Rrrrrespeitável público, venho por meio desta homenagear um artista circense entre artistas circenses: o palhaço, músico, compositor, ator, jóquei, equilibrista, memorialista de circo e professor de artes circenses (quer mais? Pois bem, ele foi também motorista de ônibus transformados em trailers circenses quando motoristas sumiam durante excursões do circo) Picolino II, "al secolo" Roger Avanzi, nascido em São José do Rio Preto a 7 de novembro de 1922 (exatamente dois meses após a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil e no mesmo ano da Semana de Arte Moderna) e falecido agora em 10 de dezembro de 2018, em pleno Dia do(a) Palhaço(a).
Roger Avanzi/Picolino aos 90 anos.
Sim, Roger Avanzi foi um dos melhores exemplos do que chamarei de "longevidade palhaçal", a exemplo de outros grandes palhaços como Arrelia (99 1/2 anos de vida e alegria) e Carequinha (quase 91 anos). (Por sinal, comentei sobre isso com o grande parlapatão Hugo Possolo e ele respondeu "é por isso que meu epitáfio vai ser 'ainda bem que me atrasei muito para chegar aqui'".) Roger Avanzi teve longa vida e longa carreira que não conseguirei resumir aqui mas que merece ser conhecida, além de ser um Roger que merece no mínimo tanta atenção quanto alguns xarás têm recebido por aí,mas sem necessidade de apelar para polemíticas (termo para designar polêmicas políticas e que inventei agora sem saber se já existia ou não). Reúno aqui alguns detalhes e curiosidades.
Coisa boa foi RA ter recebido muitas flores em vida, como esta homenagem da Câmara Municipal de São Paulo, desfilar com a escola de samba paulistana Unidos de Vila Maria no carnaval de 2014, ter sido um dos primeiros professores de artes circenses no Brasil (pupilos ilustres incluem o saudoso ator Domingos Montagner)... Muita gente o conheceu no programa Bambalalão da TV Cultura, onde ele cantou canções como a marchinha "Careca E Barrigudo", de sua autoria, incluída no LP Tic-Tac E Seus Amigos, lançado em 1985 (e que tenho tocado no meu programa Rádio Matraca a propósito de temas como calvície e palhaçaria musical).
Conheci Roger Avanzi quando me tornei (ou me descobri) circense, a princípio como pesquisador, em 2009 (com um trabalho sobre música e circo a pedido do Centro de Memória do Circo), e depois como músico de bandas circenses (contrabaixista, violonista, percussionista e maestro) desde 2012; cheguei a tocar com ele em algumas edições do Sarau do Circo e a homenageá-lo com uma de minhas composições menos humorísticas (sim, tenho algumas), "O Velho Palhaço", em 2013. Quatro anos depois, foi minha vez de ser homenageado, pelo Sarau da Casa Amarela, e ganhei uma bela surpresa. Sempre pronto a acompanhar todo mundo ao contrabaixo ou outro instrumento que eu tiver à mão, comecei a tocar com o cantor Henrique Vitorino (ao lado do poeta e ator Milton Luna) - e ele, ao escolher uma canção minha para cantar, mudou a introdução para que eu não percebesse que era uma canção minha! E que canção minha ele escolheu? Sim, "O Velho Palhaço"! Notem minha expressão de surpresa no vídeo... E gostei da interpretação de Vitorino a ponto de incluir a canção em meu disco Dó, Ré, Mi,Fá.. Sei Lá! na voz de Vitorino, que também tocou violão na gravação, a qual incluiu este Mug que vos tecla no contrabaixo e na guitarra e Gi Vincenzi na bateria e percussão; ouça aqui.
Por sinal, esta não foi a primeira nem a segunda canção em tributo a Roger Avanzi/Picolino; outras incluem "Picolino" de José Francisco Monteiro "Francis" (no mesmo LP Tic-Tac E Seus Amigos citado acima) e "Macô" de Chico Science (do disco Afrociberdelia, de 1996, e regravada por Karina Buhr para o CD A Música Do Circo Nerino, do qual falaremos mais daqui a pouco).
Roger Avanzi em 1940, antes de se tornar o palhaço Picolino.
Numa coincidência - para quem acredita em coincidências - interessante ao menos para mim é Picolino ter participado em 2000 (ao lado de Tônia Carrero, também de longas vida e carreira e também falecida agora em 2018) numa montagem da peça O Jardim Das Cerejeiras de Tchekhov; eu já havia começado a rabiscar uma versão musical desta peça, e lancei uma das canções ("Meu Bandolim") no mesmo disco em que incluí meu supramencionado tributo a Roger Avanzi.
CD A Música Do Circo Nerino. Já tens teu exemplar?
RA foi também um dos fundadores do mencionado Centro de Memória do Circo, inaugurado em 2009, além de co-autor do altamente recomendável livro Circo Nerino (sobre o circo fundado por seu pai, o palhaço Nerino Avanzi (1886/1962), o Picolino I) em parceria com a artista e pesquisadora circense Verônica Tamaoki e lançado em 2004. O Circo Nerino tem também um belo registro sonoro no CD A Música Do Circo Nerino, lançado em 2014 e de que tive a honra e prazer de participar na pesquisa de repertório e até cantando um pouco ao lado ao lado de pessoas ilustres como as cantoras Karina Buhr e Letícia Coura e o percussionista Marcio Forte (meu companheiro em outros projetos). Leiam mais aqui.
Livro Circo Nerino. Idem?
Lembremos também que Roger Avanzi é tio da artiz Renée de Vielmond mas não é o mesmo Picolino pai do humorista Dedé Santana; e aqui mesmo neste meu blogue escrevi um tópico sobre possível confusão entre este e outros Picolinos, que pode ser lido aqui.
Enfim, Roger Avanzi se foi mas sempre ficará. E "o espetáculo ainda continua..."
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