anos 1940 e 1950.
CAYMMI E O CIRCO
Um artista dos mais importantes como Dorival Caymmi não poderia faltar em minha pesquisa sobre a música brasileira e o circo. Pois bem, o mais grandioso show de sua carreira foi num circo - mais exatamente, as ruínas do Circo Massimo de Roma, em agosto de 1983, participando de um megaevento - talvez o maior já realizado - de música brasileira no exterior; há mais detalhes no livro O Mar E O Tempo. E trarei o que mais eu descobrir sobre Dorival e o circo.
O CANTOR DORIVAL CAYMMI
Dorival Caymmi, além de cantor e
violonista dos melhores, poderia ter feito uma bela carreira apenas com seus
dotes vocais,como demonstram suas poucas e boas interpretações de canções
alheias. Talvez a melhor seja “Na Baixa Do Sapateiro” de Ary Barroso –
justamente “o mais baiano dos compositores não nativos da Bahia”. Ouçam aqui. Outro bom exemplo é sua gravação
de “Essa Nêga Fulô”, versos de Jorge de Lima musicados por Oswaldo Santiago (e
que ganhariam melodia diferente de Waldemar Henrique na gravação posterior de Jorge
Fernandes), lançada em 1941 pelo selo Columbia e relançado dois anos depois,
logo após este selo ter mudado de nome para Continental. Notem o sobrenome de
Caymmi grafado no selo de forma mais próxima ao original italiano, “Caimi” (um
bom resumo da genealogia está no livro O Mar E O Tempo).
CAYMMI DIGITAL
Quase toda a obra de Dorival
Caymmi foi lançada pela gravadora Odeon (mais tarde rebatizada EMI), que em 2000
reuniu tudo (ou pelo menos quase) numa bela caixa de CDs, Caymmi, Amor E Mar
(uma caixa mesmo, com mais de 14 faixas por CD). Não faltou o primeiríssimo
disco – e também primeiro sucesso – de
DC, “O Que É Que A Baiana Tem?”, em dueto com Carmen Miranda, de 1939. Por ora,
tenho alguns dos primeiros compact-discs de Dorival, inclusive um que é quase
caso para o PROCON: uma coletânea de faixas de Dorival e Nana onde apenas uma
faixa é realmente dueto de pai e filha, as outras sendo gravações solo dele e
dela – mas este CD vale a pena por reunir raridades do paizão dos anos
1940, como a gravação original de “Marina”, em andamento bem mais vivo (e, ao menos para mim, melhor) que o samba-canção em que a canção se tornou.
CAYMMI INSPIRADOR
E
já que no meu espaço posso falar de mim, lembrarei duas canções
caymmianas de minha autoria, uma mais bem-humorada e a outra mais lírica. A engraçadinha é “Claudia Eliana”, de 1995, com influência direta da
entrevista e de semanas ouvindo o mestre e seguindo-lhe o exemplo de colocar em
música damas que já são poemas e melodias. Podes ouvi-la aqui. E a bonita é “A Letra Do
Caymmi”, de 2011, versos meus com belas melodia e interpretação da parceirona Socorro
Lira – sim, trata-se de uma paraibana e um paulista homenageando um baiano. Ouça aqui.
Terminando pelo começo, incluo uma imagem do citado primeiro disco de Dorival Caymmi, que cantando modas muita figura fez e do danado do samba nunca se separou...
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