Friday, July 29, 2016

OS DONOS DAS VOZES: UMA RARIDADE PROMOCIONAL DA MÚSICA BRASILEIRA

Se você é grande fã de artistas como Clara Nunes, Altemar Dutra ou Sá, Rodrix & Guarabyra, você tem tudo o que essas pessoas gravaram? Tudo mesmo? Vejamos...

No começo dos anos 1970 a gravadora brasileira EMI-Odeon seguiu o exemplo de sua prima estadunidense Capítol nessa época de produzir spots promocionais para as rádios de alguns de seus lançamentos - só que estes spots brasileiros de 1972 trazem mensagens pessoais exclusivas dos próprios artistas, a saber: Altemar Dutra, Elza Soares, Milton Nascimento, Tony Nunes. Clara Nunes (nenhum parentesco), o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, Tito Madi e Dori Caymmi.


Conheci este disquinho em minha estreia no rádio, como programador e operador na Rádio Alvorada de Lins, em 1977; eu dividi com alguns colegas da Escola de Engenharia de Lins a programação do Música Popular Variada da emissora, que gentilmente nos cedeu o espaço. A discoteca da rádio era muito boa, e ao descobrimos este compacto alguém da turma teve a ideia de usar a faixa de Milton Nascimento para promover seu novo LP de então, Milton, o que tem "Raça" e versões em inglês de "Cravo E Canela" e "Saídas E Bandeiras"; "Raça" até acabou entrando na programação normal da emissora..


E o segundo exemplar que vida na vida deste disco é o meu. Sim, o meeeeu, que encontrei na mais que recomendável loja paulistana Disco 7 no dia 27 de julho (27/7; até a data combinou com a loja) deste ano.

Sim, é um belo achado, mesmo que não essencial, para pessoas aficionadas e completistas, e pode ser ouvido aqui.

Wednesday, July 20, 2016

UM GRANDE ASSUNTO PEQUENININHO: PICOLINOS DA MÚSICA, RÀDIO E CIRCO NO BRASIL

"Quem procura acha", e quem procura uma coisa pode até achar várias. Pois bem, aqui vai um detalhe de minha pesquisa sobre circo e música brasileira que me rendeu também belas descobertas sobre a história do rádio no Brasil.

Nas minhas andanças encontrei referências a discos 78 RPM gravados por palhaços importantes como Eudu das Neves, Benjamin de Oliveira, Campos e Piolin. Ao deparar com um 78 creditado a Jayme Brito com uma "Turma do Picolino", julguei imediatamente tratar-se do palhaço Picolino, "al secolo" Nerino Avanzi (1885/1962), dono do memorável Circo Nerino (e pai do igualmente ilustre Roger Avanzi, o Picolino II), inclusive pelo título "A Los Toros" lembrar bordões espanholados, como "no me lo digas!", que Picolino adorava usar.


"Só que não", como dizem as pessoas jovens.

O próprio Roger Avanzi me disse que seu pai nada tem a ver com o Picolino desta gravação. Nem poderia ter também por outro motivo: o disco foi lançado em outubro de 1937 e este lado, segundo a Discografia Brasileira de 78 RPM, foi gravado no dia primeiro de julho do mesmo ano - exatamente no dia em que o Circo Nerino estava dando uma função boa demais da conta em Juiz de Fora, de acordo com o diário de bordo de Roger Avanzi (com muitas de suas informações reproduzidas no mais que recomendável livro Circo Nerino, escrito por Roger Avanzi com a emérita pesquisadora e produtora circense Verônica Tamaoki e lançado em 2004).

Foi o tipo da resposta que gerou novas perguntas. Quem seria então este outro Picolino? Mais uma cavocada me revelou quem ele não era: um artista negro desse nome que se revelou junto com o grande Henricão na mesma época. Nem tampouco tem a ver com "the piccolino", dança no estilo do yam, jitterbug, charleston e outras ancestrais do twist lançada (sem sucesso) no filme (de muito sucesso) Top Hat, de 1936, estrelado por Fred Astaire e Ginger Rogers e que no Brasil foi intitulado O Picolino.

Acabei descobrindo que o Picolino do disco acima refere-se ao Programa Picolino, apresentado pelo humorista Barbosa Jr. e transmitido pela Rádio Mayrink Veiga nos anos 1930 e pela Rádio Nacional na década seguinte. (Notem neste recorte do jornal A Noite de 12 de maio de 1942 a presença do mesmo Jayme Brito do disco acima.)



Pela notícia abaixo do jornal A Batalha, ouso dizer que o Programa Picolino, com uma hora de duração.  dedicado a música e humor sem abrir mão da espontaneidade, foi um Rádio Matraca antes do tempo. (E tenho fé em algum dia descobrir alguma gravação, mesmo que somente um trecho, desse programa.)



E desmenti uma afirmação sobre circo, mas confirmei outra. O Programa Picolino ajudou a revelar e divulgar artistas como os pianistas Dick Farney e José Maria de Abreu e o cantor romântico George Gomes.



George Gomes? Sim, você o conhece, mas com novos estilo e nome artístico que adotaria mais tarde: o grande palhaço-cantor Carequinha. (Este recorte é do jornal A Batalha e também de um dia 12 de maio, mas do ano de 1937. E agradeço ao acervo do grande e saudoso Leon Barg pelo selo do disco desta "Turma Do 'Picolino'".)

Tuesday, July 12, 2016

UM BANDO DE ZÉ PRETINHO CHEGOU ou VIXE, COMO TEM ZÉ PRETINHO NA PARAÍBA E NO BRASIL

Uma as primeiras coisas que se aprende ao estudar o circo brasileiro é que a comunicação de massa tem muita influência do circo; deste vieram muitos dos primeiros grandes astros do rádio e da televisão. Inevitavelmente, toda literatura ou tratado sobre a televisão brasileira fala do circo, e muita gente conheceu o circo na televisão – a definição de televisão como “circo eletrônico” resume tudo. E em minha pesquisa sobre música brasileira e circo descobri uma pequena filigrana em No Princípio Era o Som – A Minha Grande Novela, belo livro de memórias (Editora Madras, 1999) do grande diretor de televisão Régis Cardoso (1934/2005), que no começo da carreira exerceu também funções como músico, cenografista e até maquiador. Pois bem, assim lembra Régis Cardoso um detalhe de um seu trabalho com o diretor Oduvaldo Vianna, pai, no documentário Poeira De Estrelas (1948) que incluiu o grande violonista Antonio Rago e seu conjunto regional.
“Havia coisas estranhas, como maquiar de branco o pandeirista do Regional do Rago, Zé Pretinho. Naturalmente, ele ficava com cara de palhaço.”
Zé Pretinho? Na hora me lembrei daquele famoso personagem da MPB e da malandragem carioca dos anos 1930, que teve até uma briga com Noel Rosa (até hoje só vi uma foto dele, esta mesma, publicada no livro Noel Rosa, Uma Biografia.).
Mas este Zé Pretinho percussionista do conjunto de Antonio Rago é outro. E nenhum deles foi pioneiro no uso deste pseudônimo na MPB: há pelo menos um precursor, Zé Pretinho do Tucum, do qual até o momento apenas sei ter sido “o maior cantador e repentista do Piauí” e que em 1914 travou um desafio com Cego Aderaldo, desafio este lendário a ponto de inspirar um clássico da literatura de cordel, A peleja de Cego Aderaldo e Zé Pretinho, escrito por Firmino Teixeira do Amaral, e que pode ser lido e baixado em locais como este

Além deste arretado Zé Pretinho piauiense, no Nordeste há pelo menos mais dois Zé Pretinhos musicais. Um é o compositor e cavaquinhista Zé Pretinho da Bahia, nascido nos anos 1930 e que tem composições gravadas por ele mesmo e também Beth Carvalho, Noite Ilustrada e outros; há uma breve mas boa biografia aqui.


O outro é o líder da paraibana Banda Cabaçal do Mestre Zé Pretinho, formada m 1971 na cidade de Tavares e uma boa prova de que banda de pífanos não são exclusividade pernambucana. Mais detalhes aqui

E, sim, tem outra Banda do Zé Pretinho, aquela formada no Rio de Janeiro por Jorge Ben Jor e revelada no disco homônimo de 1978. Este LP é histórico por, além de sua qualidade e sucesso, ter sido o primeiro na gravadora Som Livre após muitos anos no selo Philips.


Todos esses Zés Pretinhos parecem ter tido inspiração no Zé Pretinho da umbanda, espécie de “malandro do bem”; se até pessoas entendidas em umbanda o confundem com o similar Zé Pelintra, não serei eu, com meu pouco estudo no assunto, a me arriscar a dizer bobagem e ter meu pé puxado à noite... E aqui vai um ponto de umbanda em homenagem a ele. Saravá! Zambá, Zambé, Zambi, Zambó, Zambu...