...EM TODO INSTRUMENTO SE CANTA E GEME DE VERDADE
Em março a Folha de S. Paulo, aproveitando o lançamento do novo filme inspirado na composição "O Menino Da Porteira", pesquisou as composições sertanejas mais queridas, de acordo com vários artistas, profissionais de comunicação e pesquisadores musicais (este que vos tecla foi um dos consultados). A mais votada foi "Tristezas Do Jeca", e a reportagem (cuja versão online está aqui: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u535294.shtml) foi publicada em 16 de março. Pois bem, aqui vai uma pequena homenagem para sonorizar a leitura deste bom trabalho.
"Tristezas Do Jeca" (o título original é no plural mesmo) foi composta por Angelino de Oliveira em 1918 e sua primeira gravação foi feita pela Orquestra Brasil-América em 1923, só que instrumental; o primeiro registro com letra é de três anos depois, por Patrício Teixeira. (A gravação de Paraguassu, tida por muitos como a original, é de 1937 - foi "apenas" a primeira a fazer grande sucesso.)
Patrício Teixeira - Tristezas Do Jeca
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Clássico entre os clássicos da canção caipira e popular, "Tristezas Do Jeca" tem sido regravada por artistas de várias épocas e gêneros. Um bom exemplo é do arretado Luiz Gonzaga, em 1982.
Luiz Gonzaga - Tristezas Do Jeca
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Gonzagão nem foi o primeiro sanfoneiro a gravar "Tristezas Do Jeca" em estilo nordestino; em 1953, quase três décadas antes, foi a vez do gaúcho Chiquinho do Acordeon (por sinal, a música sertaneja gaúcha influenciou muito a nordestina; Gonzagão foi inclusive imitador confesso de outro gaúcho, Pedro Raymundo).
Chiquinho do Acordeon - Tristezas Do Jeca
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Artistas mais sofisticados, inclusive eruditos, estão sempre atentos para inspiração vimda de toda parte, e intérpretes urbanos também captaram a beleza da melodia de "Tristezas Do Jeca". Três bons exemplos são o Zimbo Trio (em 1983), o violonista Carlos Iafelice (c. 1982) e o pianista erudito Charles Franz (1988).
Zimbo Trio - Tristezas Do Jeca
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Carlos Iafelice - Tristezas Do Jeca
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Charles Franz - Tristezas Do Jeca
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Há pelo menos duas versões country de "Tristezas Do Jeca". Uma é de 1976 por um grupo chamado Os Peões (de um LP intitulado Brasil Country, lançado pelo Fórmula, selo da Continental mais lembrado hoje por pop-brega-comercial cantado em inglês). A outra é de 1985, com o grupo Hillbilly, num LP produzido como brinde de fim de ano pela Cincom Systems. (Detalhe: o LP dos Peões, lançado como apenas um produto - embora muito bom - , não traz informação alguma sobre o grupo, enquanto o disco da Cincom dá todos os detalhes sobre a gravação, incluindo vários artistas.)
Os Peões - Tristezas Do Jeca
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Hillbilly - Tristezas Do Jeca
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Lembraremos também do grande violeiro mineiro Renato Andrade (aliás, ele declarou não gostar da palavra "violeiro": “Muito pejorativa. Não poderia ser violista porque existe o executante da viola de orquestra. Mas há uma outra palavra, se bem que sofisticada demais, que me caberia: violanista”), em sua gravação de 1985.
Renato Andrade - Tristezas Do Jeca
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E se "tristezas" lembram "choro", não poderia faltar uma gravação em choro - e aqui está, feita pelo trombonista Zé Festa (num LP todo no estilo, Choro No Sertão) em 1983.
Zé Festa - Tristezas Do Jeca
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Vale lembrar que a canção inspirou um filme homônimo de 1960, dirigido por Milton Amaral e estrelado por Mazzaroppi (a propósito, já que "O Menino Da Porteira" inspirou dois filmes, está mais que na hora de um segundo filme sobre "Tristezas Do Jeca"). E muitas destas informações foram reunidas em minha Enciclopédia Das Músicas Sertanejas (Letras & Letras, 2001), primeira enciclopédia sobre o assunto e que, não me avexo em dizer, ainda aguarda patrocínio e/ou editora para reedição.
Labels: MPB, música sertaneja
1 Comments:
Ayrton,
sobre você, meu contrabaixista predileto, faltou dizer, no perfil, que você é um cara indescritível. Não falo somente da inteligência aguda, sempre posta, da sua cultura, nosso Google particular... Você é um cara porreta! Um amigo indispensável.
LHC, a mulher-sigla
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