Wednesday, September 24, 2014

SLADE: NÓIS É NOIZE

Atendendo a vários pedidos - não meus, e sim de pessoas fãs de rock dos anos 1970 - , trago para cá uma matéria que escrevi na revista Metal Massacre em 2001 (vale lembrar que o editor era o emérito René Ferri) sobre a banda inglesa Slade, uma de minhas preferidas desde então até hoje.

Não atualizei o texto, mas o "remasterizei" e "remixei" corrigindo alguns errinhos.

Como fundo musical, e para mais curiosidade, não incluí gravações originais do Slade, em catálogo em lojas físicas ou virtuais, mas sim uma coletaneazinha de regravações raras e curiosas, a maioria "covers" fantasmas do tipo Top Of The Pops (quase sempre muito bem feitas, exceto detalhes como a guitarra em "Gudbuy T'Jane" e o vocal em "Take Me Bak'Ome"), e até uma versão brasileira.

(Ah, sim: o Slade marca presença em minha pesquisa sobre música e circo graças à capa do álbum Nobody's Fools.)

SLADE

por Ayrton Mugnaini Jr.

Um dia, se me deixarem, lanço um livro sobre todos os artistas de que gosto desde a juventude, pouco me importando se o mundo em volta os odiasse. Por enquanto, graças a Deus e à Metal Massacre, vou apresentando tal livro em doses homeopáticas, um ou dois artistas por número da revista. E quantos discordarão de que o Slade havia de ser um dos primeiros?

Na época de maior sucesso do Slade, a primeira metade dos anos 1970, ele parecia ser apenas mais um expoente do “glam-rock”, uma evolução do bubblegum, com ritmos pulsantes, guitarras altas e distorcidas e melodias pegajosas, estilo este que fez a glória de artistas como Suzi Quatro, Gary Glitter, Mud, Sweet e os mais sofisticados David Bowie, Roxy Music e Mott The Hoople. Mas o velho e bom distanciamento histórico nos permite ver e ouvir que o Slade não só foi um dos melhores grupos dos anos 1970, como também dos mais influentes. Basta prestar atenção e, como diz o próprio Slade, sentir o barulho: ouça “We’ll Bring The House Down” para ver de onde o Kiss tirou o “ê-ê-ê-ê, êêêê!” de “I Love It Loud”, e imagine como seriam as carreiras de Bon Jovi, David “Whitesnake” Coverdale e outros mestres da balada pesada se o Slade não houvesse gravado “Everyday”, “She Did It To Me”, “My Oh My”... Sem falar no Quiet Riot, cujos dois maiores hits foram justamente “Cum On Feel The Noize” e “Mama Weer All Crazee Now”, covers você já sabe de qual banda. E quem disse que o Oasis é um Beatles frustrado? É também um Slade frustrado, já que gravaram “Cum On Feel The Noize” e Noel Gallagher acaba de regravar “Merry Xmas Everybody” (hino natalino roqueiro que rivaliza com “Happy Xmas” de John Lennon). De fato, muito antes do Sonic Youth e outros se tornarem populares com o rótulo “noise”, o Slade já cantava “come on feel the noize” – com “z”, para soar ainda mais “errado”, informal, e barulhento

Por falar em Beatles, o Slade foi louvado como o Beatles dos anos 1970, por vários bons motivos: mesma formação instrumental (duas guitarras sem muito virtuosimo mas bem arranjadas, contrabaixo virtuosístico e bateria simples e segura), compunham quase todos seu próprio repertório e seus raros covers soavam tão pessoais que pareciam músicas próprias (como, por sinal, todo bom cover que se preze, na minha opinião) – dois exemplos são “Hear Me Calling” do Ten Years After (o próprio Alvin Lee agradeceu ao grupo pela pequena montanha em direitos autorais que a regravação no álbum Slade Alive! lhe rendeu) e “Move Over” de Janis Joplin (pelo menos em minha opinião ficou bem melhor com o Slade, já que a Full Tilt Boogie Band tocava muito bem, mas com pouca garra). Mais exatamente, o Slade lembra não os Beatles comportadinhos de “I Want To Hold Your Hand” e “Yesterday”, mas os Beatles barulhentos e descompromissados do “Álbum Branco” (disco que voltará muitas vezes à nossa conversa). O próprio John Lennon era fã do grupo, não obstante o que a imprensa brasílica noticiou na época. Em seu primeiro LP (ainda com o nome Ambrose Slade), o Slade regravou “Martha My Dear”, do (olha ele aí) “Álbum Branco”. E, tal como Lennon, Jim Lea, contrabaixista, principal compositor, líder e arranjador do Slade, é mestre do plágio inspirado. Um exemplo é “Take Me Bak’Ome”, um dos primeiros hits do Slade, admitido pelo próprio Jim Lea: “Afanei um trecho ou dois de ‘Everybody’s Got Something To Hide’ [do “Álbum Branco”, estão vendo só] e ninguém percebeu”. (Por sinal, nenhum artista está imune a semelhanças e “coincidências; ainda no caso do Slade, compare, por exemplo, “Everyday” e “Disney Girls (1957)”, sucesso dos Beach Boys, e “I’m Mee, I’m Now And That’s Orl” – lado-B de “Cum On” – com “The Spider And The Fly” - outro ilustre lado-B, de “Satisfaction” dos Stones - ou “My Oh My” com (escolha) “Theme For Young Lovers” dos Shadows ou o tema do seriado de TV Laramie.)

QUANDO EU TÔ DANÇANDO EU NÃO TÔ BRIGANDO

Duas das grandes distinções e qualidades do Slade são o senso de humor e a ausência de pretensões que não fossem as de fazer dançar e divertir a si mesmos e aos fãs. Interessante é lembrar, quase trinta anos depois, Carlos “Pop” Gouvêa esculhambando o Slade na Folha de S. Paulo por sua “musicalidade vazia” e “letras que não dizem nada”, enquanto elogiava o Made In Brazil pelos mesmos motivos... Afinal, o próprio rock and roll remete à frase do cineasta Samuel Goldwyn, que me permito atualizar: quem quiser passar alguma mensagem, dirija-se à Empresa de Correios e Telégrafos ou mande um e-mail! Outro jornalista (cujo nome me escapa no momento), a meu ver, resumiu melhor o Slade: “Sua música é nada imaginativa, formulaica e monótona, e nos ensina coisa alguma. Mas como soa bem! Batida pesada, ritmo pulsante, letras falando de beber, dançar ou absolutamente nada.” E durante a primeira metade dos anos 1970 o Slade fez questão de ser antiprogressivo e o menos “cabeça” possível até nos títulos de suas músicas, quase todos escritos com uma incorreção gramatical que faz Carla Perez parecer Zélia Gattai e de que Adoniran Barbosa se orgulharia: “Skweeze Me Pleeze Me”, “Gudbuy T’Jane”, “Cuz I Luv You”...

Audições mais atentas mostram que o Slade ia além do mero rock and roll; como bons ingleses, também são fãs de music-hall e jazz tradicional, como denotam “Cuz I Luv You”, “In For A Penny” e a mais obscura “Kill’em At The Hot Club Tonite”. Fãs dos Kinks notam ter o Slade muita influência deles, pela mistura peso+melodia e comunicação com a platéia (mas, ao que sabemos, o único encontro entre ambos os grupos resultou em Ray Davies despejando cerveja em cima de Noddy Holder, com intenções não muito amigáveis). E em 1974 um jornalista inglês disse, de brincadeira, que só faltava sair um disco chamado Symphonic Slade. Imagino qual terá sido ou seria sua reação, quase trinta anos depois, ao ouvir Julian Kershaw, grande autor de trilhas de filmes, e seu arranjo para quarteto de cordas de “Merry Xmas Everybody”...

Como grupo, o Slade também é (ou pelo menos era) imbatível, o típico resultado-maior-que-a-soma-das-partes. O vocalista e guitarrista-base Noddy Holder (nascido em 1946) chamava atenção não só por sua voz, uma das melhores e mais potentes de todo o rock, mas também por sua presença de palco e domínio da platéia – “uma versão mais amigável do Diabo da Tasmânia”, segundo o jornalista Ken Sharp. Suas principais influências como cantor são Al Jolson (um dos maiores cantores pop pré-rock) e Little Richard (o maior de todos os gritadores do rock). Dave Hill (nascido em 1946), guitarra-solo, compensa o fato de ser nanico usando roupas e guitarras as mais gritantes (em ambos os sentidos, no caso do instrumento). Jim Lea (nascido em 1949), virtuose do contrabaixo e ainda versátil o bastante no violino e teclados, tem talento especial para melodias simples e grudentas – como resumiu um crítico inglês, “o Slade não tenta compor sucessos, sabe que os está compondo”. E vejam só, crianças, como as aparências enganam: o baterista Don Powell (nascido em 1946), geralmente o membro do Slade menos lembrado, foi nada menos que o responsável pela formação e união do grupo. Mais um detalhe: a exemplo dos Beatles com Liverpool e os Animals com Newcastle, foi o Slade que colocou no mapa do rock a grande cidadezinha de Wolverhampton, famosa por suas indústrias de engenharia e metalurgia (bem apropriada, portanto, para um grupo de metal) e que hoje tem cerca de 300 mil habitantes.

VENTOS BRAVIOS ESTÃO SOPRANDO

O Slade é um caso raro (ao lado do Creedence, Elton John, David Bowie e outros) de artista que batalhou anos até chegar ao estrelato, mas mantém o pique e a jovialidade, quando finalmente estoura, e todo mundo pensa que é “novo talento”. O Slade nasceu da confluência de duas bandas, Steve Brett & The Mavericks (da qual veio Noddy Holder) e The Vendors (onde tocavam Dave Hill e Don Powell), que surgiram em 1964, gravaram alguns compactos ou demos. Em 1965 Dave Hill e Don Powell formam outra banda, The ‘N Betweens, que grava algumas faixas, produzidas por Bobby Graham (um dos maiores bateristas de estúdio da Inglaterra, aquele que tocou nas primeiras gravações dos Kinks e em muitas do Dave Clark Five) mas que , veja só, lançadas apenas na França); no ano seguinte os ‘N Betweens mudam de formação e se tornam um quarteto, com Jim Lea e Noddy Holder – isso mesmo, o Slade com outro nome, e que grava mais um compacto, um cover de “You Better Run” dos Rascals – desta vez o produtor é o estadunidense malucão Kim Fowley (cujo currículo inclui Gene Vincent, Soft Machine, John Cale, as Runaways e muitos outros). Todas estas gravações pré-Slade foram reunidas, e ainda por cima com faixas inéditas, num CD indispensável para pessoas fãs e pesquisadoras, The Genesis Of Slade, lançado em 1996.

Em 1969, após uma infinidade de shows, os ‘N Betweens chamam a atenção da gravadora Philips, que os contrata e sugere que mudem de nome. Uma das sugestões é Nicky Nacky Noo (que tal?), mas logo surge uma melhor: Ambrose Slade, inspirada na secretária de um alto funcionário da Philips, a qual tem o costume de dar nomes a tudo: Ambrose era sua bolsa e Slade seus sapatos. Com tudo em cima, o Ambrose Slade grava o primeiro LP, Beginnings, que não chega a ver a cara das paradas, mas chama atenção para o grupo – especialmente Chas Chandler, ex-contrabaixista dos Animals e um dos melhores empresários de todos os tempos, que poucos anos antes guindara Jimi Hendrix ao megaestrelato. Ao ver um show do Ambrose Slade, Chandler resolve se tornar seu empresário e produtor; sendo grandes admiradores de Chandler, os rapazes sobem pelas paredes. Uma das primeiras providências de Chandler é encurtar o nome do grupo, para Slade. E um de seus raros erros como empresário – na verdade idéia de Keith Altman, assessor de imprensa do Slade – é promover o grupo como “skinhead”, cabeças raspadas e tudo – só que, ontem como hoje, os skinheads de verdade (não contando os mais radicais, adeptos da violência) se distinguem por serem fãs de música jamaicana, e a experiência dura pouco, para alívio de todos, como resume Jim Lea ao recordar o primeiro show do grupo como “skinheads” de butique: “Havia um espelho na outra ponta do salão e podíamos nos ver enquanto tocávamos. Parecíamos horrendos.”

DESCE E ARRASA!

Em 1970 Chandler transfere o Slade da Philips para a Polydor, o que na prática dá no mesmo, já que ambas as gravadoras pertencem à PolyGram, mas a Polydor anda mais presente nas paradas de sucesso. Neste ano sai Play It Loud, primeiro LP do grupo com o nome Slade, que chama atenção por boas músicas do próprio grupo (“Know Who You Are”, “Pouk Hill”) e regravações aparentemente díspares, mas que se revelam adequadas: “The Shape Of Things To Come” (dos norte-americanos Max Frost & The Troopers, composição da dupla Mann & Weil e sucesso na trilha do filme Wild In The Streets, em português O Grito Da Liberdade) e “Could I”, veja só, do Bread (banda tida como muita gente boa como apenas “melosa”). Em 1971, o Slade finalmente conquista as paradas (pois é, nem aqui escapamos dos aniversários redondos, 30 anos de sucesso – e, para completar, dez anos dos primeiros CDs do Slade!), com “Get Down And Get With It”, de Bobby Marchan, sucesso de Little Richard e que se torna uma das mais emblemáticas do repertório do grupo. Incentivados por Chandler a dependerem cada vez menos de músicas alheias, começam a se aventurar compondo; logo descobrem que Jim Lea e Noddy Holder são os mais fluentes e inspirados para compor, nascendo assim a dupla Lea & Holder, os legítimos Lennon & McCartney dos anos 1970. (Tudo bem, não pretendo brigar com quem preferir Page & Plant, os Lennon & McCartney do heavy, vá lá que seja.) Então o Slade emplaca hit atrás de hit, e inclusive os LPs fazem sucesso: Slade Alive! (1972), um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos; Slayed? (1973), com “Gudbuy T’Jane” e “Mama Weer All Crazee Now” (curiosidade: compare “I Don’ Mind” com a homônima do posterior Wonderworld do Uriah Heep); Old, New, Borrowed And Blue (1974), onde se destacam “My Friend Stan” e a balada “Everyday”.

Tamanha é a boa sorte do Slade neste período que nem mesmo um grave acidente automobilístico estraga a festa. Em 1973 o carro de Don Powell esborracha-se contra um muro; sua namorada, Angela Morris, morre, e ele escapa da morte por pouco, mas perde olfato e paladar e passa a ter lapsos de memória permanentes. Seus colegas de grupo provam ser realmente amigos leais, dando-lhe a maior força. Os fãs também ajudam muito com votos de restabelecimento; um deles, percebendo que o carro de Powell derrubou um muro defronte à sua escola, escreve: “Da próxima vez, vê se derruba a escola, não só o muro!”

Em 1974 o Slade foi convidado para estrelar um filme; o resultado foi Flame, espécie de autobiografia disfarçada, com o grupo no papel de outro grupo, chamado justamente Flame; o filme (não lançado comercialmente no Brasil) tornou-se objeto de culto e mais tarde foi reconhecido como bom filme de rock. Enquanto isso, o disco da trilha sonora, Slade In Flame (1974), manteve o grupo nas paradas, puxado pela balada folkosa “Far Far Away” e a “progressiva” “How Does It Feel” – resumida por um fã como “o ‘Álbum Branco’ [não falei?] numa faixa só, com metais e tudo”. (A edição ianque do LP tirou duas faixas e incluiu outras duas, sucessos na Inglaterra em compactos, “Bangin’ Man” e “Thanks For The Memory”.)

VEJAM O QUE VOCÊS FIZERAM

Infelizmente, o Slade, a exemplo de outros artistas ingleses como T. Rex, Sweet e Oasis, não conseguiu repetir nos EUA – o maior e mais poderoso mercado fonográfico do mundo – o mesmo sucesso que emplacou em casa e em outros países. Embora a crítica ianque elogiasse o Slade, o grande público não o recebeu tão bem, talvez por considerá-lo britânico demais (inclusive, em algumas cidades dos EUA o filme Flame teve de ser legendado!). De modo que o Slade desperdiçou energia e atenção com um público que não o queria (e que talvez nem merecesse coisa melhor), chegando a fixar residência nos EUA e conseqüentemente descuidando da velha e boa Inglaterra. De modo que em casa os discos começaram a vender menos, o que é uma pena, pois ainda têm seus bons momentos. Vejamos:

Nodoby’s Fools (1976), gravado quase todo nos EUA e com influências locais, inclusive vocais femininos e um pouco de reggae e r&b (à moda do Slade, é claro) inclui dois hits, a balada lennonesca “In For A Penny” e “Let’s Call It Quits”, imitação de “Play Something Sweet”, do mestre do r&b Allen Toussaint. Whatever Happened To Slade (1977) ironiza o sumiço do grupo das paradas já a partir do título (“o que quer que tenha acontecido com o Slade”), e apenas uma faixa fez sucesso, “Gypsy Road Hog”. Slade Alive Vol. 2 (1978) repetiu a fórmula do primeiro volume, mas não o sucesso. Return To Base (1978), apesar de incluir muitas boas faixas (“Wheels Ain’t Coming Down”, “I’m A Rocker”), vende quase nada.

A esta altura, o Slade está quase totalmente desanimado, e só não está na pior graças a muitos shows em barzinhos e aos direitos autorais de suas gravações mais antigas, que ainda vendem muito bem. Até que, em 1980, o Slade é convidado para tocar (preencher uma vaga, na verdade) no Reading Rock Festival. A princípio, o grupo recusa, mas Chas Chandler (em uma de suas últimas atuações como empresário do grupo, antes de deixar o posto amigavelmente) os convence com um excelente argumento: “Se o grupo tiver de acabar, que seja em grande estilo”. Resultado: esta edição do Reading passou à História como aquela em que o Slade roubou o show, sendo a única atração do evento não recebida com latadas ou garrafadas. Então o grupo cria alma nova, inclusive nas paradas de sucesso.

VAMOS BOTAR A CASA ABAIXO

No LP We’ll Bring The House Down (1981, que inclui algumas gravações de Return To Base) a faixa-título é o grande destaque; o álbum seguinte, Till Def Do Us Part (1981, mais conhecido no Brasil não pelo trocadilho do título, mas sim pela capa, o “Slade da orelha”), também vende bem, puxado pela faixa “Lock Up Your Daughters”. 1982 traz o terceiro (e muito bom) disco ao vivo, Slade On Stage; em 1983 é a vez de The Amazing Kamikaze Syndrome (retitulado nos EUA com o nome de outra faixa, Keep Your Hands Off My Power Supply), que traz outros megasucessos, “My Oh My” e “Run Runaway” (que se torna grande sucesso até nos EUA e foi usada por nosso amigo Leopoldo Rey como tema de abertura de seu programa Momento Do Rock na FM 97, algum aí se lembra?). Rogues Gallery (1985) é quase uma coletânea de sucessos: “All Join Hands”, “Little Sheila”, “Seven Year Bitch”, “Mysterious Myster Jones”. E quem inspirou o título do disco seguinte, You Boys Make Big Noize (“vocês, rapazes, fazem barulhão”, 1987), foi Betty, a moça (ou senhora) que servia o chá no estúdio Wessex, onde o Slade gravou o disco, cujo hit foi “Still The Same” (não é a mesma do Bob Seger, mas uma baladona igualmente boa).

Em 1989 o Slade passa por mudanças. Dave Hill grava um disco-solo; Don Powell assume uma loja de antigüidades; Jim Lea passa a produzir discos de bandas heavy; Noddy se torna apresentador numa emissora de rádio em Manchester e da emissora de TV Granada (lamentável desperdício de uma das melhores vozes do rock, segundo alguns fãs), começa a gravar muitos jingles e sai amigavelmente do grupo. “Eu sinto falta das duas horas no palco, mas não do resto – as viagens, quartos de hotel, camarins, ficar enfiado em aeroportos. É preciso lembrar que o dia tem 22 horas além das duas no palco”, disse Noddy à revista Record Collector. “Após 25 anos com os mesmos caras, eu não via para onde mais poderíamos ir, não tínhamos mais assunto, mais músicas para compor que soassem novas e frescas. Os outros não perceberam isso, mas eu percebi.” Jim Lea sai praticamente em seguida: “Sem Noddy é forçar a barra, é ridículo”, justifica.

Mas, mesmo com mudanças, a vida continua. Dave Hill e Don Powell seguem em frente como Slade II, incluindo novo vocalista (Steve Whalley); em 1993 lançam um disco, Emergency! (saiu aqui pelo selo Spider), e continuam por aí fazendo muitos shows e gravando de quando em vez.

E a troca de milênio também traz novidades. Jim Lea lança seu primeiro compacto-solo, “I’ll Be John, You Be Yoko” (e viva o “Álbum Branco”!). Sai Who’s Crazee Now?, autobiografia de Noddy Holder. Temos também o primeiro disco-tributo, Slade Remade, com participações de Chris Farlowe e (esta é para pensar) Rick Wakeman.

Para terminar, uma bela frase, ou melhor, um conselho de Noddy para aspirantes a músicos: “Só prossigam na carreira se gostarem dela cem por cento... e mantenham o senso de humor, porque irão encontrar muita tristeza no caminho!”

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